
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
Tradução para Português de Portugal – 2019 – de José da Costa Brites e Maria da Conceição Brites
O QUE É O ESPÍRITISMO?
Ideias colhidas em “O que é o Espiritismo” de Allan Kardec, 1859
“…O espiritismo funda-se na existência de um mundo invisível, formado pelos seres incorpóreos que povoam o espaço e que são as almas daqueles que viveram na terra, ou noutros planetas. São os seres a que chamamos Espíritos, que nos cercam, exercendo sobre nós uma grande influência e desempenhando papel muito activo no mundo moral…”
“…o Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática consiste nas relações que se estabelecem entre nós e os Espíritos; como filosofia, analisa todas as consequências morais que derivam dessas relações. Podemos defini-lo assim: “…é uma ciência que trata da natureza, da origem e do destino dos Espíritos, bem como das suas relações com o mundo corporal…”
“…o Espiritismo, depois de se tornar conhecido, esclareceu grande número de problemas,até certa altura insolúveis ou mal compreendidos. O seu verdadeiro caráter é o de uma ciência e não de uma religião…”
“O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO” de Allan Kardec, conforme está na capa da obra original,
trata-se categoricamente de: “O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO” e de forma nenhuma de “o Espiritismo segundo o Evangelho”.
Convém fixar esta ideia claríssima e conservá-la em mente, porque é fundamental.
Ou seja, em nenhum dos aspectos desta obra nos é apresentada uma versão do Espiritismo paralela ou directamente derivada do conteúdo narrativo dos Evangelhos, excepto na parte subjacente que corresponde a ensinamentos de Jesus de Nazaré, coincidentes com o ensino moral dos Espíritos, esse sim, fonte legítima e atualizada do Espiritismo.
Portanto,para todos aqueles que têm este livro como uma aproximação tácita a uma conceção evangélica do ensino dos Espíritos, afirmamos redondamente que não é esse o significado que lhe atribuiu o seu autor ou as entidades espirituais que comunicaram os seus conteúdos.
A presença na obra de citações escolhidas dos evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João destinam-se predominantemente à descodificação de fragmentos desses Evangelhos concebidos com o carácter de metáforas ou de parábolas, muitas vezes redigidos numa linguagem místico-alegórica, de situações que nem sequer poderiam ter sido vividas por Jesus de Nazaré.
Citamos apenas um exemplo, entre muitos que poderíamos mostrar: as cenas referíveis a tentações a que Jesus teria sido sujeito pelo próprio “diabo”, que inconcebivelmente o teria levado para o deserto para esse efeito.
Sabemos, pelo estudo da escala espírita que está incluída em “O Livro dos Espíritos” que Jesus, sendo um Espírito puro, estaria definitivamente acima dessa eventualidade, além de que a figura de “o diabo” é meramente teórica e que “o Inferno” não existe.
Pela sua intensidade imaginária, episódios como este, tão totalmente fora da possibilidade real, têm sido expressivamente ilustrados, até em cinema e em vídeo, arrastando a equívocos de carácter lamentável.
Que fique bem claro, portanto, que as explicações dos capítulos que foram acrescentadas pelo autor de “O Evangelho segundo o Espiritismo” a cada conjunto de citações dos Evangelhos, explicam o verdadeiro sentido que lhes é associável no âmbito específico do ensino dos Espíritos.
O ENSINO DOS ESPÍRITOS É BEM CONHECIDO DESDE A ANTIGUIDADE
O livro que apresentamos, logo no número IV da Introdução, inclui um resumo com algum detalhe de um fenómeno geralmente desconhecido e muito pouco discutido nas suas razões histórico-culturais: Sócrates e Platão percursores da ideia cristã e do espiritismo. Esse interessantíssimo momento desta obra fornece uma detalhada referência que comprova que os princípios do espiritismo estão no arquivo dos conhecimentos da Humanidade há muito mais de vinte séculos. Conhecimentos resultantes de muito numerosas trocas de impressões com os Espíritos, exactamente do mesmo tipo de comunicações que foram levadas à prática por Allan Kardec e seus colaboradores, já muito conhecidas nessas recuadas épocas da história da Humanidade.
Esses conhecimentos tiveram condições para se implantarem numa vasta sociedade culta,com grande projecção civilizacional,informando os estudos de notáveis filósofos, grandes homens de ideias e até importantes e diferenciados sectores da sociedade.
Qualquer enciclopédia nos dará uma ideia bastante concreta de “pré-socráticos”, como Pitágoras, fundador da duradoura Escola Pitagórica, com notáveis estudos sobre a alma e a reencarnação e um numeroso grupo de discípulos que se projectou por séculos, em pleno coração da Antiguidade Clássica.
Chamamos a atenção para um simples detalhe, ainda relativo à obra de Platão. Da sua importantíssima obra “A República”, faz parte “O Mito de Er”, a narrativa de um fenómeno do mesmo género de experiências que na actualidade têm atingido notoriedade mundial, com milhões de exemplos registados,investigados em numerosos países com a designação de “EQM -Experiências de Quase-Morte” ou, em inglês, as conhecidíssimas “NDE –Near Death Experiences”.
