CEPA – Associação Espírita Internacional

Há muitos anos que seguimos o trabalho desenvolvido pela CEPA Brasil, agora categorizada pela sua importante actividade internacional.
A seguir, uma referência breve às suas características culturais, doutrinárias e intelectuais, seguidas de um importante depoimento sobre a atitude de espiritualidade laica, que é marca distintiva da personalidade que cultivam.
Esta última parte é da autoria de Jon Aizpúrua, Ex-presidente da CEPA (1993/2000) e actual Assessor de Relações Internacionais, para a qual chamamos a melhor atenção de todos os nossos visitantes.

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Nosso empenho maior concentra-se em exteriorizar em toda sua plenitude os postulados que compõem a Doutrina Espírita.
Em sua defesa e preservação nos colocamos acima das cortesias, diplomacias, relações pessoais ou institucionais.

Em consonância com essa linha mestra lutamos por uma Doutrina:

Kardecista,
porque assume os ensinamentos e reflexões apreendidos da obra de Allan Kardec, que representam a essência e a base do edifício doutrinário. Orientado pela bússola da codificação kardecista, o Espiritismo manterá sempre o rumo correto e seguirá por caminhos seguros.

Progressista,
porque o pensamento espírita é um instrumento para o melhoramento individual e social aliado a valores como: liberdade, justiça e igualdade. Porque proporciona uma postura dinâmica, aberta, autocrítica e capaz de ampliar os conceitos como resultado do processo de mudança do mundo.

Livre-pensadora,
porque convida seus integrantes e as pessoas em geral a gozar, em sua plenitude, do direito ao livre exame de todas as idéias e ao aproveitamento de toda reflexão com critérios e métodos dentro e fora do Espiritismo. Liberdade de pensamento, de expressão e crítica são condições necessárias para um espírita autêntico poder se expressar. Direitos a que não se pode renunciar, que a CEPA. garante a todas as pessoas e às instituições a ela vinculadas.

A Palavra da CEPA

Jon Aizpúrua
Ex-presidente da CEPA (1993/2000) e atual Assessor de Relações Internacionais

Denomina-se como laicidade à concepção da vida na qual defende-se a ausência de religião oficial na direcção dos Estados, enquanto que por laicismo entende-se o movimento histórico que reivindica a implantação da laicidade.
Sobre a base de seus fundamentos humanistas, sociológicos e morais, assume-se que a laicidade estabelece um vínculo comum entre as pessoas e facilita que elas convivam respeitosa e cordialmente, processando suas diferentes opiniões em um âmbito civilizado, de liberdade e igualdade. Os princípios laicos de liberdade de consciência, de pensamento, de expressão e de organização; a igualdade de direitos e obrigações, assim como a justiça social, constituem a própria essência do sistema democrático.

É conveniente salientar que um Estado laico e, portanto, não confessional, não implica seja antirreligioso ou ateu. Toda a crença religiosa é respeitável e deve sempre garantir-se a seus adeptos o direito de vivê-la intimamente, compartilhando-a com quem se deseje e difundi-la sem restrições. Diferente há de ser o clericalismo e suas pretensões de gozar de privilégios especiais no âmbito social, situar-se por sobre ou à margem da normativa civil ou jurídica, ou impor critérios teológicos em assuntos morais, científicos ou educativos.

Felizmente, uma porção considerável da humanidade evoluiu no sentido de uma concepção laica que coloca em seus precisos termos a relação entre o mundo civil e o religioso, os Estados e as Igrejas. No mundo ocidental, com maior força, vive-se, cada vez mais, em uma sociedade pós-cristã. Esse tipo de sociedade teve início na Europa a partir do Renascimento, converteu-se em um projeto com o Iluminismo, generalizou-se entre as massas cristãs na segunda metade do século XX e foi se estendendo à América e a outros países influenciados pela cultura ocidental. A partir de um ponto de vista sociológico, não tão religioso, essas sociedades podem qualificar-se de pós-cristãs, o que significa que a cosmovisão baseada no cristianismo, em torno da qual girou a vida individual e social durante séculos, vai deixando de ser sua coluna vertebral. Essa mudança progressiva de cosmovisão na tradição cristã ocidental foi-se manifestando em muitas expressões culturais que estão sendo transformadas ou abandonadas:

  • As festas religiosas determinavam o calendário civil e trabalhista. Agora se eliminaram a maioria delas, embora sigam sendo muito importantes o Natal e a Semana Santa, não tanto no sentido religioso, mas como ocasião de viver em família e oportunidade para férias em campos e praias. O mesmo ocorreu com as festas patronais das pequenas localidades que eram dedicadas a um santo e que agora são apenas o motivo para celebrações civis e folclóricas

  • Os nomes que os pais davam a seus filhos eram buscados no calendário santo e que agora são apenas motivo de celebrações civis e folclóricas. Hoje se lhes põem nomes inventados, surgidos de combinações originais, muitas vezes estranhas e até impronunciáveis.

