Quem puder ler esta página a respeito da nossa tradução de “O Livro dos Espíritos” também poderá ler o livro todo, visto que se encontra à disposição de todos para descarregarem livremente. Lê-lo, é só começar, continuar até ao fim, não custa nada…
Nós, para traduzir e rever vários livros fundamentais do mesmo autor, já os lemos, nas várias línguas, mais de 100 vezes, sem exagero nenhum. E cada vez que os lemos, aprendemos sempre coisas em que não tínhamos reparado bem nas vezes anteriores, e que valeram sempre bem essas novas leituras.
Depois de ler a folha abaixo, façam-nos o favor:
como é evidente, a primeira página do Prefácio dos tradutores não acaba aqui….
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A razão de existirmos; O funcionamento da realidade; O sentido da vida e o seu aperfeiçoamento é um objectivo bastante difícil…
As primeiras noções que recebi do ESPIRITISMO causaram-me a impressão de que – com o esclarecimento dessa visão do mundo – era possível encontrar a resposta clara para essas três questões cruciais. Por outro lado produziram em mim um tão enorme entusiasmo e uma tão grande fé e confiança no futuro, que me atrevo a vir aqui divulgar uma visão breve e simplificada do mesmo.
Não se trata de apresentar uma nova religião com rituais, clero hierarquizado, dogmas e ortodoxia, mas sim de esquematizar: uma cultura abrangente com carácter filosófico, método científico e objectivos morais.
PRIMEIRA NOÇÃO ESSENCIAL
O espiritismo baseia-se no conhecimento do contacto com o mundo dos espíritos, ou seja, na COMUNICAÇÃO COM O OUTRO LADO DA VIDA, numa abordagem cultural integralmente liberta de dogmatismo. Essa comunicação efectua-se, conforme o que está dito mais abaixo, através de um sentido especial de que só são dotadas certas pessoas, o sentido da MEDIUNIDADE.
A dificuldade em entender as características desse sentido especial resulta do facto de ser, ainda assim, bastante raro. E não é compreendido pela maioria, da mesma forma que não poderíamos entender o sentido da vista se fossemos cegos, ou o da audição se fossemos surdos.
Por falta de esclarecimento há até muitas pessoas que possuem esse dom e não têm consciência disso.
Sofrem de certas perturbações, por serem dotadas com o dom da mediunidade e andam a tomar comprimidos receitadas por psiquiatras SEM NECESSIDADE NENHUMA, sendo até prejudicadas por causa disso.
Se procurarem aconselhamento junto de pessoas conhecedoras (ver esclarecimentos mais adiante) poderão evitar tais problemas, visto que a mediunidade é um sentido como a vista ou o ouvido e se enquadra perfeitamente: – nas LEIS DA NATUREZA; – na realidade espiritual vivida por muitíssimas pessoas ao longo dos séculos e que permaneceram longe do estudo e do esclarecimento devido às mais diversas razões:
As religiões oficiaissão sistemas DOGMÁTICOS de poder fortemente hierarquizado, sujeitam as pessoas a normas rígidas de rituais que se repetem sem esclarecimento concreto da realidade das coisas.
A sua acção tem-se mantido ao longo de séculos, reduzindo a noção de Deus a fórmulas acanhadas de visão quase antropomórfica, que tem conduzido inúmeros fiéis à descrença, quando não ao ateísmo.
Para esclarecer de modo elevado este tema recomendo a leitura da obra “Depois da Morte” de Léon Denis, senão por inteiro, pelo menos a primeira parte “Crenças e Negações”. A ciência materialista e académica, de costas voltadas para a transcendência do Espírito, a seu modo também inteiramente DOGMÁTICA, só aceita aquilo que vêem os olhos do corpo, aquilo que pode pesar-se numa balança ou que pode manipular-se na mesa dum laboratório, ignorando – ou fazendo orelhas moucas – ao facto de que toda a estrutura do espiritismo passa por uma abordagem com carácter científico, fundamentado no método observativo e na experimentação aferida com toda a isenção e critério intelectual.
Em que é que se baseia o espiritismo?
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O espiritismo baseia-se fundamentalmente no conhecimento, devidamente metodizado há cerca de 160 anos, em Paris, por Hippolyte Leon Dénisard Rivail (aliás Allan Kardec) – Vidé também o Capítulo II – depois de estudados e coligidos os resultados de inúmeros contactos estabelecidos com o MUNDO DOS ESPÍRITOS, por intermédio de pessoas dotadas dos necessários dotes mediúnicos para esse efeito.
A colheita desses testemunhos não foi feita ao acaso, mas sim com metodologia aferida pelos mais rigorosos moldes de honestidade intelectual e o acompanhamento de observadores independentes;
resulta da convergência de multiplicidade de tais depoimentos feitos em lugares diferentes, através de individualidades que nada sabiam umas das outras e em ocasiões diferenciadas no tempo;
Muitas dessas comunicações tinham essencialmente propósitos de carácter informativo/formativo de importância universal e são compagináveis com a ciência e com os métodos de observação das LEIS DA NATUREZA;
Outras comunicações mediúnicas, que continuam a decorrer nos autênticos e legítimos Centros Espíritas de todo o mundo, são efectuados com propósitos de auxílio moral, esclarecimento de problemas sensíveis e solidariedade espiritual COMPLETAMENTE LIVRES DE PAGAMENTO MONETÁRIO.
Fique perfeitamente entendido que, nos autênticos e devidamente credenciados Centros Espíritas tais trabalhos são movidos com exclusivo objectivo de SOLIDARIEDADE FRATERNA, tendo produzido em imensidade de casos efeitos comprovadamente úteis para as pessoas neles participantes, de acordo com os mais honestos, concretos e comprováveis testemunhos.
Ainda a respeito da mediunidade:
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Tal faculdade, na grande maioria das pessoas, resulta apenas – o que já é muito
– numa percepção subentendida de coisas que connosco se passam (e que tantas vezes acabamos, inconscientemente, de designar como o nosso “6º sentido”):
– numa intuição secreta e disfarçada, de causas e efeitos de que não temos consciência plena, mas que nos afectam seja de que maneira for.
O “psicológico”, a tristeza ou a alegria, os sentimentos depressivos, as quebras de ânimo, os entusiasmos ocasionais, a tão celebrada “inspiração” que nos anima, por vezes, são o combustível de acção e intervenção das pessoas sensíveis, dos artistas e criativos e de quase todos nós, de uma maneira ou de outra. Tudo isso se encontra dependente desse território desconhecido a que continuamos ligados sem o saber, que não controlamos, mas que nos condiciona de muitas e variadas maneiras.
Nos casos das pessoas em que a MEDIUNIDADE é mais explícita e – melhor ainda – nos casos em que é orientada e estudada de modo cultural e cientificamente adequado, é uma ferramenta importante para conhecer coisas fundamentais, instrumento de intervenções de solidariedade e auxílio precioso, esclarecendo o verdadeiro destino do homem, o lugar e as circunstâncias de que derivamos e o caminho que nos resta percorrer.
Apresentação desta versão resumida do espiritismo:
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Este trabalho irá ser desenvolvido em capítulos sucessivos que irão sendo publicados aqui.
Escrito como está, corresponde àquela conversa sossegada e íntima que gostaria de ter com toda e qualquer pessoa que desejasse ouvir-me.
Lembrei-me de a escrever pensando num grande amigo que fez o favor de ter comigo uma conversa semelhante, mas sem ser por escrito: o Senhor Joaquim Inácio Zapata de Vasconcelos, tipógrafo, músico ensaiador do meu naipe no Orfeão de Leiria, o dos segundos tenores, há uns bons 60 anos!…
Considerem, por favor, que se trata de uma conversa entre amigos, ultrapassando a dificuldade formal e a extensão de alguns cursos de qualidade que existem na internet. Críticas e comentários, agradecem-se.
Ideias essenciais deste Capítulo:
Allan Kardec definiu o Espiritismo como sendo: .
“…uma ciência que trata da natureza, da origem e destino dos Espíritos, e das suas relações com o mundo corporal”.
“É ao mesmo tempo uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática, consiste nas relações que se estabelecem entre nós e os Espíritos; como filosofia, compreende todas as consequências morais que decorrem dessas relações”.
O segundo capítulo desta nossa conversa vai tratar de dois assuntos: I –A REENCARNAÇÃO; por ser um aspecto fundamental de toda a razão de ser da ciência de observação que também é doutrina filosófica com consequências morais que se chama espiritismo. II – A construção metodológica do espiritismo da autoria de ALLAN KARDEC ; por ser um dado histórico já mencionado no Capítulo I.
I – A REENCARNAÇÃO
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A reencarnação é o conceito de que o espírito, como princípio inteligente dos seres, vai acumulando experiência e conhecimentos, vai-se aperfeiçoando intelectual e moralmente, não apenas na fugaz oportunidade de uma existência neste mundo através do seu corpo, veículo material – cuja associação forma aquilo que os espíritas designam como alma.
O espírito regressa todas as vezes necessárias para que se enriqueça e alcance os necessários dotes da inteligência e as qualidades morais que lhe permitam avançar para outros horizontes de perfeição iluminada.
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O corpo físico, veículo transitório da eternidade do espírito .
O corpo físico, nessa ordem de ideias, não passa de um meio transitório, com durabilidade dependente de factores os mais diversos – inclusive dos que dependem de acidentes que ocorrem por aparente fatalidade.
O progresso dos Espíritos processa-se, sempre no sentido ascendente, isto é sem regressões, até um ponto de aperfeiçoamento que os liberta da sucessão das vidas.
Desses Espíritos (e usamos aqui o critério do uso de maiúsculas esclarecido por Allan Kardec em “O Livro dos Espíritos”), só regressam à vida aqueles que, por generosa abnegação, se dispõem – de acordo com decisões tomadas a níveis superiores – a servir de guias orientadores da humanidade que habita este nosso mundo que é caracterizado, na hierarquia respectiva, como mundo de “expiação e de provas”.
Este é o caso do planeta Terra, entre o incontável número de mundos igualmente habitados por todo o Universo, cada um deles servindo a seu modo, de conformidade com o seu nível, os desígnios do Criador,
“…A doutrina da REENCARNAÇÃO, que consiste em admitir para o ser humano muitas existências sucessivas, é a única que corresponde à ideia que fazemos da justiça de Deus, para com os que se encontram colocados numa condição moral inferior, a única que pode explicar o nosso futuro e fundamentar as nossas esperanças, dado que nos oferece o meio de redimir os nossos erros através de novas provas. A razão assim nos diz, e os Espíritos nos ensinam.…” In “O Livro dos Espíritos” comentário de Allan Kardec à pergunta 171..
Sem admitirmos a REENCARNAÇÃO, nada faz sentido no mundo e na natureza das nossas vidas como consequência inteligente de uma causa inteligente que garanta a todos os seres um futuro de evolução e aperfeiçoamento em condições de perfeita igualdade.
O espiritismo serve-se da sua cultura, e do exercício da mesma, para comprovar – mediante a “ciência de observação” que de facto é – essa antiquíssima teoria, comum a uma grande variedade de concepções históricas do mundo e da vida, inclusivamente a que vigorava na contemporaneidade de Jesus e que se manteve nos “textos sagrados” até ao segundo Concílio de Constantinopla no ano 553e de onde foi retirada por determinantes ilegítimas que conduziram à adulteração dogmatizante da mensagem de Jesus de Nazaré.
O espiritismo não inventou a reencarnação, cujo conhecimento é tão antiga como a Humanidade.
Aliás, também o sentido orgânico da mediunidade é um fenómeno natural familiar e utilizado pelos mais diversos povos de todo o mundo desde a noite dos tempos.
Ambos são elementos de fundamentação e de prova da vida depois da morte, da pluralidade das existências – ou reencarnação, isto é, dos fundamentos principais da natureza e do funcionamento do mundo material e do mundo espiritual, e da interacção entre ambos.
A evolução de estudos conduzidos por todo o mundo a respeito da reencarnação e o alargamento dos conhecimentos científicos a seu respeito, já fizeram com que ingressasse na área de investigações académicas em importantes institutos científicos e universitários não-espíritas. Dessa realidade, crescentemente tratada e divulgada em variadíssimos círculos já temos dado conhecimento nestas páginas.
A doutrina da criação da alma no instante do nascimento
De acordo com algumas concepções religiosas conhecidas, a alma é criada no instante do nascimento dos indivíduos, dando a uns o destino de imperadores, a outros o de pedintes; a uns a categoria de intelectuais de valor, a outros a de analfabetos
Algumas pessoas têm prestações excelentes e gloriosas, de acordo com a sua inteligência superior, outros arrastam-se na carência de meios e na inferioridade moral. Uns são abnegados e justos, outros arrogantes e desrespeitadores, praticamente desde a mais tenra idade. Como se o Criador tivesse como método natural criar almas de primeira, de segunda, etc.
A desigualdade de destinos que isso pressupõe, ao fim de apenas uma existência terrena, às vezes muito curta e muito acidentada, não é compreensível perante as perspectivas de evolução equivalente a que todas as pessoas têm direito.
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A admissão de apenas uma existência também não explica um grande número de factos notáveis da nossa mente, como as pré-aquisições, a memória intuitiva de factos inexplicáveis, a sensação do “momento já vivido”, as crianças prodigiosas que nascem com dotes surpreendentes e impossíveis de enquadrar na realidade simples e toda a infinita assimetria de capacidades e particularismos das condições de vida de cada um.
