Ser espírita em Portugal

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fragmento de um painel de azulejos /CB 2005

ESTE TRABALHO É DESTINADO AOS PORTUGUESES QUE SE ENTREGAM A UM ESPIRITISMO TOTALMENTE CONFIGURADO NO BRASIL, SEM TEREM A MÍNIMA IDEIA DO ITINERÁRIO HISTÓRICO QUE A DOUTRINA ALI PERCORREU E QUAIS AS TRANSFORMAÇÕES PORQUE PASSOU.

A intenção deste trabalho é a de abrir janelas sobre esse fenómeno, dando prioridade às opiniões que em Portugal não têm sido ouvidas.
As estruturas federativas pretendem dar uma imagem de unanimidade pacífica e de concordâncias inexistentes. Quem perde é a mensagem dos Espíritos como nos foi legada por Allan Kardec, que a todos serve com nobreza e legitimidade.
As contradições desse processo, acarretam inconvenientes graves para a grande cultura espirita que esclarece as principais questões da vida e da morte, apontando-nos o caminho seguro para uma evolução sem limites.

Os espíritas brasileiros, muito embora sejam uma minoria fragmentada em várias tendências, representam um universo muito rico. Pode lá ir buscar-se o espiritismo que melhor nos sirva, mais aproximado ou mais afastado da mensagem de Allan Kardec.

O MEIO ESPÍRITA PORTUGUÊS DOS CENTROS FEDERADOS VIVE COMPLETAMENTE SOB TUTELA DA FEB – FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA,
pelo que tenho recomendado aos interessados que se aproximem da doutrina de forma cultural, pelos seus próprios meios – de preferência lendo e estudando o mais possível metodicamente toda a obra de Allan Kardec.

Nada perdem com isso, sendo muito fácil observar que nos centros espíritas em Portugal, a prática do diálogo aberto é nula, falam sempre os mesmos e dizem sempre o mesmo.
QUANTO AO ROUSTAINGUISMO OFICIAL E ESTATUTÁRIO DA FEB-Federação Espírita Brasileira, ninguém lhe falará nisso!…

ATENÇÂO, porque aqui vai divulgar-se amplamente o que muitos dos nossos bons amigos brasileiros – grandes e cultíssimos estudiosos da causa espírita – sabem e esclarecem a esse respeito num clima aberto de diálogo racional e anti-dogmático!…

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Hipólito Leão Denizard Rivail, fundador da doutrina científico-filosófica com objectivos morais, chamada espiritismo, termo por ele criado em 1857, no momento em que publicou o livro fundamental da doutrina dos Espíritos, isto é: “O Livro dos Espíritos” que assinou sob o pseudónimo de Allan Kardec.


O “roustainguismo” afinal existe ou não em Portugal?…

Esta é a dificuldade principal dado que o “roustainguismo” em Portugal não corre à superfície.
ESTÁ OCULTO DEBAIXO DAS PRÁTICAS QUE SE FORAM APODERANDO DE PRATICAMENTE TODAS AS CASAS ESPÍRITAS FEDERADAS.
Uma explicação completa deste tema é difícil de fazer exactamente por causa dessa ocultação enganosa.

Nenhum dirigente espírita em Portugal vos dirá que é adepto do roustainguismo e muito menos apresentará sequer o assunto. Um pouco envergonhadamente, quer a teoria quer a prática dessa escola de actuação e pensamento, lá vai passando na prática diária, sem timidez.
É NA PRATICA CONCRETA DE TODOS OS DIAS E DE TODAS AS ACTIVIDADES que essa tendência se exercita da forma mais evidente.