  • Muitas manifestações públicas, como procissões, romarias ou peregrinações, foram se despojando de seu sentido religioso original e se vão convertendo em festas folclóricas e populares, que costumam se aproveitadas pelos líderes políticos para promover sua imagem pessoal com fins eleitorais.

  • Em muitos países da órbita cristã, o registo eclesiástico de batizados e matrimónios era utilizado pelos Estados como registo civil. Há muito tempo que ambos registos obedecem a propósitos diferentes e somente o civil é obrigatório e possui efeitos legais.

  • Os símbolos religiosos cristãos, como o crucifixo ou o juramento pela Bíblia, eram frequentes em âmbito público, como escolas e repartições governamentais. Cada vez mais se impõe a tendência de suprimir qualquer exibição religiosa pública e se reduz a presença de autoridades civis a atos religiosos, reservando-se nada mais que aqueles de especial solenidade.

  • A moral estabelecida pelos cultos cristãos impunha as regras para o comportamento dos cidadãos. Actualmente discutem-se, questionam-se ou se rechaçam muitos desses critérios e comportamentos, especialmente no âmbito da sexualidade e da legítima diversidade de opções que cada pessoa tem direito de escolher sem ser discriminada ou estigmatizada.

  • A linguagem religiosa perdeu actualidade, pertinência e relevância social. Palavras e expressões como pecado, céu e inferno, salvação, culpa, penas eternas, castigos divinos, etc. foram desaparecendo do linguajar corrente e circunscrevendo-se aos actos de culto.

  • Em matéria educativa pública, já não se discute a primordial competência do Estado, ficando reservado o ensino da religião ao âmbito familiar e das organizações eclesiásticas.

  • “Crentes mas não praticantes” declaram-se muitos hoje em dia. Essa é outra característica da sociedade pós-cristã que merece atenção. Expressa-se de muitas formas: “Eu creio em Deus, mas não nos sacerdotes”, “eu me confesso directamente a Deus, não com um homem”, “a Igreja reprime minha liberdade”, etc. Nestas e outras manifestações reflecte-se uma espécie de alergia e rechaço às instituições eclesiásticas.

  • Outra característica importante da sociedade pós-cristã é a separação entre confissão religiosa e organização política e social. A liberdade de culto impôs-se nos países modernos e, como consequência, o catolicismo e outras religiões cristãs deixam de gozar de privilégios e vantagens por parte de um Estado que se declara laico. Um governante, incluindo todos os membros de seu governo, podem ser crentes, mas sua fé é um assunto pessoal e não a podem impor ao resto da sociedade.

Como é muito bem sabido, o espiritismo, desde seu início, a partir do ato fundacional que o aparecimento de O Livro dos Espíritos significou, em 1857, desfraldou a bandeira do laicismo, ressaltando o valor irrenunciável da liberdade que permite a cada ser humano administrar suas crenças em matéria de religião, de fé, de transcendência, conforme os ditames de sua razão e sem temor de ser condenado, castigado, anatemizado ou perseguido.

Claro está que o laicismo no qual se inscreve o espiritismo possui uma base inequivocamente espiritualista.
Muito distanciado de um laicismo materialista e ateu que promove a indiferença frente às perguntas radicais da existência humana: sua origem e destino, assim como sua referência centrada em uma explicação exclusivamente física, química, biológica, psicológica ou sociológica da vida e da morte, o espiritismo reafirma o reconhecimento da existência de Deus como Inteligência suprema e causa primeira de todas as coisas;
do espírito como entidade psíquica transcendente que preexiste ao nascimento e sobrevive depois do falecimento;
do processo evolutivo ascendente do espírito que se verifica em inumeráveis e sucessivas existências;
da incessante comunicação entre desencarnados e encarnados por diversidade de meios;

e deriva desses princípios uma cosmovisão humanista e progressista que convida à transformação pessoal e social, no quadro dos mais elevados princípios éticos.