A intuição sensível dos artistas e o “pecado original”
Dos génios pintores e poetas, por exemplo, toda a gente entende que a sensibilidade e os saberes que tão bem dominam não foram “aprendidos” em lado nenhum. Há visões e percepções na criação artística que surgem “naturalmente” NÃO SE SABE DE ONDE. Todas essas realidades como muitas outras que dizem respeito à natureza intuitiva da Humanidade, às suas qualidades sensíveis e à sua profunda memória, em evidência em todos os seres, mesmo nas crianças de tenra idade, se encontram devidamente explicadas e justificadas no contexto de justiça e de igualdade de direitos que pode entender-se considerando a tese da sucessão das vidas ou da pluralidade das existências. O que seria do ser humano, do seu génio, da sua criatividade, do seu desejo de futuro e de progresso, se todos fossemos criados a partir do nível zero de conhecimentos, de sensibilidade e de memória afectiva e cultural? E a maldade, o vício e a violência, perguntará o leitor. Sim tudo isso faz parte do Universo criado e das contingências dependentes do ilimitado e consciente livre arbítrio de que fomos dotados pela inteligência superior que criou todas as coisas.
Mais uma razão ponderosa para estudarmos com atenção a doutrina emancipadora e luminosa dos Espíritos que também a respeito disso, como da imensidade de outras coisas, nos esclarecerá com razões lógicas e comprováveis.
Quanto ao pecado original, muito haveria para dizer, mas basta delinear as contradições sem sentido que imporia a todos os seres humanos uma condenação antecipada, ou teoria da queda, que tem como única razão o simples facto de terem nascido. Nasceste, como tal já és culpado!.. Que absurdo lamentável!…
As religiões dogmáticas declaram-se únicas detentoras da faculdade de libertar os seres desse pecado, através do baptismo, evidentemente. É uma sujeição abusiva e destinada a cimentar o seu poder.
Há dias, ouvi um sacerdote que celebrava um ofício de defuntos, dizer publicamente numa igreja que “fulano”, o falecido, tinha tido muita sorte, porque fora baptizado conforme preceito de catecismo da sua religião.
Por isso se transformara “em filho de Deus”. Por isso poderia “ir para o Céu”!… Perguntei-me, mergulhado em espanto, qual é a ideia que aquela autoridade religiosa alimenta na sua mente e na sua consciência a respeito dos milhares de milhões de pessoas, seres humanos, que não foram baptizados na “sua igreja”? Só de pensar que o infeliz julga que todos eles NÃO SÃO FILHOS DE DEUS, me faz rezar por ele uma prece, pedindo que se lhe abra o entendimento e que os bem intencionados fiéis que o procuram não fiquem com esse mau conceito do seu Criador, que os elege só a eles como privilegiados filhos de Deus, mas só se tiverem sido baptizados naquela ( E SÓ NAQUELA!…) Igreja. Seria, só de pensá-lo, um grave atentado ao mínimo sentido da bondade e da justiça divina.
E é nestes pressupostos que se baseou a dominação de povos inteiros, com guerras, cruzadas dentro e fora dos países e das culturas, injustiças medonhas, inquisições, perseguições, torturas e assassinatos bárbaros, durante praticamente dezassete séculos.
Será que foram eliminadas no mundo todas as consequências de tão abomináveis alienações?
A evolução em regime de igualdade universal
A chocante variedade de destinos que acima se refere tem sido, ao longo de toda vida, motivo de crises existenciais sem fim, arrastando ao descrédito uma concepção da vida sem projecto inteligente respeitador de todos os seres e das suas legítimas aspirações.
Os incrédulos estribam-se nesse tipo de razões para desacreditarem a tese da existência de um Deus criador que a uns dá o corpo de beldades e mentes de inteligência genial e a outros dá o corpo retorcido do sofrimento informe e a mente entorpecida do tresloucado.
O espiritismo inclui a visão racional de todo esse tipo de circunstâncias, que pode comprovar mediante o exercício do “diálogo entre humanidades”, servindo de guia e amparo substancial a todos os sofredores e de estímulo de aperfeiçoamento a todos os que não forem muito bem sucedidos, conforme as justificáveis circunstâncias e apenas temporariamente.
Se é importante a primeira das ideias, a de amparo dos menos felizes, enfermos ou aparentemente deserdados, muito importante também é orientar os beneficiados por um quadro de vida pleno de felicidade e favores do destino – em direcção a atitudes conscientemente justas, modestas e solidárias para com todos os seus semelhantes. As informações disponíveis a respeito deste assunto esclarecem devidamente a longa marcha dos espíritos para aprender, melhorar e aperfeiçoar-se até atingir a clarividência e a plenitude dos Espíritos de Luz.
II – A construção metodológica do espiritismo da autoria de Allan Kardec
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O ordenamento metódico e sistemático dos conhecimentos espíritas foi feito há cerca de 160 anos, em Paris, por Hippolyte Léon Denizard Rivail (que adoptou o pseudónimo de Allan Kardec).
Nascido em 1804 e falecido em 1869, foi um prestigiado pedagogo e homem de ciência (discípulo de Johann Heinrich Pestalozzi ver a Nota final nº 67 da nossa tradução de “O Livro sos Espíritos” à disposição de todos os leitores nestas páginas) que lançou mão dos recursos da sua formação académica para dar início a uma investigação metódica de algo que nessa época surpreendia a França e variados círculos espalhados pelo mundo.
No agitado universo de profundas transformações de meados do século XIX, largo número de interessados se mobilizava em torno de manifestações surpreendentes, cujos contornos não se conheciam devidamente: o fenómeno das comunicações espíritas, cuja ocorrência – por numerosa e evidente – não podia deixar as pessoas indiferentes.
A sistemática ordenação metodológica foi feita a partir da recolha de elementos colhidos por vários grupos de investigadores e o professor Hippolyte Léon foi convidado por um amigo seu, que com ele se dedicava ao estudo do magnetismo humano (o Senhor Fortier), para coligir o conteúdo de perguntas e respostas de um famoso conjunto de cinquenta cadernos com notas tomadas em múltiplos círculos de reuniões espíritas.
O espiritismo foi, portanto – e continuará a ser – obra de uma colectividade de seres que, em plena independência e liberdade, se dão as mãos na construção de um novo horizonte de esperança e evolução para toda a humanidade.
É a uma nova visão do mundo e do homem como ser espiritual dirigido por princípios inteligentes e destinados a uma evolução sem fronteiras.
Tais objectivos são para dar frutos futuros e também poderão contribuir para uma acentuada evolução positiva do nível de entendimento e do progresso espiritual no mundo em que habitamos. Pressupõem uma vivência e uma partilha de valores como jamais tinha havido na História e corresponde ao levantar da esperança e de progresso para toda a humanidade, que coroa as melhores conquistas da era moderna.
Anexo I
De acordo com Allan Kardec, no Capítulo I da sua obra “A Génese”, três foram as grandes revelações da Lei de Deus: A primeira representada por Moisés; a segunda por Jesus de Nazaré e a terceira a que foi efectuada pelo Espiritismo.
Do ponto de vista de uma revelação religiosa, o Espiritismo apresenta algumas características muito específicas:
a) Estruturação Colectiva:
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“…as duas primeiras revelações, sendo fruto do ensino pessoal ficaram forçosamente localizadas, isto é, apareceram num só ponto, em torno do qual a ideia se propagou pouco a pouco; mas foram precisos muitos séculos para que atingissem as extremidades do mundo, sem mesmo o invadirem inteiramente. A terceira tem isto de particular: não estando personificada num só indivíduo, surgiu simultaneamente em milhares de pontos diferentes, que se tornaram centros ou focos de irradiação.”
A Génese, Allan Kardec
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b) Origem Humano-Espiritual:
O Espiritismo tem uma dupla origem: espiritual dado que a sua estrutura doutrinária foi em grande parte ditada por Espíritos superiores e, por isso, tem sido considerado uma revelação; e humana, dado que foi e continua sendo enriquecido e trabalhado por espíritas cultos e dedicados que dão o melhor de si no seu aperfeiçoamento.
c) Carácter Progressivo:
A ordenação cultural espírita, apoiando-se em factos, tem de ser, e não pode deixar de ser, essencialmente progressiva como todas as ciências de observação.
“Caminhando de par com o progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado, porque se novas descobertas lhe demonstrassem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificaria nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará.”
A Génese, Allan Kardec; cap I ,it 55
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Anexo II
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O ESPIRITISMO
Parte originariamente dos ensinamentos conhecidos de Jesus de Nazaré, Espírito muito antigo de elevadíssimo nível evolutivo, mas filho de Deus como nós mesmos e que nos é proposto em “O Livro dos Espíritos” como modelo de virtudes morais; Os ensinamentos conhecidos de Jesus de Nazaré e que foram levados em conta por Allan Kardec, estão devidamente esclarecidos na sua obra “O Evangelho segundo o Espiritismo”;
Revela a origem e a natureza mundo espiritual e suas relações com o mundo material;
Levanta o véu dos “mistérios” do nascimento e da morte;
O espírita sabe de onde vem, porque razão está na Terra, porque motivos sofre, qual é o seu destino e a razão de existir;
Nos princípios e claramente apresentados pela sua cultura filosófica com objectivos morais, vê em tudo e por toda a parte a justiça de Deus;
Sabe que alma progride incessantemente, pela pluralidade das existências, até atingir o grau de perfeição que o aproxima de Deus;
O espírita toma conhecimento da pluralidade dos mundos habitados;
Descobre o livre-arbítrio;
É demonstrada a existência do perispírito, cuja natureza e propriedades são de fundamental importância;
Todos estas aquisições científico-filosóficas se encontram devidamente ordenadas e esclarecidas nos restantes quatro livros da autoria de Allan Kardec: “O Livro dos Espíritos”, “O Livro dos Médiuns”, “A Génese” e “O Céu e o Inferno”.
A nossa época e o privilégio da informação fácil; PRECAUÇÕES ACONSELHADAS
A clarificação de horizontes tão empolgantes como os que se descrevem, solicitam evidentemente grande número de esclarecimentos.
O objectivo desta visão resumida do espiritismo e da sua doutrina, tem como único propósito falar com toda a abertura e muito sinteticamente a todos aqueles que têm tido a curiosidade, mas não ousaram aproximar-se com mais cuidado e atenção.
Meios, documentos e elucidação mais completa é o que não falta, desde logo na enorme rede de relacionamentos que é a internet. Para fazer essa buscas é importante ter cuidado e usar das necessárias precauções de natureza cultural, porque nem todos bebem nas melhores fontes. Aqui se propõe aos interessados uma cautela permanente e, na dúvida, devem ter como fonte original de conhecimentos o estudo cuidadoso, metódico e a profundado das obras da autoria deALLAN KARDEC, profundamente documentada nas suas restantes obras, nomeadamente na sua REVISTA ESPÍRITA, publicada por ele mesmo durante 11 anos.
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O conhecimento do exemplo de vida e dedicação intelectual de Hippolyte Léon/Allan Kardec é um estímulo valioso para qualquer um de nós.
A enorme virtude que teve, foi o de estar atento, disponível, e de actuar de acordo com o que via com os olhos da inteligência sensível. Não se deixou levar na corrente destrutiva do materialismo imediato e foi premiado com a descoberta de uma das ideias mais extraordinariamente libertadoras da era moderna: o conhecimento certificado da origem e do destino do homem enquanto ser ligado à transcendência.
Hippolyte Léon/Allan Kardec, abriu resolutamente a cortina que escondia a nossa “sala comum” da entrada franca da luz do Sol, ou mais além, da Luz-Luz!…
Só não sabe quem não quiser ser informado.
Só não acredita quem não se consentir uma hora de atenção e diálogo.
No estado actual dos conhecimentos, a percepção e a intimidade com a transcendência já não é uma questão de fé subjectiva ou de predestinação casual: É uma questão de querer saber e ser informado. .
Neste terceiro capítulo vamos falar um pouco sobre Hippolyte Léon Denizard Rivail, o homem que mais tarde veio a ser conhecido por Allan Kardec, tendo por base uma obra da autoria de Henri Sausse, considerado o seu mais importante biógrafo.
Não ignorei também o trabalho de um outro biógrafo, muito mais recente, André Moreil, sobre cuja personalidade não se encontram dados disponíveis na internet e cujas obras terão sido publicadas, de acordo com as referências mais antigas que encontrei, a partir de 1961.
Hippolyte Léon, aquele que não cuidou de poder nem de imagem para a posteridade
Enquanto Hippolyte Léon, e muito menos como Allan Kardec, não foi uma personalidade que tenha gasto tempo a notabilizar-se a si próprio, contrariamente ao que acontece com aqueles que parecem obcecados pela acumulação dos fugazes vestígios que irão deixar neste mundo.
Não registou impressões suas que constituíssem “curriculum vitae”, não fez considerandos subjectivos que não fossem ao essencial dos temas que ocupavam a sua mente e, muito menos, criou uma qualquer fundação ou museu com o seu próprio nome.
Tendo sido uma pessoa perfeitamente normal, como qualquer de nós, ou seja: nem santo nem profeta, o seu percurso em direcção ao esclarecimento das causas fundamentais da origem e razão de ser do homem como ser espiritual tem uma exemplaridade tão notável que constituem – conforme será possível demonstrar factualmente – um marco essencial na evolução presente e futura da humanidade.
A aceitação da validade e da importância do trabalho de Allan Kardec não se coloca no plano da fé, no facto de acreditar ou de não acreditar em coisas vulgarmente consideradas – e de forma errónea – misteriosas e vagas. Situa-se unicamente no plano da vontade do esclarecimento de factos identificados com a observação experimental, hoje exemplarmente esclarecidos por estudiosos do mais notável prestígio e autoridade.