A desvalorização progressiva de obra de ALLAN KARDEC

Como é sabido de todas as pessoas que se dedicam ao estudo destes temas, a origem mais nítida e a consequência mais séria deste fenómeno é a SUBALTERNIZAÇÃO, A INDIFERENÇA E O EMPOBRECIMENTO DO ESTUDO ACTIVO DA OBRA DE ALLAN KARDEC.
Nunca ninguém fez uma estatística séria das pessoas “espíritas” que nunca leram os cinco livros principais que constituem o núcleo essencial da cultura espírita, e julgo até que uma grande maioria dos que se consideram espíritas nunca leram sequer, de modo atento e metódico, “O Livro dos Espíritos”.
Fazendo a pergunta às avessas, para não ser tão contundente, gostaria de saber, ainda que aproximadamente, qual a percentagem dos dirigentes espíritas mesmo, que ainda não teve tempo para ler e reflectir convenientemente sobre toda a obra de Kardec?!…
Donde, a aceitação sem critério das mil e uma penetrações esotéricas que fazem parte integrante do dia a dia das palestras dos centros espíritas em Portugal, com a integração de vocabulários completamente alheios à cultura espírita propriamente dita, QUE CONSTITUI UM SISTEMA CIENTÍFICO-FILOSÓFICO, com objetivos morais, ESTRUTURADO COM A MÁXIMA SERIEDADE na obra de ALLAN KARDEC, nos seus cinco livros principais e enriquecido e documentado largamente noutras obras de sua autoria, sem esquecer as seis mil páginas publicadas durante onze anos na REVISTA ESPÍRITA.
Os grupos esotéricos que proliferam por todo o mundo, já para não falar nas igrejas organizadas e poderosíssimas do cristianismo dogmático, cujo vocabulário é cada vez mais abundantemente utilizado pelos palestrantes e dirigentes espíritas, não tem perante o espiritismo a mesma atitude permissiva e laxista.
Experimentem os espíritas que me lêem, se o não fizeram já, dialogar com católicos, evangélicos ou qualquer membro dos inúmeros grupos espiritualistas, frequentemente muito mais fortes e bem organizados que o desarticulado meio espírita, e saberão com desconforto e desagrado do que estou a falar, concluindo pelo seu explícito anti-espiritismo.
A respeito de algumas destas organizações religiosas, poderosíssimas e globalmente influentes, lancemos quanto mais não seja um breve olhar à História da Humanidade, observemos as abomináveis consequências da sua atitude perante povos e continentes inteiros, e isto inclui de forma evidentemente clara toda a América Latina!…


•    Um dos sintomas mais claros da invasão silenciosa da influência roustainguista nos meios espíritas, é a prática constante da CRISTOLATRIA, com laivos crescentes de DOGMATISMO, em tudo paralelos ao que se verificou, de há muitos séculos, com as doutrinas dogmáticasbaseadas navisão distorcida dos ensinamentos de JESUS DE NAZARÉ que nada tem a ver com Jesus, o Cristo (o “ungido”, ou filho unigénito de Deus!…).

•    A Cristolatria deriva directamente das concepções da sacralização de Jesus, ao qual se fazem as orações nos centros espíritas, no princípio, no meio e no fim das sessões e palestras.

•    O espiritismo é monoteísta e baseia-se na existência de uma inteligência suprema criadora de todas as coisas, a que chamamos DEUS. A chamada santíssima trindade foi inventada há mil e setecentos anos pelas igrejas dogmáticas, seguindo interesses políticos bem caracterizados e nada religiosos, que desvalorizaram Jesus de Nazaré e os seus ensinamentos. Até lhe trocaram o nome passando a chamar-lhe CRISTO, adjectivo que não é nome, mas que serviu para a sua sacralização e consequente instrumentalização político-institucional.

Além disso observa-se nos centros federados:

•    a prática enraizada de ritualismos vários, como a “água fluidificada” o “passe padronizado”, etc. – coisas ausentes do ensino dos Espíritos, longe da pureza inicial do passe pela imposição das mãos, como fez Jesus;

•    o formalismo da igreja confidencial, esotérica e ocultista com catecismo, clero informalmente muito bem organizado (a falta de diálogo impera e limita o conhecimento da cultura espírita).

• Nos centros espíritas a palavra é reservada apenas aos concordantes incondicionais, aos dirigentes da casa, e aos “convidados especiais”, muitos deles brasileiros;

•  Na aceitação vulgarizada de dados culturais exóticos que nada têm a ver com o espiritismo; os orientalismos e sincretismos de vária ordem, de origem espiritualista, teosófica e esotérica etc. donde a grande variedade de termos esquisitos alheios à cultura espírita;

•    e em muitas atitudes interiores que não enganam porque têm a marca influente de quem as criou e desenvolveu, sem que tenham a ver – nem muito nem pouco – com essa outra cultura a que podem chamar os que a amam e respeitam: o espiritismo.