Convidando para a compreensão do sentido espiritual da vida,
insistindo no respeito pleno e na liberdade das pessoas e dos povos, e sustentado na razão e na ciência, o espiritismo conduz a uma espiritualidade laica, equidistante do catecismo sem esperança, do materialismo e do dogmatismo sectário e alheio à ciência e à racionalidade das teologias.

Uma espiritualidade aberta e tolerante, que, por sobre a base de princípios universais, promove uma cultura de entendimento, convivência, harmonia, generosidade, solidariedade e fraternidade.

  • Uma cultura de respeito pela vida em todas as suas formas.

  • Uma cultura que garanta o exercício da liberdade de pensamento, consciência e crença.

  • Uma cultura de não violência que promova o encontro e a solução pacífica das controvérsias.

  • Uma cultura da solidariedade que impulsione a criação e a consolidação de uma ordem mundial justa, em que se apaguem as ignominiosas diferenças entre privilegiados e deserdados.

  • Uma cultura da verdade no plano da transmissão da informação e o conhecimento, que erradique a mentira.

  • Uma cultura da igualdade entre os povos, as nacionalidades, as etnias ou identidades sexuais, onde não haja lugar para a discriminação.

  • Uma cultura do trabalho, reconhecido como instrumento fundamental da riqueza social, e que seja devidamente remunerado em um ambiente de relações justas e honestas entre empresários e trabalhadores.

  • Uma cultura que promova o funcionamento democrático no exercício político das nações, sustentada no sufrágio livre e transparente, e que erradique toda a sorte de regimes autoritários e tirânicos, com independência do matiz ideológico com que se identificam.

Conceitos como estes, e muitos outros que se podem acrescentar, integram o que denominamos uma espiritualidade ética de orientação espírita sustentada na cultura do amor, e traduzem em termos concretos e actuais a proposta central de Allan Kardec e dos espíritos sábios que o assessoraram, respeito à marcha evolutiva da humanidade rumo a um horizonte superior que se definiu como “um mundo de regeneração moral e social”.

Muito bem faz nossa Associação Espírita Internacional CEPA em conceituar o espiritismo como uma visão laica, humanista, livre-pensadora, plural e progressista, porque ela coincide cabalmente com o modelo de espiritismo pensado e sonhado por Allan Kardec, seu ilustre fundador e codificador.



A Associação Brasileira de Delegados e Amigos da CEPA – CEPABrasil completou 15 anos de atividades, no dia de 19 de outubro passado. Fundada em 2003, adotou até outubro de 2009 a sigla CEPAmigos. A CEPABrasil tem como objetivo reunir amigos e simpatizantes da CEPA residentes no Brasil, realizando atividades doutrinárias de estudos e difusão do espiritismo com base nas obras de Allan Kardec, sublinhando seu caráter livre-pensador, humanista, laico, plural, evolucionista e universalista.

Nestes breves quinze anos, foram realizados oito Fóruns do Livre-Pensar Espírita, pela ordem: João Pessoa (PB), Pelotas(RS), Guarulhos (SP), João Pessoa(PB), Fortaleza(CE), Porto Alegre(RS), Domingos Martins (ES), Salvador (BA), e quatro Encontros Nacionais, em: Itapecerica da Serra(SP), Bento Gonçalves(RS), João Pessoa (PB) e Fortaleza (CE).

A CEPABrasil foi presidida por Sandra Régis, Jacira Jacinto da Silva, Alcione Moreno, Homero Ward da Rosa e, atualmente, por Jailson Lima Mendonça.

Parabéns e muito obrigado a todos os amigos que participam com suas ideias, reflexões e sugestões, sendo presença constante nos espaços sociais e eventos da CEPABrasil e da CEPA. Vocês, amigos de todas as nacionalidades, constroem e fortalecem a união, a tolerância, a empatia e a alteridade em nosso pequeno e valoroso grupo de espíritas.

Amigos, espaços de convivência democrática não estão prontos; eles resultam do aprendizado, do esforço e do respeito às diferenças. Não pretendemos hegemonia, pois queremos continuar pensando, concordando, discordando, aprendendo e avançando… A experiência humana se alicerça em erros e acertos – mas é insubstituível.

Diretoria da CEPABrasil

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