Depende da coragem intelectual de enfrentar realidades claríssimas de grande actualidade, mas com as suas raízes profundamente lançadas na antiguidade histórica e antropológica.
O que é de salientar à partida é que Hippolyte Léon, ele próprio;
• viveu a maior parte de sua vida sem que tenha existido o espiritismo na sua cabeça; • a codificação do mesmo resultou de um conjunto de razões e de factos que se impuseram à sua consciência científica e cultural, depois de ter começado a estudá-los, a pedido e por insistência de amigos seus; • verificando-se a circunstância concreta de que, para a sua anterior formação, tais fenómenos tinham um carácter estranho e até francamente duvidoso.
A determinação de Allan Kardec em abordar “os fenómenos” que lhe foram recomendados por amigos surgiu, é preciso acentuar-se, já depois de ter atingido os cinquenta anos de idade.
Note-se que nessa altura o marco dos cinquenta era uma idade muito mais madura do que é agora devido à mudança do tipo de vida e à esperança de longevidade muito mais alargada.
Isto para além de que, sendo a sua cultura perfeitamente académica, positivista mesmo, a uma primeira solicitação para estudar “uns certos fenómenos magnéticos” que lhe foi feita por um amigo que se chamava Fortier, a resposta dele foi pouco entusiástica, mesmo francamente dubitativa.
As origens, a família e as circunstâncias históricas em França
certidão de nascimento de Denisard Hypolite Leon Rivail. Notar a forma um pouco estranha como se encontra redigido o nome, com acentuadas diferenças relativamente aos nossos hábitos e ao modo como é geralmente identificado.
A sua infância e juventude têm sido resumidas de forma muito diferente da realidade, como filho de gente de boa sociedade e haveres, residente em Lyon com um pai juiz bem instalado que o teria mandado estudar para um colégio prestigiado na Suiça.
Nada mais irreal e fantasioso do que de facto sucedeu.
Seu pai, que não chegou a dar o nome a sua mãe, foi alistado nas tropas de Napoleão, era Hipólito Leão muito menino. Quem o levou para a Suiça foi sua mãe, dado que o ambiente em França era caracterizado por uma instabilidade enorme, com imensas hipóteses de trágicos acontecimentos.
Não uma simples “crise”, mas conflagrações sociais medonhas que fizeram de todo o século XIX, em França como no resto da Europa, um cenário de violências, guerras, miséria e instabilidade.
Do lado positivo dos acontecimentos registaram-se avanços e progressos notáveis, apesar de tudo. A cultura, a arte e as ciências avançaram extraordinariamente em inúmeros domínios, sendo pena que regimes arrogantes e insensíveis tenham permanecido alheios ao sofrimento dos povos, presos às paixões materialistas, à cupidez egocêntrica e a uma insaciável sede de poder.
Guerras entre estados, revoluções e contra revoluções, amotinações dos desesperados e dos desvalidos reprimidas com mão de ferro, prisões e fuzilamentos, fazem com que este século não tenha constituído uma excepção no conjunto de tantos séculos igualmente saturados da sem razão das guerras, da injustiça e da má distribuição das riquezas.
Já no fim do século dezoito haviam ocorrido factos poderosamente transformadores da ordem e do sistema vigentes (com a Revolução Francesa), e todo o período subsequente, sem esquecer o primeiro império e as guerras napoleónicas, tão devastadoramente trágicas para tantos milhares de vítimas, pese muito embora o efeito das transformações sociais e culturais que arrastaram consigo.
Em 1848 houve milhares de prisões e um número indeterminado de cidadãos foram fuzilados em Paris; em 1851, de novo barricadas em Paris com fuzilaria e muitos mortos e execuções; em 53 a França declara guerra à Turquia e à Rússia, com tudo o que isso envolve para o povo combatente e tributário, sem falar de uma longa lista de missões francesas de colonização e conquista e outros conflitos coroados pela guerra franco-prussiana em 1870, com uma vastíssima a invasão da França e o cerco de Paris, seguido da sublevação da Comuna afogada em sangue durante a “semana sangrenta” (cerca de 30 mil mortos, um número suposto jamais confirmado visto que os combatentes eram anónimos cidadãos que se haviam amotinado, cansados da sua miséria).
Gravura ilustrando um dos inúmeros fuzilamentos de populares amotinados que tomaram parte no conhecido episódio histórico da “Comuna de Paris”, que é dado como uma das consequências da guerra franco-prussiana, em 1870. De salientar, entretanto, que as condições de vida da imensa maioria dos trabalhadores, nessa época, assumiam aspectos da mais dramática miséria e falta de justiça social. Foi muito desse povo que engrossou o número daqueles que seguiram com esperança e fé os ensinamentos propagados na altura pela pela mensagem espírita propagada pela obra de Allan Kardec.
A eclosão do espiritismo teve lugar durante o período chamado do Segundo Império de Napoleão III, de 1852 à 1870. Este mesmo homem de estado, primeiramente eleito presidente da república e logo depois auto-consagrado como imperador e o “préfet Haussmann” renovaram de modo espectacular o urbanismo parisiense, tendo inovado com a abertura dos larguíssimos “Grands Boulevards” e das praças vastíssimas.
De visita à “cidade luz”, qualquer guia turístico vos dirá, contudo, que um dos propósitos dessa medida formidável que fez da capital da França aquilo que ela é, seria o de abrir espaços amplos por onde esquadrões de cavalaria pudessem carregar sobre cidadãos amotinados pela fome, e regimentos de artilharia pudessem esfrangalhar à bomba as trágicas barricadas populares, celebradas no luto de milhares em muitas cantigas de camisardos tornadas conhecidas pelos piores motivos.
Estampa popular ilustrando o cerco e o bombardeamento de Paris pelos exércitos da Prússia
Basta dar uma pequena vista de olhos pelos compêndios de história e mergulhar na leitura dos monumentos literários da época, tais como, por simples exemplo, “Os Miseráveis” de Victor Hugo – artista e grande herói da França – notório adepto do pensamento espírita e mentor de reuniões mediúnicas que a história abundantemente documenta.
O esclarecimento das características sociopolíticas e culturais vigentes durante todo esse século foram de uma complexidade impossível de abordar aqui, sendo entretanto indispensável referir que eram muitíssimo adversas ao estudo e à divulgação de ideias estranhas ao regime, de que o poderosíssimo catolicismo fazia parte.
Certos estavam aqueles avisos e considerandos que foram conscienciosamente feitos por Hyppolite Léon, no que toca às imensas dificuldades, azedumes e perseguições de que iria ser vítima, obstáculos que – tendo iniciado a tarefa a que entretanto se propôs – não enfraqueceram em nada o seu ânimo, antes pelo contrário.
A cronologia dos acontecimentos a partir da juventude
1823, o interesse pelo magnetismo
Ainda muito novo, pelos 19 anos (1823), um dos assuntos de exploração científica que motivou o jovem Hippolyte Léon, era o magnetismo, as fases do sonambulismo e todos os mistérios adjacentes, conforme esclareceu muito mais tarde, em Março de 1858, a pgs. 92 da Revue Spirite.
«…O magnetismo preparou o acesso ao espiritismo, e os rápidos progressos desta doutrina devem-se incontestavelmente à vulgarização das ideias daquele. Dos fenómenos do magnetismo, do sonambulismo ao êxtase próprio das manifestações espíritas não dista senão um passo; a ligação é tal que, por assim dizer, é impossível falar de um sem falar do outro.
Se tivéssemos que nos manter afastados da ciência magnética, o quadro ficaria incompleto e seríamos comparáveis a um professor de física que se abstivesse de falar da luz.
Todavia, como o magnetismo já possui entre nós entidades devidamente acreditadas, seria desnecessário insistir num assunto tratado com a superioridade do talento e da experiência; não falaremos nele senão de modo acessório, o suficiente para mostrar as íntimas relações das duas ciências que, na realidade, não passam de uma só…”.
Porém, conforme nos diz Henri Sausse:
“…Não nos antecipemos; a conclusão final não fora ainda atingida. Allan Kardec não tinha encontrado ainda a via que o conduziria à imortalidade…”.
1854 – a maturidade e a proposta do Senhor Fortier
Em 1854, uma das pessoas que como ele se interessava pelos fenómenos do magnetismo, o Senhor Fortier, falou-lhe no caso das mesas girantes que “falavam”. A resposta que lhe deu o professor Rival ficou registada para o futuro de forma explícita, para que não restassem dúvidas quanto à sua atitude céptica que tais fenómenos lhe inspiravam:
«…Acredito quando puder ver, quando me tiverem dado provas de que uma mesa tem cérebro para pensar, nervos para sentir e que pode tornar-se sonâmbula. Até lá permita-me que veja nisso apenas uma historieta para fazer dormir de pé…».
(NOTA: Antes da adopção pelos espíritas do termo “médium” utilizava-se a expressão “sonâmbulo”, oriundo dos estudos sobre o magnetismo, para designar as pessoas que, num estado hipnótico, evidenciavam uma sensibilidade excepcional ou comportamentos fora da sua personalidade habitual.).
Nos dois anos seguintes iria desenrolar-se uma enorme quantidade de observações e de experiências que iriam mudar a face dos conhecimentos relativos ao espírito, à origem e ao destino da humanidade e que correspondem ao aparecimento de uma nova cultura, cujo ressonância vibra no coração e na mente de todos nós: a cultura espírita.
1855 – Carlotti, Fortier, a Senhora Plainemaison e muitos outros
A partir daqui vale a pena citar as próprias palavras de Allan Kardec:
« …No ano seguinte (começos de 55) encontrei Carlotti, um amigo de 25 anos, que me ocupou durante mais de uma hora a respeito do fenómeno das “mesas falantes”», com o entusiasmo que dedicava a todas as ideias novas. Falou-me, antes de mais, na intervenção dos espíritos, o que aumentou as minhas dúvidas. – O meu amigo será um dia dos nossos, asseverou. – Veremos isso mais tarde, retorqui. Pelo mês de Maio, estando em casa da Senhora Roger com Fortier, seu magnetizador, encontrei o Senhor Pâtier e a Senhora Plainemaison, que me falaram dos mesmos assuntos que abordara Carlotti, mas num tom completamente diferente.
Pâtier era funcionário público de certa idade, grave, frio e calmo. A sua linguagem ponderada, livre de entusiasmos, impressionou-me bastante e resolvi aceitar com empenho o convite que me fez para assistir às experiências que eram feitas em casa da Senhora Plainemaison. Foi lá, pela primeira vez, que fui testemunha do fenómeno das “mesas girantes”, em condições tais que não havia lugar a dúvidas. Assisti também a alguns ensaios muito imperfeitos de escrita «medianímica» feita numa ardósia por meio de uma cestinha. As minhas ideias não se encontravam definidas, mas um facto de tal natureza devia ter necessariamente uma causa. Por detrás daquelas aparentes futilidades e daquela espécie de brincadeira, descortinei algo de sério, como que a revelação de uma nova lei que prometi aprofundar.
Num dos serões da Senhora Plainemaison conheci a família Baudin, que me convidou a assistir a uma das suas sessões semanais, das quais passei a ser visita assídua. Foi lá que fiz os meus primeiros estudos sérios de espíritismo, ainda não tanto pelas revelações como pelas observações…”
A dúvida metódica e o método da experimentação
“…Apliquei a esta nova ciência, tal como costumava fazer até então, o método da experimentação. Nunca estabeleci teorias preconcebidas, observava com atenção, comparava e deduzia as conclusões; Procurava encontrar para os efeitos as respectivas causas, pela dedução, e pelo encadeamento lógico dos factos, não assumindo como válida uma explicação senão quando ela esclarecia todas as dificuldades da questão.
Era assim que tinha procedido sempre nos meus trabalhos anteriores, desde a idade de quinze ou dezasseis anos. Estava consciente, antes de mais, da seriedade da exploração que ia levar a cabo. Entrevi no seio dos fenómenos estudados, a chave do problema tão profundo e controverso do passado e futuro da humanidade, cuja solução tinha buscado toda a minha vida: era, numa palavra, uma revolução de ideias e de crenças. Era por isso necessário agir com ponderação e profundidade; ser positivista e não idealista, para não embarcar em ilusões. Um dos resultados das minhas observações foi de que os espíritos, sendo as almas dos homens, não possuem a sabedoria plena nem a ciência esclarecida; O seu saber depende do seu grau de evolução e a sua opinião só tem o valor de uma opinião pessoal.
Esta verdade, reconhecida desde o princípio, livrou-me do grave inconveniente de acreditar na sua infalibilidade e impediu-me de formular teorias prematuras baseado na opinião de um só ou de vários testemunhos.
O facto de existir uma comunicação com os espíritos, dissessem eles o que dissessem, provava por si só a existência de um mundo invisível envolvente. Esse facto já era de importância capital, um campo imenso aberto às nossas explorações, a chave de uma multidão de fenómenos inexplicáveis; O segundo ponto, não menos importante, era conhecer o estado desse mundo, os seus costumes, se assim se pode dizer;
Depressa concluí que cada Espírito, em função da sua posição pessoal e dos seus conhecimentos, me revelava uma faceta, tal e qual como quando se procura conhecer o estado de um país interrogando os habitantes de todas as classes e de todas as condições, cada qual podendo ensinar-nos algo, sem nenhum poder, individualmente, ensinar-nos tudo;
É ao observador que compete formar o quadro geral com a ajuda de documentos recolhidos de fontes diversas, comparados, conjugados e controlados uns pelos outros. Agi portanto com os Espíritos do mesmo modo como teria feito com os vivos; foram para mim, desde o mais modesto ao mais notável, meios de me informar e não reveladores predestinados…”
Henri Sausse prossegue:
“…Conforme sabemos convém acrescentar que, de início, o Senhor Rivail, longe de ser um entusiasta destas manifestações e, absorvido por outros afazeres, esteve a ponto de abandonar o seu estudo.