O DESCONHECIMENTO DO FUTURO EVOLUTIVO –MOTIVO DE MEDOS E ANGÚSTIAS
Uma complexa ordem de transformações que colocaram termo à Antiguidade Clássica, fez com que o ensino dos Espíritos e a vasta zona de influência de que dispunha, tivesse sido irradiado das práticas socio-culturais e ideológicas de toda a sociedade organizada.
Os vestígios de toda essa imensa cultura, foram sendo implacavelmente combatidos pela que se foi instalando nas áreas de predominância dogmática. Não tardaria que as pessoas que praticavam a mediunidade fossem presas e condenadas, como gente que praticava feitiçarias e “falava com o diabo”.
Séculos e séculos duraram em que eram queimadas vivas, como gente maldita e cúmplices do demónio.
O espiritualismo teórico e prático, o conhecimento da vida depois da morte e a evolução da humanidade concebida pelo processo das vidas sucessivas, permaneceu largamente ignorado durante cerca de vinte séculos, que mergulharam no silêncio a consciência fundamental da sequência das vidas e das mortes.
Ao longo desse imenso lapso de tempo as desigualdades e os conflitos sangrentos tiveram a palavra mais pesada nas atitudes e doresda Humanidade, cujas nefastas sementes continuam a ser plantadas num mundo ansioso e desigual, agora já com mais de sete mil milhões de almas.
A ignorância da verdadeira natureza, da origem e do destino dos Espíritos, fez com que se tenham generalizado culturas dominadas pelo materialismo mais violento, causador de desigualdades e conflitos, como bem registam os livros de História de vários continentes.
O medo da morte aflige uma grande maioria dos habitantes da Terra,trazendo a inquietação e a angústia, sobretudo para aqueles cuja morte se aproxima.
Outra situação de dor e de incerteza é a perda de entes queridos, atingindo o falecimento de parentes na idade juvenil uma incompreensão dolorosa, muito difícil de entender, para além do negrume inexplicável da própria morte.
A VIDA DEPOIS DA MORTE –CONHECIMENTO AO ALCANCE DE TODOS
Na actualidade, o estudo dessas ideias, com elevado nível de aprofundamento e de provas experimentais muito sólidas está ao pleno alcance de todas as pessoas. Só depende de cada um de nós interessarmo-nos e desejar abordar esse estudo. Tem sido feito desde há muitos anos, nas reuniões tidas com assistência de pessoas especialmente dotadas com o naturalíssimo sentido da mediunidade, em reuniões especialmente organizadas para esse efeito.
Desde fins do século XIX, começos do século XX já não foi só em reuniões geralmente confidenciais e muito recolhidas. Já de há muito são feitas por médiuns muito conhecidos e prestigiados, sob os auspícios de investigadores de elevado nível académico, em instituições especializadas. Estudos devidamente organizados por interessados conhecidos, que já não foram perseguidos pela medonha inquisição para serem torturados ou queimados vivos por… “falarem com o demónio”.
É fácil conhecer todo esse universo, está ao alcance de todos.
O ESTUDO ESSENCIAL E COMPLETO DA OBRADE ALLAN KARDEC
Chamamos a atenção de uma ideia que se aplica a todos os escritos de Allan Kardec: não são obras para ler; as obras de Allan Kardec, são obras para estudar!…
Não é por uma simples leitura que se chega à compreensão adequada dos temas quedevem ser articulados a partir da leitura da obra, relacionando conteúdos entre si, pelo estudo cuidadoso das outras obras do mesmo autor.
Chamamos a atenção para a importância fundamental da REVISTA ESPÍRITA, tão largamente ignorada.
Há estudos sobre as obras de Allan Kardec que fazem referências concretas a certas passagens da mesma, sendo possível ter acesso imediato aos trechos citados e respetiva interpretação através da sua abundante disponibilidade internet.
Sugerimos como base de dados muitíssimo completa, a visita de: https://kardecpedia.com/.
COMO E ONDE EXISTE O ESPIRITISMO
O espiritismo, se existe e merece nome, é construído por nós, na autonomia do nosso pensamento. É fruto da nossa condição de Espíritos sujeitos ao itinerário já percorrido, ansiosos por avançar honestamente na parcela da verdade que nos for permitido construir no território amplo e livre da nossa consciência.
Ler, estudar e pesquisar é fundamental, para que o nosso pensamento se encontre com ideias novas, diferentes, pesquisadas e descobertas por outros seres como nós, empenhados na sua própria evolução, suficientemente generosos na partilha.
Vivemos a vida material responsáveis por todos os nossos atos e pensamentos, solidários com todos os nossos semelhantes. Enquanto vivos a categoria de seres dotados de consciência autónoma e livre arbítrio, permite-nos todo o tipo de diligências de associação cultural.
Mas no momento do regresso à pátria espiritual, no voo livre pelo túnel palpitante que nos conduz à luz da paz infinita, vamos sós, levando connosco o que pensámos, dissemos e fizemos durante toda uma curta vida. São essas aquisições que nos guiam, frente a novos e magníficos desafios que se seguirão.