Caros espíritas portugueses,

O estudo da doutrina espírita pode perfeitamente fazer-se de forma individual e independente, de acordo com a sensibilidade de cada um.
O autor deste trabalho tem sido sempre muito interessado a respeito do espiritismo, que tem estudado de forma independente, na versão racional e aberta, científico-filosófica e com profundos objectivos morais, tal como foi organizada em meados do século XIX por Hippolyte Léon Denizard Rivail, aliás Allan Kardec.
Na internet não faltam elementos para estudar o espiritismo da vertente que mais nos agradar e para os interessados haverá sempre um amigo com quem dialogar, estando o autor deste trabalho permanentemente disponível para estabelecer o diálogo, registar ideias, sugestões ou críticas e responder às questões que lhe forem remetidas, pelos comentários ou pelo e.mail desta página: espiritismo.cultura@gmail.com

É fundamental que se entenda que os livros genuínos da cultura espírita, não são só para ler, mas para estudar com toda a atenção.

Quanto as esta publicação só ganhará a devida expressão com a necessária continuidade e com a participação dos visitantes. Para esse efeito solicito o seguimento e a leitura atenta dos visitantes deespírito aberto, dialogante e anti-dogmático.

Os textos que aqui vão aparecer reúnem estudos de investigadores espíritas brasileiros DO MÁXIMO VALOR que têm, ao longo de muitos anos, feito a crítica corajosa  de um estado de coisas muito complicado de desmontar, repleto de ocultações sem nome e distorções lamentáveis.
O objectivo é defender uma cultura essencial para viver a vida com serenidade de consciência, confiança e optimismo.
O Espiritismo é uma  visão essencialmente positiva e optimista das origens e do destino da humanidade, no contexto da mais surpreendente realidade, que nos é oferecida a todo o instante no maravilhoso Universo que nos rodeia, fruto sem limites nem fronteiras do magnânimo e  imperturbável pensamento de Deus.

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JOSÉ PASSINI, crítica de “Os Quatro Evangelhos” de J.B. Roustaing

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José Passini (foto) é natural de Nova Itapirema, interior de São Paulo, mas reside há muito tempo na cidade mineira de Juiz de Fora. Espírita desde a infância, Passini considera a Doutrina codificada por Kardec como uma bússola em sua vida, assim como ele mesmo diz. Segundo ele, o Espiritismo pode ser comparado a um farol que ilumina seus caminhos. “Ele me faz assumir, cada vez mais, a minha condição de espírito imortal, temporariamente encarnado, isto é, consciencializando-me da minha cidadania espiritual.” Esperantista conhecido internacionalmente, Passini foi reitor da Universidade Federal de Juiz de Fora. Doutor em Linguística, seu extenso currículo revela a ocupação de diversos cargos em casas espíritas.

CRÍTICA LITERÁRIA

Os Quatro Evangelhos

 

Autor: Diversos Espíritos / J.B. Roustaing
Médium: Emile Collignon
Editora: Federação Espírita Brasileira
Número de Páginas: (4 volumes)
Análise de José Passini


O Espiritismo, na sua condição de Cristianismo redivivo, não poderia deixar de receber os ataques das forças contrárias ao esclarecimento e libertação do espírito humano. Embora pareça ironia, o volume e a intensidade dos ataques constituem um verdadeiro atestado da legitimidade do Consolador.

A primeira, e talvez a mais forte das investidas, foi a publicação da obra de J. B. Roustaing, conhecida, em língua portuguesa como “Os Quatro Evangelhos”.

Na obra “Brasil Coração do Mundo Pátria do Evangelho”, Roustaing é citado como pertencente à equipe de Kardec. Há aqueles que contestam a autenticidade de tal afirmativa. Entretanto, sabe-se que todo missionário que vem à Terra traz consigo uma equipe, constituída de Espíritos, trabalhadores de boa vontade, mas sujeitos a falhas. Zamenhof veio à Terra com um grupo de Espíritos, para a implantação do Esperanto. Dentro dessa equipe, houve um Espírito que falhou, traindo mesmo o grande Missionário, a ponto de ser chamado Judas por alguns biógrafos exaltados.
E Roustaing, embora tenha reencarnado com tarefa definida junto à obra de Kardec, desejou produzir obra própria, tornando-se presa fácil de fascinação. Esse não foi o primeiro, nem o último caso na Humanidade da falência de um Espírito pertencente a um grupo de trabalho. Judas, da equipe de Jesus, falhou redondamente.