O que teria feito sem as empenhadas solicitações de Carlotti, René Taillandier – membro da Academia das Ciências, Tiedeman-Mantèse, Sardou pai e filho, e Didier, editor, que há cinco anos seguiam o estudo destes fenómenos e que tinham reunido cinquenta cadernos de comunicações diversas que não haviam conseguido ordenar de forma adequada. Conhecedores do raro espírito de síntese de Rivail, entregaram-lhe esses cadernos pedindo-lhe que tomasse deles conhecimento e que organizasse devidamente o seu conteúdo. Era um trabalho árduo que exigia muito tempo, em função das lacunas e da obscuridade das comunicações, e o enciclopédico conhecedor que era Rivail recusou uma tão absorvente como cansativa tarefa, em nome de outras que tinha entre mãos…»
1856-57 – o “surgimento” de Allan Kardec e a primeira edição do “livro dos Espíritos”
Rivail toma em mãos a tarefa para a qual fora convocado, analisa o conteúdo da enorme quantidade de comunicações mediúnicas que tinha ao seu alcance, fez todas as anotações necessárias, eliminou as repetições, ordenou as matérias em registo, além de ter identificado as lacunas e pontos duvidosos, preparando questões específicas para esclarecer em comunicações futuras.
Ainda ele próprio:
«…até então, as sessões em casa do Senhor Baudin não tinham nenhum objectivo determinado.
O que levei a cabo então foi esclarecer os problemas que me interessavam do ponto de vista filosófico, psicológico e da natureza do mundo invisível; para cada sessão preparava um conjunto de perguntas metodicamente ordenadas, as quais sempre obtinham respostas precisas, aprofundadas e de sentido lógico, donde a modificação completa do carácter de tais reuniões.
Estas eram, além disso, presenciadas por pessoas sérias e vivamente interessadas. Se por acidente faltava a uma reunião, os assistentes ficavam como que perdidos, perdendo sentido para a maioria a futilidade das questões.
O meu intento não era o da minha própria aprendizagem; mais tarde, quando senti que o conjunto de noções disponível formava conjunto e tomava as proporções de uma doutrina, pensei publicá-las para elucidação geral. Foi esse conjunto de ideias, sucessivamente desenvolvidas e completadas, que constituiu a base de «O Livro dos Espíritos…».
Em 1856 Rivail seguiu as reuniões que se realizavam na Rua Tiquetonne, na casa do Senhor Roustan (não confundir com advogado Jean-Baptiste Roustaing, de Bordéus, promotor do gravoso “cisma roustainguista”, de que teremos de falar mais tarde) com a presença da Mademoiselle Japhet, médium, que trabalhava ainda pelo processo da cesta que produzia, aliás, comunicações muito interessantes. Essas sessões foram dirigidas no sentido de controlar as noções anteriormente organizadas.
Allan Kardec esclarece:
«…A verificação feita desse modo não me satisfazia ainda de acordo com a recomendação que recebera dos Espíritos. As circunstâncias tinham-me posto em contacto com outros médiuns e, cada vez que a ocasião se apresentava, fazia perguntas de modo a resolver as questões mais espinhosas. Deste modo houve mais de dez médiuns a colaborar na realização desta tarefa. É da comparação e da combinação de todas essas respostas, devidamente ordenadas e muitas vezes cruzadas no silêncio da meditação, que redigi a primeira edição do « Livro dos Espíritos » publicado no dia 18 de Abril de 1857… »
Publicada sob a autoria do seu pseudónimo a obra conheceu um sucesso tal que se esgotou em pouco tempo. No ano seguinte houve uma reedição revista e largamente aumentada.
Houve nova edição em Abril de 1860, outra em Agosto de 1860, outra ainda em Fevereiro de 1861 ou seja, três edições em menos de um ano,
1858, a “Revue Spirite”
Pressionado pelos acontecimentos e pelos documentos que tinha na sua posse, Allan Kardec – com razões fundamentadas no sucesso do « Livro dos Espíritos » –concebeu o projecto de criar um jornal espírita, para o que se dirigiu ao Senhor Tiedeman em busca de apoio financeiro, o que este recusou.
Consultou por isso os seus guias espirituais, por intermédio do médium Senhora E. Dufaux, tendo-lhe sido dito que lançasse mãos à obra, sem se inquietar com nada.
O primeiro número saiu no dia 1 de Janeiro de 1858, à sua exclusiva responsabilidade, não tendo tido que se arrepender, dado que o êxito da iniciativa ultrapassou de longe todas as expectativas.
Esta tarefa iria ampliar-se, tanto no que toca ao trabalho como às responsabilidades, em luta contra toda a sorte de entraves, obstáculos e perigos. À medida que isso sucedia ia também aumentando a sua coragem e determinação, o que produziu frutos durante onze anos de publicação da «REVUE SPIRITE» cujo bom acolhimento e cujos conteúdos constituem um marco histórico de toda a importância no devir e no alargamento das conquistas da doutrina dos Espíritos.
Em 12 de Junho de 1856 havia-lhe sido feita uma comunicação mediúnica do ESPIRITO DA VERDADE, seu guia, por intermédio do médium Mademoiselle Aline C., para as enormes dificuldades e campanhas negativas que iria ter de enfrentar ao longo do cumprimento da sua tarefa. Dez anos depois, diria Allan Kardec a esse respeito :
«…Escrevo esta nota no dia 1 de Janeiro de 1867, dez anos e meio depois dessa comunicação me ter sido feita, e concluo que ela se concretizou em todos os detalhes, dado que sofri todos as vicissitudes nela indicados.
Fui ameaçado pelo ódio de inimigos encarniçados, à injúria, à calúnia, à inveja e ao ciúme; libelos infames foram publicados contra mim; as minhas melhores indicações foram desvirtuadas; fui traído por aqueles em quem tinha depositado toda a confiança, e recebi a ingratidão como pagamento de serviços prestados.
A «Société de Paris» foi um alfobre de contínuas intrigas urdidas por aqueles que se diziam do meu lado, que me faziam boa cara pela frente e me dilaceravam por detrás. Disseram que aqueles que tomavam o meu partido estavam subornados por mim com dinheiro que ganhava com o espiritismo.
Nunca mais tive descanso; mais do que uma vez sucumbi sob o excesso de trabalho, a minha saúde degradou-se e a minha vida foi prejudicada. No entanto, graças à protecção e à assistência dos bons espíritos que sem cessar me deram provas da sua solicitude, estou feliz por reconhecer que nem um só instante passei pelo desfalecimento ou pela falta de coragem, e que sempre persisti na minha tarefa com o mesmo ardor, sem me preocupar pela malevolência de que era objecto.
De acordo com a comunicação que havia recebido de parte do ESPÍRITO DA VERDADE, deveria contar com todas essas coisas, o que veio realmente a suceder…»
Estas e outras realidades, passados muitos anos, continuam a marcar o nosso quotidiano e as limitações e dificuldades daqueles que, honesta e generosamente, continuam a desejar o progresso moral da humanidade, o seu aperfeiçoamento espiritual e o bom viver que pressupõe a difusão da nossa doutrina.
1867, Léon Denis e… uma sessão à luz das estrelas
O segundo Império de Napoleão III reinou em França de 1852 a 1870 de forma autoritária e teve, além de muitos episódios dolorosos para o seu povo um fim catastrófico com o desastre da guerra franco-prussiana e a morte no exílio.
Para ilustrar o ambiente, apenas um pequeno incidente “normal” do que se passava na sociedade francesa durante esses tempos, descrito por Léon Denis: este havia lido aos 18 anos “O Livro dos Espíritos” de Allan Kardec, o que constituiu para ele “uma súbita iluminação de todo o seu ser” e, cerca de três anos mais tarde (tendo 21 anos de idade e Hippolyte Léon 63) colaborou com a organização de uma sessão de esclarecimento feita por Allan Kardec na cidade de Tours, em 1867.
Léon Denis havia alugado uma sala onde o mesmo teria lugar.
A polícia imperial não esteve pelos ajustes e a sessão foi proibida, acabando por decorrer, “à luz das estrelas” como refere Léon, no jardim de um amigo. Nessa sessão campestre dirigida por Allan Kardec teriam estado presentes cerca de trezentos devotados seguidores.
Por essa altura o interesse pelo espiritismo tinha já feito caminho e a adesão à doutrina, que mais tarde foi decaindo em França devido à pressão da cultura oficial materialista, e registava um progresso pujante, em clima de grande desespero moral dos cidadãos.
Léon Denis 1846 – 1927
Filósofo, escritor, conferencista, Léon Denis, desenvolveu intensa actividade na divulgação do espiritismo e assinou, em 1927, o prefácio de uma nova edição do livro da autoria de Henri Sausse, um dos mais devotados investigadores da biografia de Allan Kardec.
Muito mais tarde viria a merecer o epíteto de “Apóstolo do Espiritismo” e a ser aclamado em 1925 presidente do Congresso Espírita em Paris.
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Regresso de Hippolyte Léon ao mundo dos Espíritos
Depois de uma vida magnificamente intensa coroada pela concretização de uma tarefa que representa o esclarecimento das questões centrais da vida do homem, sua origem e seu futuro, Hipollyte Léon/Allan Kardec acabou por falecer naturalmente, pela ruptura de um aneurisma, entregue a tarefas normais de uma programada mudança de residência.
O seu funeral foi um acontecimento público do maior relevo, acompanhado por uma multidão de pessoas, entre as quais figuravam numerosas individualidades ligadas aos interesses de carácter científico de que abundantemente compartilhava.
Camille Flammarion (1842 – 1925)
Muito adequadamente, um dos cientistas que usou da palavra, tanto por ser seu amigo como por ser adepto das mesmas concepções, foi o prestigiado astrónomo Camille Flamarion, cujo discurso passou a constituir um marco referencial dos depoimentos a respeito de Allan Kardec, de que a seguir se incluem alguns fragmentos:
“…Com efeito, seria um acto importante aqui estabelecer (…) que o exame metódico dos fenómenos, erradamente chamados sobrenaturais, longe de renovar o espírito supersticioso e de enfraquecer a energia da razão, ao contrário, afasta os erros e as ilusões da ignorância e serve melhor ao progresso que a negação ilegítima dos que não se querem dar ao trabalho de ver…”
“…Allan Kardec era o que eu chamarei simplesmente “o bom senso encarnado”. Raciocínio recto e judicioso, aplicava, sem esquecer, à sua obra permanente as indicações íntimas do senso comum. Aí não estava uma qualidade menor, na ordem das coisas que nos ocupam. Era – pode-se afirmar – a primeira de todas e a mais preciosa, sem a qual a obra não poderia tornar-se popular, nem lançar no mundo as suas raízes imensas…”
“…O espiritismo não é uma religião, mas uma ciência, da qual apenas conhecemos o á-bê-cê. O tempo dos dogmas terminou. A Natureza abarca o Universo. O próprio Deus, que outrora foi feito à imagem do homem, não pode ser considerado pela Metafísica moderna senão como um espírito na Natureza. O sobrenatural não existe. As manifestações obtidas através dos médiuns, como as do magnetismo e do sonambulismo, são de ordem natural e devem ser severamente submetidas ao controle da experiência. Não há mais milagres. Assistimos à aurora de uma Ciência desconhecida. Quem poderá prever a que consequências conduzirá, no mundo do pensamento, o estudo positivo desta Psicologia nova?…”
“…tu foste o primeiro que, desde o começo de minha carreira astronómica, testemunhou uma viva simpatia por minhas deduções relativas à existência das Humanidades Celestes; porque, tomando nas mãos o livro “Pluralidade dos mundos habitados”, puseste-o a seguir na base do edifício doutrinário que sonhaste…”
“…O corpo cai, a alma fica e retorna ao Espaço. Encontrar-nos-emos num mundo melhor. E, no céu imenso, onde se exercitarão as nossas mais poderosas faculdades, continuaremos os estudos que na Terra dispunham de local muito acanhado para os conter. Preferimos saber esta verdade, a crer que jazes por inteiro neste cadáver, e que tua alma tenha sido destruída pela cessação do jogo de um órgão. A imortalidade é a luz da vida, como este sol brilhante é a luz da Natureza…”
“…Até logo, meu caro Allan Kardec, até logo”.
(publicado na Revue Spirite, em 1869).
Henri Sausse, o mais importante biógrafo de Allan Kardec
A biografia de Allan Kardec da autoria de Henri Sausse é um livro que francamente recomendo a qualquer interessado. Foi escrita uma primeira versão em Março de 1896 para acudir a uma solicitação feita pelos seus amigos de Lyon da Federação Espírita Lionesa, por altura da comemoração do dia 31 de Março, data do falecimento do codificador, e mais tarde publicado nessa cidade – também em 31 de Março – mas de 1909. A versão que consultei para redigir este breve resumo é consultável aqui. Além dos dois prefácios, é seguida do historial comentado da vida de Hippolyte Léon/Allan Kardec e tem como anexos artigos importantíssimos da autoria do mesmo e que constituem, como afirma Henri Sausse, uma espécie complementar de autobiografia do próprio, dada a raridade de referências exactas a respeito da sua personalidade propriamente dita.
Uma visão resumida das obras de Allan Kardec
Allan Kardec
O LIVRO DOS ESPÍRITOS /1857
É a sistematização metodológica do ensino coletivo dos Espíritos, quanto às Causas Primárias, ao Mundo Espírita e às suas relações com os homens, às Leis Morais e às Esperanças e Consolações. Sublinhe-se que os restantes livros principais da obra de Allan Kardec são desenvolvimentos, mais ou menos por capítulos, dos conteúdos deste livro, que é a obra fundadora da visão espírita do mundo e da vida.