José da Costa Brites e Maria da Conceição Brites
Notas importantes: Os autores da tradução desta e de outras obras de Allan Kardec têm seguido com muita atenção todos estes estudos, individualmente, em clima de total independência cultural e ideológica.
Seguem as suas próprias ideias e não são afectos a nenhum sector com diretrizes pré-definidas. O nosso trabalho de investigação e estudo do espiritismo encontra-se à disposição de todos em fontes de consulta residentes na internet, entre elas:
“palavraluz.com” e “espiritismocultura.com”.
Pessoalmente estamos totalmente disponíveis para depoimentos, observações e críticas,através do e-mail: espiritismo.cultura@gmail.com
Para descarregar a versão mais recente ver na coluna do lado direito
PELA MAGNÍFICA QUALIDADE ESTÉTICA DA OBRA CINEMATOGRÁFICA CITADA, E PELO FACTO DE SER POSSIVEL COMPAGINAR A SUA CONTEMPLAÇÃO COM A LEITURA DO EVANGELHO SEGUNDO SÃO MATEUS, O QUE FRANCAMENTE SE RECOMENDA, NÃO EXITAMOS ENTREGAR AOS LEITORES O VISIONAMENTE COMPLETO DO FILME RESPECTIVO.
Quand la Croix défendait L’Évangile de Pasolini
L’Évangile selon saint Matthieu. Quand souffle l’Esprit…
De notre envoyé spécial au festival de Venise.
(…)…Pasolini est un homme, sincère et un poète. C’est là, sans doute, qu’Il faut chercher la raison de l’exceptionnelle réussite qui m’a ému. Quelle fut, pour l’Évangile selon saint Matthieu, l’idée qu’il exprime ? Prendre le contre-coup de toutes les idées reprises au cinéma en matière d’évocation religieuse.
Et, d’abord, refus systématique de toute vedette pour l’interprétation.
C’est la propre mère de Pasolini qui incarne la Sainte Vierge. Elle le fait avec une sincérité, une émotion proprement sublime. Dans la distribution on trouve aussi des amis du cinéaste : romanciers, journalistes, poètes.
Le fils de Pasolini, un étudiant catalan, surprend d’abord tant son physique de brun aux yeux noirs et le voile qui couvre constamment la tête sont opposés à l’imagerie traditionnelle ; tant aussi, son air sombre et son regard de braise semblent jurer avec la bonté du Christ.
Mais que paraisse un entant, et le sourire sur le visage de l’interprète, devient un reflet vivant de l’amour de Dieu.
Autre soucis majeur de Pasolini : un maximum de réalisme. Les scènes de Nazareth furent tournées dans un village de Lucanie, qui garde les stigmates d’un terrible séisme. Si l’on ne se savait pas en Italie, on se croirait revenu vingt siècles en arrière au pays du Christ.
Maintenant et toujours
Mais, bien sûr, l’essentiel reste à louer : l’adaptation du texte évangélique de son illustration. Il n’était pas question de relever tous les épisodes des Évangiles. Mais ceux qui furent choisis rendent bien compte de l’idée maitresse du cinéaste : montrer l’actualité du message.
Au plan de la composition des images, j’ai été bouleversé jusqu’aux larmes par Ia toute première scène, muette. Joseph se rend compte que Marie attend un enfant. C’est une merveille de tact et de délicatesse. Par la suite, Pasolini utilise en abondance des gros plans sur les visages (je pense souvent à la Passion de Jeanne-d ‘Arc, de Dreyer) et « son parti pris » qui nous vaut une galerie de portraits véritablement Inoubliables. Enfin, pour les ensembles, le massacre des Innocents, ce chemin de croix et Ia mise au tombeau sont des tableaux dont on chercherait en vain l’équivalent en peinture.
Il y a tout de même, dans ce chef d’œuvre (oui, il faut maintenir le mot), quelques autres points. Mais plutôt de surprise moins heureuse. Le long discours public sur les scribes, les pharisiens hypocrites (texte intégralement repris de saint Matthieu, comme tout le texte biblique) est orchestré fidèlement, de telle sorte qu’on se croirait parfois à un discours révolutionnaire. C’était, je crois bien, les seules minutes où transparait le « marxisme » de Pasolini. Et, bien sûr, la substance de ce discours estompe cette fâcheuse impression.
J’ignore tout à fait comment les autorités catholiques accueilleront ce film dédié « à la douce mémoire du pape Jean ». Je pense qu’elles redouteront peut-être quelque exploitation, par le parti de feu Togliatti, d’un éventuel « imprimatur ». Et même, je demeure incertain quant à l’accueil du grand public : ne sera-t-il pas trop dépaysé ? Mais je crois fermement que si nous, chrétiens, n’aidons pas à l’exacte compréhension et au succès d’un tel film, nous laissons passer une occasion apostolique.
Après tout, les voies de la providence sont impénétrables et l’Esprit souffle où il veut. Est-ce trop s’avancer que de conclure : le film de Pasolini, même né dans une conscience marxiste, est un instrument apologétique, digne de servir à l’extension du royaume de Dieu ?