Os quatro volumes de “Os Quatro Evangelhos” de J.B. Roustaing  constituem obra fantasiosa, repetitiva, que pretendeu dar nova versão à tese da virgindade de Maria, através de uma pseudo-gravidez, que teria culminado no aparecimento de um bébé fluídico, surgido de um parto fictício, de uma lactação aparente, de um desenvolvimento físico falso e de uma desencarnação enganosa.

Entretanto, não é a tese do corpo fluídico o ponto mais grave da obra. Há afirmativas que contrariam frontalmente as bases doutrinárias do Espiritismo. Vejamos algumas, dentre muitas:

Evolução do Espírito:

Com Kardec, aprende-se que o princípio inteligente percorre, durante milénios incontáveis, as trilhas da evolução, antes de atingir o estágio de humanidade. Aprende-se que a consciência moral que caracteriza o ser humano, libertando-o gradualmente do jugo dos instintos, desabrocha lentamente, revelando a perfeição imanente no Ser:

Pergunta 607 a, de “O Livro dos Espíritos” :

– Já dissemos que tudo se encadeia na natureza e tende para a unidade. É nesses seres, que estais longe de conhecer inteiramente, que o princípio inteligente se elabora, se individualiza pouco a pouco, e se prepara para a vida, como dissemos.
É, de certa maneira, um trabalho preparatório como o da germinação, a seguir ao qual o princípio inteligente sofre uma transformação e se torna Espírito. É então que começa para ele o período de humanidade, e com este a consciência do seu futuro, a distinção do bem e do mal e a responsabilidade dos seus atos. Como depois do período da infância vem o da adolescência, depois a juventude, e por fim a idade madura. Aliás, nada há nessa origem que deva humilhar o homem.
Os grandes génios sentem-se humilhados por terem sido fetos informes no ventre materno? Se alguma coisa deve humilhá-los é a sua inferioridade perante Deus e sua impotência para sondar a profundeza dos seus desígnios e a sabedoria das leis que regulam a harmonia do Universo.
Reconhecei a grandeza de Deus nessa admirável harmonia que faz com que tudo seja solidário na natureza. Crer que Deus pudesse ter feito qualquer coisa sem objetivo e criar seres inteligentes sem futuro, seria blasfemar contra a sua bondade que se estende sobre todas as suas criaturas.

Segundo as mensagens registadas por Roustaing, dar-se-ia uma transformação do instinto em inteligência – num determinado momento – levada a efeito por agentes exteriores e não através do próprio processo evolutivo, o que faz pensar numa espécie de fim de curso ou licenciatura espiritual.
Interessante notar, nesse caso, que o Espírito, depois de todas as aquisições individuais retorne ao “todo universal”, onde, certamente, perderia a sua individualidade. Além disso, como teria, um Espírito recém-saído da animalidade ter um perispírito tão subtil a ponto de quase ser invisível aos Espíritos Superiores?

No 1º volume da obra de Roustaing, na página 308 pode ler-se:

Como é que, chegado ao período de preparação para entrar na humanidade, na espiritualidade consciente, o Espírito passa desse estado misto, que o separa do animal e o prepara para a vida espiritual, ao estado de Espírito formado, isto é, de individualidade inteligente, livre e responsável?
“É nesse momento que se prepara a transformação do instinto em inteligência consciente. Suficientemente desenvolvido no estado animal, o Espírito é, de certo modo, restituído ao todo universal, mas em condições especiais é conduzido aos mundos ad hoc, às regiões preparativas, pois que lhe cumpre achar o meio onde elaboram os princípios constitutivos do perispírito.
(…) Aí perde a consciência do seu ser, porquanto a influência da matéria tem que se anular no período da estagnação, e cai num estado a que chamaremos, para que nos possais compreender, letargia.
Durante esse período, o perispírito, destinado a receber o princípio espiritual, se desenvolve, se constitui ao derredor daquela centelha de verdadeira vida. Toma a princípio uma forma indistinta, depois se aperfeiçoa gradualmente como o gérmen no seio materno e passa por todas as fases do desenvolvimento. Quando o invólucro está pronto para contê-lo, o Espírito sai do torpor em que jazia e solta o seu primeiro brado de admiração. Nesse ponto, o perispírito é completamente fluídico, mesmo para nós. Tão pálida é a chama que ele encerra, a essência espiritual da vida, que os nossos sentidos, embora subtilíssimos, dificilmente a distinguem.” : (1º vol., pág. 308).