REVISTA ESPÍRITA / 1858 a 1869
A Revista Espírita foi criada por Allan Kardec em janeiro de 1858 e foi publicada mensalmente sob a sua direção até março de 1869, mês em que faleceu, tendo sido ainda publicado o número que tinha preparado para o mês seguinte. Representa um trabalho gigantesco de 136 fascículos mensais, com uma totalidade de cerca de 4.000 páginas, ao longo das quais está documentado todo o seu trabalho na defesa e divulgação do espiritismo. Contou com inúmeras colaborações das mais diversas origens na Europa e no mundo, sobre os mais diversos aspetos da fenomenologia espírita e outros assuntos relacionados. Segundo palavras do próprio Allan Kardec eram do interesse da Revista Espirita: “O relato das manifestações materiais ou inteligentes dos Espíritos, aparições, evocações, etc., bem como todas as notícias relativas ao espiritismo; o ensino dos Espíritos sobre as coisas do mundo visível e do invisível; sobre as ciências, a moral, a imortalidade da alma, a natureza do homem e o seu futuro; A história do espiritismo na antiguidade; as suas relações com o magnetismo e com o sonambulismo; a explicação das lendas e das crenças populares, da mitologia de todos os povos, etc.”.
A Revista também dá testemunho das controvérsias que Allan Kardec enfrentou na defesa e na divulgação da nova cultura. Apresenta a correspondência que trocou com inúmeros opositores a quem respondia sempre de forma construtiva, dialogante e racional. Descreve a sua atividade no seio de um movimento que se afirmou muito rapidamente na sociedade francesa, sobretudo no mundo do trabalho e dos direitos sociais.
A Revista foi um instrumento fundamental na construção do espiritismo, por documentar e abrir horizontes sobre todos os temas que Allan Kardec tratou nas outras cinco obras fundamentais.
Dá-nos uma ideia do seu esforço e sofrimento pessoal, ao longo de 11 anos, dando a conhecer o homem por detrás do escritor.
O LIVRO DOS MÉDIUNS / 1861
Este é considerado o livro científico do espiritismo, por tratar do carácter experimental das comunicações entre o mundo espiritual e o mundo material, esclarecendo as principais dificuldades que se podem encontrar na prática do espiritismo. É um guia, tanto para os médiuns como para os evocadores e doutrinadores. Faz o desenvolvimento da matéria constante dos capítulos I a VIII do Livro Segundo de O Livro dos Espíritos, cujo tema é o “Mundo Espírita ou dos Espíritos”.
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO / 1864
É a obra que desenvolve o Livro Terceiro de O Livro dos Espíritos, isto é, a matéria relacionada com as Lei Morais. Abordando o ensino moral contido nos quatro Evangelhos canónicos, fornece-nos a visão espírita dos principais episódios da vida de Jesus, clarificando a subjetividade alegórica dos seus ensinamentos.
O CÉU E O INFERNO – ou “A Justiça Divina segundo o Espiritismo” / 1865.
Faz o desenvolvimento do Livro Quarto de O Livro dos Espíritos que tem por título “Esperanças e Consolações”; expõe alguns conceitos segundo a óptica espírita: a vida após a morte, o Céu, o Inferno, o Purgatório e a Justiça Divina, seguido de numerosos exemplos acerca da situação real da alma durante e depois da morte.
A GÉNESE, os Milagres e as Profecias segundo o Espiritismo / 1868
– É o desenvolvimento do Livro Primeiro de O Livro dos Espíritos que trata das causas primárias, com uma análise da génese, ou criação do mundo, contida no primeiro livro da Bíblia (Génesis), vista a uma nova luz “…graças à qual o homem sabe de onde vem e para onde vai, porque se encontra agora no planeta Terra e porque sofre; sabe que tem o seu futuro nas mãos e que a duração do seu cativeiro depende de si. A Génese, saída da alegoria, mostra-se-lhe grande e digna da majestade, da bondade e da justiça do Criador. Sob este ponto de vista, a Génese irá ultrapassar e vencer a incredulidade…” citação de um breve trecho de A Génese, n° 26 do capítulo XII – sobre a Génese Mosaica (os seis dias e o paraíso perdido).
No restante, a obra debruça-se sobre o fenómeno dos “milagres e das profecias do Evangelho”, igualmente à novíssima luz da racionalidade emancipadora da cultura espírita.
É fundamental para conhecer factos da maior importância relacionados com “A Génese”, a sua autoria e devir histórico, que inclui gravíssimas distorções da sua mensagem, agora felizmente esclarecidos.
É IMPORTANTÍSSIMO LER O TRABALHO INSERIDO
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Da noção de “campo estruturador” à ideia de Modelo Organizador Biológico
Coloquemos limalha de ferro sobre um papel e, por debaixo do papel, um íman. A limalha “organiza-se” imediatamente sobre a superfície do papel, construindo uma estrutura (ou modelo…) de fragmentos, num formato deste tipo:
O que a imagem mostra é a “ação estruturadora” de uma força magnética sobre as partículas de limalha de ferro. O “campo energético” do íman exerce um efeito mecânico sobre a limalha, que fica “organizada” sobre a folha de papel de acordo com o seu “potencial estruturador”.
No momento em que o nosso querido pai depositou no corpo de nossa querida mãe a sementinha que se associou ao óvulo que nela tinha surgido oportunamente, o nosso perispírito, devidamente alertado pelo “departamento celeste das reencarnações” tomou posição, apoderando-se imediatamente do papel que lhe coube na formação das nossas entidades pessoais.
O perispírito passou a ter, desde esse momento, sobre todas as nossas células, tecidos, órgãos e sobre todos os incontáveis aspetos da nossa individualidade, exatamente as mesmas funções de “campo energético estruturador” que o íman teve sobre a limalha de ferro.
O perispírito, em serviço instante por instante, desde a conceção até ao fim dos nossos dias!…
O íman serviu-nos aqui como ideia básica de um campo estruturador, ou seja, uma fonte de energia que pode orientar partículas de matéria segundo certo “modelo estruturado”.
É isso que faz o nosso perispírito mas, evidentemente, de forma infinitamente mais complexa e inteligente e, seja dito desde já, numa tarefa de longa duração que – além de funções de natureza transcendente – é o gestor vital do funcionamento do corpo durante a vida e se estende para além da morte, durante toda a nossa evolução, ao serviço do Espírito.
Esta sequência de imagens, meramente esquemáticas, representa aquilo que se passa no ventre das futuras mães, no que toca à vertiginosa multiplicação de células durante os primeiros 23 dias de gravidez. No 23º dia é possível ver-se já o saco amniótico, com as primícias do embrião e o próprio cordão umbilical. Elaborações complexíssimas, dirigidas por um prodigioso MODELO ORGANIZADOR BIOLÓGICO: o perispírito, sob a direcção do Espírito detentor de uma DIVINA partícula de PRINCÍPIO INTELIGENTE.
A organização de um ser, o mais complexo e extraordinário de toda a criação
Se não fosse o perispírito, o que teria acontecido ao desenvolvimento do embrião já em processo rapidamente evolutivo no corpo de nossa querida mãe?
As células corporais, multiplicando-se anarquicamente, tornar-se-iam apenas uma massa informe sem nenhum dos atributos de um corpo, capaz de servir como habitáculo funcional e dinâmico.
Com efeito, o processo normal que dá origem à gestação de qualquer ser humano é orientado por um extraordinário campo energético que é o perispírito, superiormente dirigido, não esqueçamos isso, por um ESPÍRITO em tarefa de aprendizagem e evolução positiva, incessante e infinita.
Todas as pessoas ficam enternecidas e impressionadas com a formação da vida, e todos acham prodigioso que a simples atitude de gerar filhos aconteça com tão impressionante normalidade.
O prodígio da criação dos seres assim configurado, nada tem de singelo ou casual. Deriva, sim, de um encadeado admirável de propriedades excelentes dos seres vivos, animados pelo Espírito, e destinados a nascer, crescer e desenvolverem-se norteados pelos mais extraordinários privilégios da sua condição divina.
O Espírito dos seres humanos usa o potencial energético do seu perispírito desde sempre, para governo do corpo material e para que cumpra um sem número de tarefas imprescindíveis à formação e evolução dos seres. Usa-o também como seu corpo subtil durante as existências entre encarnações, e continuará a ser dispositivo fundamental ao longo de toda a sua evolução até alcançar o invejável estatuto de Espírito puro.
Conforme claramente nos ensina a pergunta nº 186 de “O Livro dos Espíritos”: Há mundos em que o Espírito, deixando de viver num corpo material, só tem por revestimento o perispírito? – Sim, esse mesmo revestimento torna-se de tal maneira purificado que é como se não existisse. É o estado dos Espíritos puros.
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NOTA: As imagens acima foram pesquisadas e pertencem a um livro do ensino secundário em Portugal, da autoria de Jacinto Rosa Moreira, Helena Sant’Ovaia e Vítor Nuno Pinto, com revisão científica de Nuno Formigo e revisão pedagógica de Margarida Morgado, e foi editado por Areal Editores. Como referência essencial, devo acrescentar que foi usado por um dos meus netos. ……………………………………
O Homem de Vitrúvio, LEONARDO DA VINCI – 1490
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NOTA: este texto é a Nota final nº 72 da nossa tradução de “O Livro dos Espíritos”
Ao ler o conteúdo de “O Livro dos Espíritos” e tudo o que ele nos diz a respeito da evolução dos seres humanos, já ficámos com uma ideia da “concentração de complexidades” que o nosso veículo perispiritual carrega consigo. A ciência atual, oferecendo-nos informações técnico-científicas que a experiência e os factos confirmam, ajuda-nos a construir uma imagem mais compreensível da sua verdadeira natureza e propriedades.
Apresentamos algumas ideias base, ponto de partida para as pesquisas que os leitores desejarem fazer:
Texto de Gabriel Delanne, Carlos de Brito Imbassahy, e Reinaldo di Lucia, importantes expoentes de épocas diversas da investigação científica relativa a temas de espiritismo;
A seguir ao texto de Carlos de Brito Imbassahy, por fazer parte dos investigadores que ele mesmo refere, fazemos alusão a um notável cientista norte americano, Harold Saxton Burr, que trabalhou em eletrodinâmica biológica e fez investigações acerca dos “campos de vida” (fields of life) e dos “agentes estruturadores”, termos e ideias fundamentais para a compreensão da natureza e funcionamento do perispírito.
Fragmentos de Gabriel Delanne:
“…Se realmente existe no homem um segundo corpo, que é o modelo inabalável pelo qual se ordena a matéria carnal, compreende-se que – apesar do turbilhão de matéria que se movimenta no corpo humano – se mantenha em nós o tipo individual que nos caracteriza, no meio das incessantes mutações resultantes da desagregação e da reconstituição de todas as partes do corpo, comparáveis a uma máquina à qual, a cada instante, se mudassem todas as suas partes constituintes. O perispírito é o regulador das funções, o arquiteto que vela pela manutenção do edifício, porque essa tarefa não pode depender essencialmente das atividades cegas da matéria.
Reflitamos sobre:
A diversidade dos órgãos que compõem o corpo humano;
Os tecidos que servem à construção dos órgãos;
A cifra prodigiosa de muitos triliões de células aglomeradas, que formam todos os tecidos;
O número colossal de moléculas do protoplasma;
E, enfim, a imensa quantidade dos átomos que constituem as moléculas orgânicas.
Achamo-nos em presença de um verdadeiro Universo, tão variado que ultrapassa em complexidade o que a imaginação possa conceber.
A maravilha é a ordem que reina nesses milhares de milhões de ações enredadas.
(…) Se no meio desse turbilhão existe um factor que permanece estável, é lógico que seja ele o organizador ao qual a matéria obedece. Esse factor é o perispírito, visto que é evidente a sua existência durante a vida, como é evidente que existe para além da morte. Os avanços no conhecimento das suas propriedades resultarão preciosíssimos no domínio da Fisiologia e da Medicina.
O que os antigos chamavam a “vis medicatrix naturae” é o mecanismo estável, incorruptível, sempre ativo, que defende o organismo contra as ações mecânicas, físicas, químicas e microbianas às quais está sempre sujeito, e que recompõe a cada instante a integridade do ser vivo quando é afetada.
Numa palavra, o corpo não é somente um aglomerado de células justapostas: é um todo harmónico cujas partes constituintes têm funções bem definidas, subordinadas ao papel que desempenham no plano geral.
Claude Bernard (1813 – 1878) Fundador da Medicina Experimental
O perispírito é a realização física dessa “ideia diretora”, que o grande cientista CLAUDE BERNARD assinalou como a verdadeira característica da vida. Essa “ideia diretora” é também o “desígnio vital” que cada um de nós realiza e conserva ao longo de toda a sua existência…”
Texto pesquisado e traduzido a partir da obra “Documents pour servir à l’étude de la Réincarnation” (A Reencarnação). Paris: Éditions de la B.P.S, 1927.
Palavras de Carlos de Brito Imbassahy *
Breve citação de um texto visto no site Era do Espírito enviado a Ellio Mollo pelo autor no dia 2 de novembro de 2007; Tema, “O Perispírito ante a Psico-bio-física”
“…o “campo de vida” seria o que Kardec definiu como perispírito e o “agente estruturador” seria, portanto – e por correspondência – o Espírito encarnante.(.,,)
“… o campo pode ser definido como sendo a área física em torno de um agente qualquer sobre a qual sua ação é percebida. Exemplificando: em torno de uma fogueira há uma região em que seu calor é percebido; será, pois, o campo térmico da mesma. O íman é sempre o exemplo ideal porque em sua volta há uma região restrita de atração fora da qual ela não é sentida.”
“. A primeira característica de qualquer campo é a energia atuante e relacionada com o agente estruturador. O campo do imã tem a propriedade de aglutinar limalhas de ferro e níquel dando-lhes uma formação relacionada com o imã, criando imagens conhecidas como “linhas de força” do campo.
Temos aí uma ideia do que Kardec disse ao definir o perispírito como não sendo material, ou melhor, sendo semimaterial, porque teria esta propriedade aglutinadora de reunir a energia cósmica em si como o campo do imã quando atua sobre as aludidas limalhas.
Esta energia cósmica modulada por um agente físico que atua em determinada região em torno do seu agente estruturador é conhecida como sendo um dos estados físicos da energia fundamental. Assim, o conceito de “semimaterial” emitido à época de Kardec satisfaz plenamente às condições de conhecimento da atualidade. O perispírito só tem sentido porque é capaz de agir de forma semelhante, agregando energia cósmica em seu campo para poder atuar sobre as células orgânicas fetais no útero materno, quando no processo encarnatório.
campo do íman também é formado de energia agregada a ele, sem o que jamais atuaria sobre as limalhas.
Cabe lembrar que, na época de Kardec, não se conhecia a energia. O próprio Newton teria definido a energia cósmica fundamental como sendo um fluido, o FCU. Portanto, naquela época, não sendo material, só poderia ser considerado como “semimaterial”. Entenda-se, pois, desta forma, o conceito em apreciação.”
Propriedades do perispírito
(…) “…Rigorosamente coerente com o que Kardec informa em O Livro dos Médiuns e na Seleta de artigos da Revista Espírita, vamos chegar às seguintes conclusões obtidas pela verificação feita em laboratório com uso de aparelhos espectrográficos capazes de detetar o aludido “campo de vida”:
– O perispírito é elaborado pelo Espírito segundo suas necessidades junto ao mundo cósmico em que vá viver;
– É um campo quântico de natureza psíquica capaz de estruturar células orgânicas e formar corpos somáticos;
– Em decorrência da propriedade anterior, ele detém a condição de transmitir ao corpo dito somático as suas necessidades orgânicas decorrentes da vida que deva ter;
– Como tal, comparando-o ao campo de uma fita de gravador, ele pode interferir diretamente no corpo somático modulando-o para que ele se estruture segundo suas necessidades encarnatórias.
– No sentido inverso, ele pode gravar tudo o que o encarnante faça durante sua vida terrena, sendo o arquivo temporário das suas reações; dessa forma, nossas atitudes presentes podem se refletir nas vidas futuras e o “assim como fizeres, assim acharás” terá plena justificativa, lembrando que, como numa pilha elétrica, toda energia que emana de um polo volta para o outro, fechando o circuito; caso contrário, ela não circula pelo mesmo.
– Sendo transitório, como todo e qualquer campo, decorrente da ação indutora do agente, ele não poderá ser o registro de nossos atos, ou seja, a “memória inconsciente” freudiana, arquivo de todos os nossos atos passados, mas servirá de elo entre nossa vida encarnada e os demais campos e sistemas integrados do Espírito. – Do mesmo modo que um campo de um condutor elétrico se modifica de acordo com a corrente que passe por ele, também o perispírito será modulado pela índole ou variação de sentimentos do Espírito, motivo pelo qual este necessita de um ambiente compatível com a sua evolução para nele se encarnar, a fim de que seu perispírito possa atuar nas suas energias materiais.
O que se pode concluir é que tudo isso foi comentado por Kardec sem que, à sua época, se tivesse noção ou o conhecimento atual relacionado com um campo energético e principalmente, de natureza psíquica.”
* O Engenheiro e professor universitário Carlos de Brito Imbassahy é investigador espírita com formação científica, muito conhecido no universo espírita brasileiro, tem numerosos artigos e livros publicados a respeito do tema de que tratamos aqui. É filho de Carlos Imbassahy (1883-1969), advogado, jornalista e importante individualidade ligada ao espiritismo brasileiro.
– A Eletrodinâmica Biológica e a noção dos “campos de vida” e dos “agentes estruturadores” na obra de Harold Saxton Burr (citado em textos da autoria de Carlos de Brito Imbassahy).
Harold Saxton Burr (1889-1973) cientista norte americano não espírita, não foi o único investigador a ter interesse por estes temas e a estudá-los.
Na linguagem dos homens de ciência é possível afirmar que tudo o que existe, visível ou invisível, obedece ao potencial organizador de “campos de vida”, “agentes estruturadores” ou “FRAMEWORKERS”.
Harold S. Burr foi professor da “Yale University School of Medicine”, na área da neuroanatomia e da eletrodinâmica biológica. As suas principais áreas de estudo foram: “A teoria eletrodinâmica da vida”; “As características elétricas dos sistemas vivos” e “A comprovação da existência de campos eletrodinâmicos nos organismos vivos”.
Há três obras suas bastante marcantes: “A Natureza do Homem e o Significado da Existência”, “Projeto para a Imortalidade” e “Os Campos de Vida, as Nossas Ligações com o Universo”.
Na sua obra “A Natureza do Homem e o Significado da Existência” de 1962, a que tivemos acesso online, conclui de forma muito expressiva, e com argumentos científico-filosóficos, pela existência de DEUS.
Recomendamos vivamente a leitura desta obra, que pode ser consultada online, e descarregada, página a página, pelo menos nos “sites” de duas bibliotecas universitárias dos EUA.
O Perispírito / Uma abordagem do século XX
Reinaldo Di Lucia *
Incluímos esta breve citação do investigador aqui referido, por ser o documento mais recente que conseguimos encontrar, de fonte espírita, com referências científicas, a respeito do perispírito. Com efeito foi publicado no site do Instituto Cultural Kardecista de Santos em 5 de setembro e 10 de outubro de 2016, como atualização de outro artigo do mesmo autor e com o mesmo título, publicado em outubro de 2002 no Caderno Cultural Espírita.
“…Dentre todos os continuadores do pensamento de Allan Kardec, Delanne é o que maior importância atribui ao perispírito. Provavelmente, isto se dá na medida em que é de grande dificuldade para qualquer pessoa adepta ao positivismo, aceitar que o Espírito, este ser imaterial e, para muitos, puramente abstrato, possa ser o princípio de todas as manifestações intelectivas do homem.
Assim, ele vai atribuir ao perispírito uma gama significativa de funções relativas à organização ou mesmo às capacidades inteligentes do ser humano. As principais funções cujas bases são por ele atribuídas ao perispírito são sumariamente descritas abaixo.
Primeiramente, temos a formação do corpo físico. Delanne depara-se com o problema de explicar como o corpo físico pode ser formado com tantos detalhes e reconstruído, com a mesma semelhança, sempre que certas partes são destruídas. Lança mão então da explicação perispiritual:
A força vital por si só não bastaria para explicar a forma característica de todos os indivíduos, e tampouco justificaria a hierarquia sistematizada de todos os órgãos, sua sinergia em função de um esforço comum, visto serem eles, simultaneamente, autónomos e solidários. Neste ponto é que incide o ascendente da intervenção do perispírito, ou seja, de um órgão que possua as leis organogenéticas, mantenedoras da fixidez do organismo, através de constantes mutações moleculares.”
O perispírito é então, em sua opinião, o modelo fluídico, o molde que servirá para construir o corpo físico. Como veremos, esta também é a opinião de Hernâni Guimarães, atualizando o raciocínio a partir de recentes descobertas científicas.
A grande preocupação desse pensador, para atribuir ao perispírito o papel de molde do corpo está na explicação da forma. Enquanto que ele podia perfeitamente admitir uma força vital primária idêntica para todos os seres vivos, desde a planta até o homem, pressupunha que deveria existir uma outra força que diferenciasse as muitas espécies no que tange à sua forma. Essa força seria o perispírito.
Em segundo lugar, Delanne dá ao perispírito um papel psicológico fundamental. Para ele, o perispírito é a base da memória do homem, a qual, por sua vez, é fundamental para a asseguração contínua de sua identidade.
Ele baseia esta opinião sobre a ideia que, mais que qualquer outra célula do corpo humano, as do cérebro são substituídas rapidamente, o que impossibilitaria a manutenção, neste órgão, da memória.
“O cérebro, porém, muda perpetuamente, as células dos seus tecidos são incessantemente agitadas, modificadas, destruídas por sensações vindas do interior e exterior. Mais do que as outras, essas células submetem-se a uma desagregação rápida e, num período assaz curto, são integralmente substituídas.”
Partindo do principio acima descrito, o eminente pensador espírita debita ao perispírito a função da memória, já que esta não poderia ser unicamente do corpo. Em sua tese, qualquer facto guardado pela memória é registrado no perispírito. Quando uma célula cerebral morre, é substituída por outra formada pelo mesmo perispírito, que lhe imprimirá, qual disco gravado por uma matriz, as mesmas impressões que ele próprio guarda. Fica assim resguardada a memória.
Ideias semelhantes a essas são igualmente defendidas por Léon Denis e Gustave Geley, em vários dos seus livros, o que nos dá a impressão que eram bastante difundidas no meio espirita à época – apesar de não terem sido defendidas por Kardec em sua obra.
(•••)
Em resumo, as principais ideias sobre o perispírito expostas por estes eminentes pensadores, e ainda hoje bastante difundidas no movimento espírita são:
O perispírito é um envoltório do espírito, que o acompanha desde a sua criação e, portanto, preexistente ao nascimento e sobrevive à morte do corpo físico. É composto de matéria, porém, em nível diferente daquela a que os encarnados estão acostumados. Kardec afirma ser uma matéria “quintessenciada”, obtida por modificação direta do fluido cósmico (que é a matéria primordial), contendo ainda elementos do princípio vital e mesmo de componentes físicos e eletromagnéticos.
A sua composição energética é tanto mais densa, ou menos subtil, quanto menos evoluído (do ponto de vista intelectual e moral) for o espírito. Com a evolução deste, vai-se tornando mais subtil, ainda que não se saiba ao certo o que isto significa fisicamente, mas sempre acompanha o espírito.
É totalmente sujeito à vontade do espírito, que pode plasmá-lo a seu gosto e dar-lhe a forma que
Serve como elemento de ligação entre o espírito e o corpo físico, uma vez que um e outro não podem interagir diretamente devido à diferença estrutural entre ambos.
É o elemento que possibilita a manutenção de uma forma para o espírito desencarnado e, assim, permite que este possa identificar-se como uma individualidade.
É o princípio fundamental das manifestações mediúnicas, em especial daquelas caracterizadas como efeitos físicos.
É o molde do corpo físico, uma forma que conteria os elementos informacionais que permitiriam a sua formação e a sua manutenção. Esta função também é a única forma de adequar o surgimento da vida à Segunda Lei da Termodinâmica.
É a sede dos sentimentos e das faculdades, notadamente da memória. Por vezes, é apontado como sede da inteligência.
Possui órgãos e células, como o corpo físico. Este, aliás, é uma cópia daquele.
Reinaldo di Lucia *
(Nota curricular provavelmente desatualizada e inexata)
Engenheiro Químico formado pela Faculdade de Engenharia Industrial, FEI, S.Bernardo,SP; professor universitário, com especialização em Qualidade na Fundação Getúlio Vargas, Reinaldo Di Lucia tem formação em MBA executivo em Gestão Empresarial também pela FGV e pós-graduação em Engenharia de Qualidade pela Faculdade de Engenharia Industrial. Reinaldo di Lucia, da cidade de Santos, Brasil, é membro do Centro de Pesquisa e Documentação Espírita- CPDoc e colunista do Jornal Abertura, mantido pelo Instituto Cultural Kardecista de Santos-ICKS, em que trata de assuntos contemporâneos sob a ótica progressista do espiritismo.
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Prefácio dos tradutores .
Achámos fundamental redigir este prefácio, primeiro para dar o devido relevo a uma obra que, embora escrita numa linguagem e com argumentos fortemente datados, continua a ser da máxima importância para a configuração da cultura a que diz respeito, que tem sido pouco estudada e ainda menos seguida cuidadosamente nos princípios que enuncia. A nossa tradução de “O Livro dos Médiuns”, da mesma forma como dissemos no prefácio de tradutores de “O Livro dos Espíritos”: …resulta da imensa admiração e respeito que temos pelo ensinamento dos Espíritos, na forma que foi metodicamente organizada por Hipólito Leão Dénisard Rivail, aliás Allan Kardec. Confirmando as intenções que nos animaram quando começámos a traduzir Kardec, repetimos que “… se destina tanto a leitores espíritas como não espíritas… dando a conhecer as condições essenciais para aceder à mensagem da obra e aos seus ensinamentos.” Sendo este livro o desenvolvimento da vertente científica do espiritismo, sentimo-nos agora obrigados a dirigir a nossa palavra às pessoas que têm assumido a nobre tarefa de possibilitar a “comunicação dos Espíritos com o mundo material”, tal como foi afirmado na conhecida definição da autoria de Allan Kardec.
“O Livro dos médiuns”,aquele que ensina a aprender com os Espíritos
A base do entendimento dos valores da mediunidade está no edifício de conhecimentos que nos foi deixado por Allan Kardec, mensagem exemplar que podia e devia ter continuado a evoluir usando os métodos e critérios por ele mesmo instituídos.