Segundo a mensagem de Kardec, os Espíritos ensinam que o Espírito emerge lentamente da animalidade, das necessidades materiais, através de sucessivas encarnações, que se constituem em oportunidades absolutamente necessárias ao progresso do Espírito.

O Livro dos Espíritos, pergunta 609:
Tendo entrado no período da humanidade, o Espírito conserva os traços do que havia sido precedentemente, isto é, do estado em que se encontrava no período anterior à humanidade?

– Isso depende da distância que separa os dois períodos e do progresso realizado. Durante algumas gerações pode conservar um reflexo mais ou menos pronunciado do estado primitivo, porque na natureza nada se faz por transição brusca; há sempre elos que ligam as extremidades da cadeia dos seres e dos acontecimentos.
Mas esses vestígios apagam-se com o desenvolvimento do livre arbítrio. Os primeiros progressos realizam-se lentamente, porque não são ainda apoiados pela vontade. Seguem depois uma progressão mais rápida à medida que o Espírito adquire consciência mais perfeita de si mesmo.

Os Espíritos, respondendo a Roustaing, afirmam que o Espírito só volta à vida material por castigo. Se só é humanizado após a primeira falta, depreende-se que a população da Terra é constituída de Espíritos faltosos: (…)

No 1º volume da obra de Roustaing, na página 317 pode lêr-se:
“…para o Espírito formado, que já tem inteligência independente, consciência de suas faculdades, consciência e liberdade dos seus atos, livre-arbítrio e que se encontra no estado de inocência e ignorância, a encarnação, primeiro, em terras primitivas, depois, nos mundos inferiores e superiores, até que haja atingido a perfeição, é uma necessidade e não um castigo?

A encarnação humana não é uma necessidade, é um castigo, já o dissemos. E o castigo não pode preceder a culpa. O Espírito não é humanizado, também já o explicamos, antes que a primeira falta o tenha sujeitado à encarnação humana. Só então ele é preparado, como igualmente já o mostramos, para lhe sofrer as consequências.”


Em Kardec, aprende-se que o progresso do Espírito é irreversível, o que é racional, pois se não houvesse a irreversibilidade do progresso espiritual não haveria segurança nem estabilidade no Universo.

“O Livro dos Espíritos”, pergunta nº 118:
Os Espíritos podem degenerar?
“Não. À medida que avançam, compreendem o que os afastava da perfeição. Quando o Espírito conclui uma prova, adquiriu conhecimento e já não o perde. Pode estacionar, mas não recua no seu aperfeiçoamento.”

Roustaing admite possa um Espírito que já desempenhou funções elevadas no Mundo Espiritual ser tomado pela inveja, pelo orgulho, etc., o que evidencia uma nova versão para a “queda dos anjos”, conforme a teologia Católica Romana e, também, a Protestante.

No 1º volume da obra de Roustaing, na página 311 pode lêr-se:

“…Já tendo grande poder sobre as regiões inferiores, cujo governo aprenderam a exercer, no sentido de que, sempre sob as vistas dos Espíritos prepostos à missão de educá-los e sob a do protetor especial do planeta de que se trate, aprendem a dirigir a revolução das estações, a regular a fertilidade do solo, a guiar os encarnados, influenciando-os ocultamente, muitos acreditam que só ao merecimento próprio devem o que podem e, desprezando todos os conselhos, caem. É a queda pelo orgulho.

Outros, por nem sempre compreenderam a ação poderosa de Deus, não admitem haja uma hierarquia espiritual e acusam de injustiça aquele que os criou, porquanto é Deus quem cria, não o esqueçais. Esses os que caem por inveja. Até o ateísmo – por mais impossível que pareça – até o ateísmo se manifesta naqueles pobres cegos colocados no centro mesmo da luz.
(…) Nesse caso, sobretudo nesse caso, mais severo é o castigo. É um dos casos de primitiva encarnação humana. Preciso se torna que os culpados sintam, no seu interesse, o peso da mão cuja existência não quiseram reconhecer. Qualquer que seja a causa da queda, orgulho, inveja ou ateísmo, os que caem, tornando-se, por isso, Espíritos de trevas, são precipitados nos tenebrosos lugares de encarnação humana, conforme o grau de culpabilidade, nas condições impostas pela necessidade de expiar e progredir.” (1º vol., pág. 311)


Kardec obtém dos Espíritos Superiores resposta que deixa muito claro que o Espírito que atingiu a humanização não retorna jamais às formas animais, o que contraria frontalmente a teoria da Metempsicose,

“O Livro dos Espíritos”, pergunta 612:

Poderia encarnar num animal o Espírito que animou o corpo de um homem?
“Isso seria retrogradar e o Espírito não retrograda. O rio não remonta à sua nascente.”