Sobretudo aqueles que têm o privilégio de falar pelos Espíritos, na nossa opinião, nunca deveriam ter abandonado a pesquisa mediúnica, abrindo cada vez mais o património das informações sobre as vidas depois das vidas, tendo em atenção aquilo que está claramente delineado em muitas das páginas deste livro.
É, pois, urgente, relançar as perspetivas da filosofia que nos legou Kardec, com a ajuda principal do ensino dos Espíritos e com raízes no pensamento da religião natural, configurada antes por filósofos e homens de cultura como Immanuel Kant, Jean-Jacques Rousseau e seus sucessores e discípulos.
Coroando esta ideia, citamos de seguida palavras de Sandro Fontana, inseridas no texto de abertura da Revista Ciência Espírita, Edição 7 de Março de 2016, onde é referida a importância do Controlo Universal do Ensino dos Espíritos (CUEE), tão fundamental para Kardec e, por vezes, tão esquecido nos nossos dias: “É de conhecimento básico do espiritismo que a mediunidade é o seu principal “agente”, ou seja, sem a mediunidade não existiria o espiritismo, principalmente porque a fonte base de informações é proveniente do trabalho beneficente dos médiuns; afinal, são eles quem transmite a informação proveniente do mundo espiritual. Também é de conhecimento geral espirita que, “a opinião de um Espirito é somente uma opinião”, sendo assim esse pressuposto garante que um Espirito, ao comunicar, está passando as informações que lhe são tangíveis baseada nas suas próprias perceções e seu grau evolutivo. Tanto é assim que Kardec elaborou um método que “cruzava” informações de vários médiuns e espíritos para poder chegar a alguma conclusão sobre um assunto ou tema, lembrando que isso nunca foi, nem deve ser definitivo, como muitos idólatras e dogmáticos pretendem, isso porque a conclusão final ainda é humana e condicionada ao tempo do observador/pesquisador, que é limitado. Então, se toda a fonte básica de conhecimento (e ajuda em muitos casos) é proveniente da mediunidade, por que motivo os Centros Espiritas limitam o desenvolvimento mediúnico?”
A Humanidade, como nunca, à beira de compreender fatualmente a vida depois da morte
A conceção intelectual do espiritismo foi uma extraordinária realização, se atendermos à época em que foi concretizada, com imensa dedicação intelectual e desprendimento pessoal de Allan Kardec, que não quis ser fundador nem dirigente de qualquer movimento instituído. Levava o seu sentido da tolerância até aos limites, sem qualquer desejo abusivo de poder.
A leitura das suas obras, deste “Livro dos Médiuns” e de todos os conteúdos da Revista Espírita, é ainda hoje surpreendente, quer sob o ponto de vista filosófico e científico, a que hoje ─ muito mais do que há um século e meio de distância – vastas áreas da cultura científica se vão rapidamente abrindo.
O espiritualismo científico uma cultura em explosiva transformação
Julgamos não ser necessário reunir argumentos detalhados para demonstrar a evidência deste subtítulo. A explosão citada diz respeito ao esclarecimento da vida depois da morte em praticamente todo o mundo, no contexto das imensas facilidades que os meios de comunicação nos oferecem e da crescente intervenção de cada vez mais qualificadas entidades de pesquisa.
Vamos por partes.
Visitas ao “céu”, com direito a receção e outros detalhes fantásticos…
Há vários domínios da evolução da Humanidade que têm dado passos de gigante na aprendizagem da natureza, da origem e do destino dos seres vivos, sendo de referir em especial o aparecimento – propiciado pelo desenvolvimento técnico-científico dos métodos de ressuscitação – das chamadas “experiências de quase-morte”, as EQM, referidas em inglês como “Near-Death Experiences” − NDE’s.
O número das pessoas que já referiram ter vivido tais experiências – por todo o mundo – conta-se por muitos milhões, em rápida expansão. Muitos dos depoimentos que chegam agora ao nosso conhecimento derivam de fenómenos decorridos há dezenas de anos, visto que estão a ser vencidos os preconceitos e as inibições em falar abertamente sobre esse tema.
Um dos argumentos que confere especial credibilidade à solidez das suas perceções é o facto de serem todas essencialmente semelhantes umas às outras, seja qual for a língua, a cultura e a localização geográfica dos protagonistas.
Os meios internacionais de comunicação e um já larguíssimo número de instituições de pesquisa, a nível mundial, revelam que esses factos são a porta aberta para uma nova visão da vida e da sua continuação para além da morte, apesar de não serem nem novos nem recentes, havendo relatos de tais acontecimentos há já muitos séculos, originários de praticamente todas as grandes culturas.
O despertar do nosso interesse por esses fenómenos data de há mais de vinte anos, e foi em 2013 que publicámos, na internet, uma análise das principais facetas dos depoimentos respetivos, conotando-os com os ensinamentos que nos foram deixados por Allan Kardec:
É favor consultar a página: https://palavraluz.com/2019/12/29/ndeeqmesp-2/
Esses fenómenos, no entanto, são muito antigos…
Afirmámos acima a perenidade no tempo das “Experiências de Quase-Morte”, sendo muito conhecido “O mito de Er”, um dos exemplos mais remotos que se podem referir, contado por Platão no Livro X de “A República”.
Trazendo essas referências para mais perto de nós referimos seguidamente temas da autoria de Kardec que mencionam a ocorrência desses factos, que não tinham ainda adquirido as modernas designações e siglas respetivas.
O primeiro caso foi publicado em 1858, no ano inaugural da Revista Espírita, no mês de Setembro: “Conversas familiares de Além-Túmulo”, em que o fenómeno narrado na América acerca duma Senhora Schwabenhaus foi designado por Allan Kardec como um episódio de “letargia estática”.
Outro exemplo pode ler-se em “O Céu e o Inferno”, Segunda Parte – Exemplos; Capítulo III – Espíritos em condição mediana; Senhor Cardon, Médico; e que também foi publicado na “Revue Spirite” de Agosto de 1863/Conversas familiares de Além-Túmulo; Monsieur Cardon, médico, morto em Setembro de 1862.
Sugerimos a leitura destes dois casos, que não transcrevemos aqui devido à sua extensão. Sobre o Mito de Er é muito fácil encontrar referências concretas disponíveis nas Enciclopédias da Internet.
A grande obra de Allan Kardec, vítima de maus continuadores
Hipólito Leão Denisard Rivail foi um cidadão francês do século XIX, especialmente notável pela sua capacidade de organização intelectual, embora não pertencesse às camadas socialmente privilegiadas dessa época, o que lhe granjeou um perfil cívico e intelectual especialmente notável.
Tendo sido convidado por conhecidos e amigos, a sistematizar o resultado de certas pesquisas mediúnicas que tinham levado a cabo, acabou por aceitar, embora se tivesse declarado à partida muito cético relativamente a toda a matéria que lhe foi proposta.
Foi penetrando no estudo do tema até se ter convencido – pela evidência natural e óbvia dos fenómenos apresentados para estudo – de que era matéria muito importante e merecedora da sua total dedicação.
Nos últimos onze anos da sua vida entregou-se generosamente a essa tarefa tendo deixado atrás de si um importantíssimo património de estudos e observações que constitui o que conhecemos como “espiritismo”.
Não é de estranhar que, após o momento em que faleceu, repentinamente e, pode dizer-se, por exaustão, o escasso número de apoiantes dedicados e coerentes não teve a capacidade de manter ativa e segura a instituição que ele tinha estruturado, e dar continuidade ao trabalho de defesa e promoção das ideias espíritas.
Esse fenómeno acontece, quase por via de regra, com todos os movimentos de transformação profunda da sociedade, sendo todas as alterações positivas combatidas e desvalorizadas pelos seus detratores. Com o espiritismo também isso aconteceu, e foi Pierre-Gaëtan Leymarie que tomou conta dos destinos da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas e operou uma enorme quantidade de oportunismos deformadores das ideias que inspiravam Kardec.
Todas essas modificações abusivas, de desvalorização cultural e científica do espiritismo, conduziram ao seu desprestígio e quase esvaziamento, em França.
Tendo sido levado para o Brasil, por intelectuais muito sérios e bem informados, foi institucionalmente condenado, logo de início, à sua desfiguração, pela adoção de alguns princípios antagónicos das ideias promovidas por Allan Kardec.
Esse foi um dos problemas que apoquentou muitíssimo o desenvolvimento e a unidade dos grupos de interessados no espiritismo, sendo legítimo e da maior utilidade não manter ignorado esse problema pelas suas nefastas consequências, cuja origem e desenvolvimentos são bem conhecidos em Portugal e no Brasil.
Felizmente, 160 anos depois, está em marcha, no Brasil, um vigoroso movimento de recuperação da autenticidade espírita. Várias equipas de trabalho, de pessoas bem qualificadas para o efeito, têm em mãos documentos da época, incluindo grande número de escritos originais redigidos por Allan Kardec, até aqui inteiramente desconhecidos. Essas equipas estão a trabalhar para dar acesso, na sua totalidade, à verdadeira versão do espiritismo proposta por Allan Kardec.
Sugestões para a leitura de “O Livro dos Médiuns”
Também aqui vamos referir algumas ideias que inserimos no prefácio dos tradutores de “O Livro dos Espíritos”.
“…Para quem começa, este não é um livro para ler de empreitada, como uma peregrinação e, muito menos, como uma penitência. Alguns conselhos que aqui registamos aumentarão a recetividade de muitos leitores, dando-lhes a exata noção do que vão encontrar pela frente…”
“…O leitor deve ter a liberdade de procurar inicialmente no livro o que mais lhe interessar, lendo por aqui e por ali os temas mais apetecíveis. Poderá, para esse efeito, consultar primeiramente o Índice.
Leia e releia com atenção o que achar mais válido e interessante.…”
Estas sugestões de leitura têm o propósito de não vincular o leitor a uma leitura demorada de uma obra que não foi redigida de acordo com as modernas técnicas de comunicação e na qual, o seu autor, se dirige a sectores de opinião enfronhados na cultura dessa época, hoje em dia completamente ultrapassada.
Traduzir é escrever tudo de novo, amar como quem dá à luz
Temos lido Kardec com a máxima atenção, usando o conhecimento da língua francesa que, no tempo da nossa juventude, era a segunda língua mais estudada, por ser, como o português, de origem latina, e por ser oriunda de um país de vasta cultura, de onde nos veio – sem ser por acaso – a grande cultura espírita.
Entregámo-nos de início ao trabalho de tradução com o objetivo principal de desvendar com minúcia o significado de cada página, de cada frase, de cada expressão e de todas as palavras, uma a uma. Quando acabámos a tradução do primeiro livro – “O Livro dos Espíritos” – não tínhamos a mínima ideia de podermos um dia tê-lo na nossa mão, impresso em papel como qualquer outro livro.
Serve isto para dizer que, para nós, o principal objetivo–ler o livro com atenção de minúcia e pleno entendimento– estava plenamente alcançado.
Quanto à tradução que foi feita, deu-nos coragem para continuar traduzindo Kardec, maneira excelente de o ler com a máxima penetração que nos é possível.
Após a tradução da primeira obra, já aspiramos ver completa a conclusão dos seus principais cinco livros.
Se Deus nos der vida e saúde, gostaríamos ainda de fazer uma tradução antológica de textos da Revista Espírita, que temos amplamente explorado, visto que é fundamental para instalar devidamente a noção completa do espiritismo edificado pelo nosso grande e íntimo amigo Hipólito Leão, generosamente ajudado pelos Espíritos superiores. Sonhar é fácil e ninguém pode levar-nos a mal que sonhemos. Porque também temos filhos e netos, esse é apenas um dos nossos principais desejos!…
E que Deus nos ajude a todos.
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L’Évangile selon saint Matthieu, Pier Paolo Pasolini. Ao fundo da notícia: comentário a respeito da obra prima e possibilidade de vê-la na íntegra (legendada em português).
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
Tradução para Português de Portugal – 2019 – de José da Costa Brites e Maria da Conceição Brites
O QUE É O ESPÍRITISMO?
Ideias colhidas em “O que é o Espiritismo” de Allan Kardec, 1859
“…O espiritismo funda-se na existência de um mundo invisível, formado pelos seres incorpóreos que povoam o espaço e que são as almas daqueles que viveram na terra, ou noutros planetas. São os seres a que chamamos Espíritos, que nos cercam, exercendo sobre nós uma grande influência e desempenhando papel muito activo no mundo moral…”
“…o Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática consiste nas relações que se estabelecem entre nós e os Espíritos; como filosofia, analisa todas as consequências morais que derivam dessas relações. Podemos defini-lo assim: “…é uma ciência que trata da natureza, da origem e do destino dos Espíritos, bem como das suas relações com o mundo corporal…”
“…o Espiritismo, depois de se tornar conhecido, esclareceu grande número de problemas,até certa altura insolúveis ou mal compreendidos. O seu verdadeiro caráter é o de uma ciência e não de uma religião…”
“O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO” de Allan Kardec, conforme está na capa da obra original,
trata-se categoricamente de: “O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO” e de forma nenhuma de “o Espiritismo segundo o Evangelho”.
Convém fixar esta ideia claríssima e conservá-la em mente, porque é fundamental.
Ou seja, em nenhum dos aspectos desta obra nos é apresentada uma versão do Espiritismo paralela ou directamente derivada do conteúdo narrativo dos Evangelhos, excepto na parte subjacente que corresponde a ensinamentos de Jesus de Nazaré, coincidentes com o ensino moral dos Espíritos, esse sim, fonte legítima e atualizada do Espiritismo.
Portanto,para todos aqueles que têm este livro como uma aproximação tácita a uma conceção evangélica do ensino dos Espíritos, afirmamos redondamente que não é esse o significado que lhe atribuiu o seu autor ou as entidades espirituais que comunicaram os seus conteúdos.