Em Roustaing, vê-se que, além de admitir a Metempsicose, afirmam seus interlocutores possa um Espírito voltar à Terra, ou a outros mundos, animando corpos primitivíssimos, como larvas!

Haveis dito que os Espíritos destinados a ser humanizados, por terem errado muito gravemente, são lançados em terras primitivas, virgens ainda do aparecimento do homem, do reino humano, mas preparadas e prontas para essas encarnações e que aí encarnam em substâncias humanas, às quais não se pode dar propriamente o nome de corpos, nas condições de macho e fêmea, aptos para a procriação e para a reprodução. Quais as condições dessas substâncias humanas?

No 1º volume da obra de Roustaing, na página 312/313 pode lêr-se:
“São corpos ainda rudimentares. O homem aporta a essas terras no estado de esboço, como tudo que se forma nas terras primitivas. O macho e a fêmea não são nem desenvolvidos, nem fortes, nem inteligentes. Mal se arrastando nos seus grosseiros invólucros, vivem, como os animais, do que encontram no solo e lhes convenha. As árvores e o terreno produzem abundantemente para a nutrição de cada espécie. Os animais carnívoros não os caçam. A providência do Senhor vela pela conservação de todos. Seus únicos instintos são os da alimentação e os da reprodução. Não poderíamos compará-los melhor do que a criptógamos carnudos. Poderíeis formar ideia da criação humana, estudando essas larvas informes que vegetam em certas plantas, particularmente nos lírios.”


Autenticidade da Encarnação de Jesus:

Kardec mostra Jesus como o modelo mais perfeito para a evolução humana, logo, o seu corpo deveria ter a mesma constituição do corpo daqueles aos quais ele deveria servir de modelo, e seu testemunho basear-se na verdade:

O Livro dos Espíritos, perguntas 624 e 625:

Qual o caráter do verdadeiro profeta?
“O verdadeiro profeta é um homem de bem, inspirado por Deus. Podeis reconhecê-lo pelas suas palavras e pelos seus actos. Impossível é que Deus se sirva da boca do mentiroso para a ensinar a verdade.”

Qual o tipo mais perfeito que Deus tem oferecido ao homem, para lhe servir de guia e modelo?
“Jesus.”


Roustaing mostra um Jesus que estaria fingindo estar encarnado, desde o seu nascimento até a sua morte, que teria sido também um simulacro, uma verdadeira encenação teatral.
Além do mais, ainda o chama de um Deus milagrosamente encarnado!

No 1º volume da obra de Roustaing, na página 242/243 pode lêr-se:

“(…) um homem tal como vós quanto ao invólucro corporal e, ao mesmo tempo, quanto ao Espírito, um Deus: portanto, um homem-Deus.

Em “A Génese”, capítulo XV, números 65 e 66
Kardec afirma categoricamente que Jesus teve um corpo carnal e um corpo fluídico, como todos encarnados temos:

“A estada de Jesus na Terra apresenta dois períodos: o que precedeu e o que se seguiu à sua morte.

No primeiro, desde a sua concepção até o nascimento, tudo se passa, pelo que respeita à sua mãe, como nas condições ordinárias da vida. Desde o seu nascimento até a sua morte, tudo, em seus atos, na sua linguagem e nas diversas circunstâncias de sua vida, revela caracteres inequívocos de corporeidade. (…) também forçoso é se conclua que, se Jesus sofreu materialmente, do que não se pode duvidar, é que ele tinha um corpo material de natureza semelhante ao de toda gente.”
“Aos fatos materiais juntam-se fortíssimas considerações morais. Se as condições de Jesus, durante sua vida, fossem as dos seres fluídicos, ele não teria experimentado nem a dor, nem as necessidades do corpo.

Supor que assim haja sido, é tirar-lhe o mérito da vida de privações e de sofrimentos que escolhera, como exemplo de resignação. (…) e fazer crer num sacrifício ilusório de sua vida, numa comédia indigna de um homem simplesmente honesto, indigna, portanto, e com mais forte razão de um ser tão superior. Numa palavra, ele teria abusado da boa-fé dos seus contemporâneos e da posteridade. Tais as consequências lógicas desse sistema, consequências inadmissíveis, porque o rebaixariam moralmente, em vez de o elevarem.