A presença na obra de citações escolhidas dos evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João destinam-se predominantemente à descodificação de fragmentos desses Evangelhos concebidos com o carácter de metáforas ou de parábolas, muitas vezes redigidos numa linguagem místico-alegórica, de situações que nem sequer poderiam ter sido vividas por Jesus de Nazaré.
Citamos apenas um exemplo, entre muitos que poderíamos mostrar: as cenas referíveis a tentações a que Jesus teria sido sujeito pelo próprio “diabo”, que inconcebivelmente o teria levado para o deserto para esse efeito.
Sabemos, pelo estudo da escala espírita que está incluída em “O Livro dos Espíritos” que Jesus, sendo um Espírito puro, estaria definitivamente acima dessa eventualidade, além de que a figura de “o diabo” é meramente teórica e que “o Inferno” não existe.
Pela sua intensidade imaginária, episódios como este, tão totalmente fora da possibilidade real, têm sido expressivamente ilustrados, até em cinema e em vídeo, arrastando a equívocos de carácter lamentável.
Que fique bem claro, portanto, que as explicações dos capítulos que foram acrescentadas pelo autor de “O Evangelho segundo o Espiritismo” a cada conjunto de citações dos Evangelhos, explicam o verdadeiro sentido que lhes é associável no âmbito específico do ensino dos Espíritos.
O ENSINO DOS ESPÍRITOS É BEM CONHECIDO DESDE A ANTIGUIDADE
O livro que apresentamos, logo no número IV da Introdução, inclui um resumo com algum detalhe de um fenómeno geralmente desconhecido e muito pouco discutido nas suas razões histórico-culturais: Sócrates e Platão percursores da ideia cristã e do espiritismo. Esse interessantíssimo momento desta obra fornece uma detalhada referência que comprova que os princípios do espiritismo estão no arquivo dos conhecimentos da Humanidade há muito mais de vinte séculos. Conhecimentos resultantes de muito numerosas trocas de impressões com os Espíritos, exactamente do mesmo tipo de comunicações que foram levadas à prática por Allan Kardec e seus colaboradores, já muito conhecidas nessas recuadas épocas da história da Humanidade.
Esses conhecimentos tiveram condições para se implantarem numa vasta sociedade culta,com grande projecção civilizacional,informando os estudos de notáveis filósofos, grandes homens de ideias e até importantes e diferenciados sectores da sociedade.
Qualquer enciclopédia nos dará uma ideia bastante concreta de “pré-socráticos”, como Pitágoras, fundador da duradoura Escola Pitagórica, com notáveis estudos sobre a alma e a reencarnação e um numeroso grupo de discípulos que se projectou por séculos, em pleno coração da Antiguidade Clássica.
Chamamos a atenção para um simples detalhe, ainda relativo à obra de Platão. Da sua importantíssima obra “A República”, faz parte “O Mito de Er”, a narrativa de um fenómeno do mesmo género de experiências que na actualidade têm atingido notoriedade mundial, com milhões de exemplos registados,investigados em numerosos países com a designação de “EQM -Experiências de Quase-Morte” ou, em inglês, as conhecidíssimas “NDE –Near Death Experiences”.
O DESCONHECIMENTO DO FUTURO EVOLUTIVO –MOTIVO DE MEDOS E ANGÚSTIAS
Uma complexa ordem de transformações que colocaram termo à Antiguidade Clássica, fez com que o ensino dos Espíritos e a vasta zona de influência de que dispunha, tivesse sido irradiado das práticas socio-culturais e ideológicas de toda a sociedade organizada.
Os vestígios de toda essa imensa cultura, foram sendo implacavelmente combatidos pela que se foi instalando nas áreas de predominância dogmática. Não tardaria que as pessoas que praticavam a mediunidade fossem presas e condenadas, como gente que praticava feitiçarias e “falava com o diabo”.
Séculos e séculos duraram em que eram queimadas vivas, como gente maldita e cúmplices do demónio.
O espiritualismo teórico e prático, o conhecimento da vida depois da morte e a evolução da humanidade concebida pelo processo das vidas sucessivas, permaneceu largamente ignorado durante cerca de vinte séculos, que mergulharam no silêncio a consciência fundamental da sequência das vidas e das mortes.
Ao longo desse imenso lapso de tempo as desigualdades e os conflitos sangrentos tiveram a palavra mais pesada nas atitudes e doresda Humanidade, cujas nefastas sementes continuam a ser plantadas num mundo ansioso e desigual, agora já com mais de sete mil milhões de almas.
A ignorância da verdadeira natureza, da origem e do destino dos Espíritos, fez com que se tenham generalizado culturas dominadas pelo materialismo mais violento, causador de desigualdades e conflitos, como bem registam os livros de História de vários continentes. O medo da morte aflige uma grande maioria dos habitantes da Terra,trazendo a inquietação e a angústia, sobretudo para aqueles cuja morte se aproxima.
Outra situação de dor e de incerteza é a perda de entes queridos, atingindo o falecimento de parentes na idade juvenil uma incompreensão dolorosa, muito difícil de entender, para além do negrume inexplicável da própria morte.
A VIDA DEPOIS DA MORTE –CONHECIMENTO AO ALCANCE DE TODOS
Na actualidade, o estudo dessas ideias, com elevado nível de aprofundamento e de provas experimentais muito sólidas está ao pleno alcance de todas as pessoas. Só depende de cada um de nós interessarmo-nos e desejar abordar esse estudo. Tem sido feito desde há muitos anos, nas reuniões tidas com assistência de pessoas especialmente dotadas com o naturalíssimo sentido da mediunidade, em reuniões especialmente organizadas para esse efeito.
Desde fins do século XIX, começos do século XX já não foi só em reuniões geralmente confidenciais e muito recolhidas. Já de há muito são feitas por médiuns muito conhecidos e prestigiados, sob os auspícios de investigadores de elevado nível académico, em instituições especializadas. Estudos devidamente organizados por interessados conhecidos, que já não foram perseguidos pela medonha inquisição para serem torturados ou queimados vivos por… “falarem com o demónio”.
É fácil conhecer todo esse universo, está ao alcance de todos.
O ESTUDO ESSENCIAL E COMPLETO DA OBRADE ALLAN KARDEC
Chamamos a atenção de uma ideia que se aplica a todos os escritos de Allan Kardec: não são obras para ler; as obras de Allan Kardec, são obras para estudar!…
Não é por uma simples leitura que se chega à compreensão adequada dos temas quedevem ser articulados a partir da leitura da obra, relacionando conteúdos entre si, pelo estudo cuidadoso das outras obras do mesmo autor.
Chamamos a atenção para a importância fundamental da REVISTA ESPÍRITA, tão largamente ignorada.
Há estudos sobre as obras de Allan Kardec que fazem referências concretas a certas passagens da mesma, sendo possível ter acesso imediato aos trechos citados e respetiva interpretação através da sua abundante disponibilidade internet.
O espiritismo, se existe e merece nome, é construído por nós, na autonomia do nosso pensamento. É fruto da nossa condição de Espíritos sujeitos ao itinerário já percorrido, ansiosos por avançar honestamente na parcela da verdade que nos for permitido construir no território amplo e livre da nossa consciência.
Ler, estudar e pesquisar é fundamental, para que o nosso pensamento se encontre com ideias novas, diferentes, pesquisadas e descobertas por outros seres como nós, empenhados na sua própria evolução, suficientemente generosos na partilha.
Vivemos a vida material responsáveis por todos os nossos atos e pensamentos, solidários com todos os nossos semelhantes. Enquanto vivos a categoria de seres dotados de consciência autónoma e livre arbítrio, permite-nos todo o tipo de diligências de associação cultural.
Mas no momento do regresso à pátria espiritual, no voo livre pelo túnel palpitante que nos conduz à luz da paz infinita, vamos sós, levando connosco o que pensámos, dissemos e fizemos durante toda uma curta vida. São essas aquisições que nos guiam, frente a novos e magníficos desafios que se seguirão.
José da Costa Brites e Maria da Conceição Brites
Notas importantes: Os autores da tradução desta e de outras obras de Allan Kardec têm seguido com muita atenção todos estes estudos, individualmente, em clima de total independência cultural e ideológica.
Seguem as suas próprias ideias e não são afectos a nenhum sector com diretrizes pré-definidas. O nosso trabalho de investigação e estudo do espiritismo encontra-se à disposição de todos em fontes de consulta residentes na internet, entre elas:
“palavraluz.com” e “espiritismocultura.com”.
Pessoalmente estamos totalmente disponíveis para depoimentos, observações e críticas,através do e-mail: espiritismo.cultura@gmail.com
Para descarregar a versão mais recente ver na coluna do lado direito
PELA MAGNÍFICA QUALIDADE ESTÉTICA DA OBRA CINEMATOGRÁFICA CITADA, E PELO FACTO DE SER POSSIVEL COMPAGINAR A SUA CONTEMPLAÇÃO COM A LEITURA DO EVANGELHO SEGUNDO SÃO MATEUS, O QUE FRANCAMENTE SE RECOMENDA, NÃO EXITAMOS ENTREGAR AOS LEITORES O VISIONAMENTE COMPLETO DO FILME RESPECTIVO.
Quand la Croix défendait L’Évangile de Pasolini
Jean ROCHEREAU,
“L’Évangile selon saint Matthieu” de Pier Paolo Pasolini STUDIOCANAL IMAGE / ARCO FILMS
L’Évangile selon saint Matthieu. Quand souffle l’Esprit…
De notre envoyé spécial au festival de Venise.
(…)…Pasolini est un homme, sincère et un poète. C’est là, sans doute, qu’Il faut chercher la raison de l’exceptionnelle réussite qui m’a ému. Quelle fut, pour l’Évangile selon saint Matthieu, l’idée qu’il exprime ? Prendre le contre-coup de toutes les idées reprises au cinéma en matière d’évocation religieuse. Et, d’abord, refus systématique de toute vedette pour l’interprétation. C’est la propre mère de Pasolini qui incarne la Sainte Vierge. Elle le fait avec une sincérité, une émotion proprement sublime. Dans la distribution on trouve aussi des amis du cinéaste : romanciers, journalistes, poètes. Le fils de Pasolini, un étudiant catalan, surprend d’abord tant son physique de brun aux yeux noirs et le voile qui couvre constamment la tête sont opposés à l’imagerie traditionnelle ; tant aussi, son air sombre et son regard de braise semblent jurer avec la bonté du Christ.
Mais que paraisse un entant, et le sourire sur le visage de l’interprète, devient un reflet vivant de l’amour de Dieu.
Autre soucis majeur de Pasolini : un maximum de réalisme. Les scènes de Nazareth furent tournées dans un village de Lucanie, qui garde les stigmates d’un terrible séisme. Si l’on ne se savait pas en Italie, on se croirait revenu vingt siècles en arrière au pays du Christ.
Maintenant et toujours
Mais, bien sûr, l’essentiel reste à louer : l’adaptation du texte évangélique de son illustration. Il n’était pas question de relever tous les épisodes des Évangiles. Mais ceux qui furent choisis rendent bien compte de l’idée maitresse du cinéaste : montrer l’actualité du message.
Au plan de la composition des images, j’ai été bouleversé jusqu’aux larmes par Ia toute première scène, muette. Joseph se rend compte que Marie attend un enfant. C’est une merveille de tact et de délicatesse. Par la suite, Pasolini utilise en abondance des gros plans sur les visages (je pense souvent à la Passion de Jeanne-d ‘Arc, de Dreyer) et « son parti pris » qui nous vaut une galerie de portraits véritablement Inoubliables. Enfin, pour les ensembles, le massacre des Innocents, ce chemin de croix et Ia mise au tombeau sont des tableaux dont on chercherait en vain l’équivalent en peinture.
Il y a tout de même, dans ce chef d’œuvre (oui, il faut maintenir le mot), quelques autres points. Mais plutôt de surprise moins heureuse. Le long discours public sur les scribes, les pharisiens hypocrites (texte intégralement repris de saint Matthieu, comme tout le texte biblique) est orchestré fidèlement, de telle sorte qu’on se croirait parfois à un discours révolutionnaire. C’était, je crois bien, les seules minutes où transparait le « marxisme » de Pasolini. Et, bien sûr, la substance de ce discours estompe cette fâcheuse impression.
J’ignore tout à fait comment les autorités catholiques accueilleront ce film dédié « à la douce mémoire du pape Jean ». Je pense qu’elles redouteront peut-être quelque exploitation, par le parti de feu Togliatti, d’un éventuel « imprimatur ». Et même, je demeure incertain quant à l’accueil du grand public : ne sera-t-il pas trop dépaysé ? Mais je crois fermement que si nous, chrétiens, n’aidons pas à l’exacte compréhension et au succès d’un tel film, nous laissons passer une occasion apostolique.
Après tout, les voies de la providence sont impénétrables et l’Esprit souffle où il veut. Est-ce trop s’avancer que de conclure : le film de Pasolini, même né dans une conscience marxiste, est un instrument apologétique, digne de servir à l’extension du royaume de Dieu ?
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NOTA: esta referência estatística foi publicada em 10 de Março de 2021 e só contempla números do ano de 2021 até essa data.
A estatística das descargas que são feitas dia a dia das nossas traduções é-nos fornecida dia a dia pela plataforma WordPress:
A Génese………………………………………………….. 189 exemplares O Livro dos Espíritos…………………………………. 169 “ O Evangelho Segundo o Espiritismo……………… 70 “ O Livro dos Médiuns…………………………………… 57 “
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