Jesus teve, pois, como todo homem, um corpo carnal e um corpo fluídico, o que é atestado pelos fenómenos materiais e pelos fenómenos psíquicos que lhe assinalaram a existência.”

Roustaing, ao contrário, mostra um Jesus que estaria fingindo estar encarnado, que fingia alimentar-se, desde o seu nascimento. (1º vol, págs. 243, 362 e 363)

“Quando Maria, sendo Jesus, na aparência, pequenino, lhe dava o seio – o leite era desviado pelos Espíritos superiores que o cercavam, de um modo bem simples: em vez de ser sorvido pelo menino, que dele não precisava, era restituído à massa do sangue por uma ação fluídica, que se exercia sobre Maria, inconsciente dela.” (pág. 243)

“Os Espíritos superiores que o cercavam em número, para vós, incalculável, todos submissos à sua vontade, seus dedicados auxiliares, faziam desaparecer os alimentos que lhe eram apresentados e que não tinha para ele utilidade. Aqueles Espíritos os subtraiam da vista dos homens, de modo a lhes causar completa ilusão, à medida que pareciam ser ingeridos por Jesus, cobrindo-os, para esse fim, de fluidos que os tornavam invisíveis.


Aparição de Moisés e Elias:

Inegavelmente, as afirmações mais claras a respeito da reencarnação, contidas no Novo Testamento, encontram-se nos Evangelhos de Mateus (17: 10-13) e de Marcos (9: 11), onde se lê que Jesus dialogou com Moisés e Elias no Tabor, diante dos discípulos Pedro, Tiago e João. Questionado quanto à identidade de Elias, o Mestre afirma categoricamente que João Batista foi a reencarnação do Profeta Elias.

Em Roustaing, de maneira fantasiosa e completamente inverossímil, numa tentativa de desacreditar a reencarnação, misturando fatos e fantasias, é declarado que Moisés, Elias e, consequentemente, João Baptista são o mesmo Espírito, e que ali, no Monte Tabor, um outro Espírito tomou a aparência de Moisés e conversou com Jesus:

“O que, porém, Jesus naquela ocasião não podia nem devia dizer e que agora tem que ser dito é o seguinte: Moisés – Elias – João Baptista – são uma mesma e única entidade. Estamos incumbidos de vos revelar isso, porque chegou o tempo em que se tem de “realizar” a “nova aliança”, em que todos os homens (Judeus e Gentios) se têm que abrigar debaixo de uma só crença, da crença – em um Deus, uno, único, indivisível, Criador incriado, eterno, único eterno: o Pai; em Jesus-Cristo, vosso protector, vosso governador, vosso mestre: o Filho; nos Espíritos do Senhor, Espíritos puros, Espíritos superiores, bons Espíritos que, sob a direção do Cristo, trabalham pelo progresso do vosso planeta e da sua humanidade: o Espírito Santo. (2º vol., págs 497 / 498)

A obra é volumosa, pesada, extremamente repetitiva, escrita em tom catedrático, pretensioso, que nos remete diretamente a “O Livro dos Espíritos”, item 104, no magistral estudo que o Codificador faz a respeito da “Escala Espírita”, quando se refere aos Espíritos pseudo-sábios.
São Espíritos pertencentes a comunidades espirituais que teimam em manter erros doutrinários relativamente à interpretação da Mensagem Cristã, para as quais o Espiritismo representa grande perigo por esclarecer a Humanidade.
A respeito desses Espíritos, Emmanuel faz séria advertência, que serve também como alertamento, diante dessa verdadeira “onda editorial” que está alimentando a vaidade de médiuns invigilantes e enriquecendo editoras: “As próprias esferas mais próximas da Terra, que pela força das circunstâncias se acercam mais das controvérsias dos homens que do sincero aprendizado dos espíritos estudiosos e desprendidos do orbe, refletem as opiniões contraditórias da Humanidade, a respeito do Salvador de todas as criaturas.”
(“A Caminho da Luz,” cap. 12).

Felizmente, a onda de roustainguismo está passando. Mas como existem ainda muitos volumes dessa obra em bibliotecas e livrarias, animamo-nos a fazer estas anotações.

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