A respeito do nome de Jesus, origem do designativo “Cristo”

“Head of Christ,” c. 1648 1650 by Rembrandt Harmensz. van Rijn, Dutch, is a part of the “Heads of Christ” series shown at the Philadelphia Museum of Art through Oct. 30.

Caros Amigos,
A respeito do nome de Jesus, e da origem do designativo “Cristo”, tomo a liberdade de inserir a Nota final nº 11 que inserimos na nossa tradução de “O Livro dos Espíritos”:

[11 – O nome de Jesus] – Introdução VI
É neste ponto de “O Livro dos Espíritos” que surge a primeira referência ao nome de Jesus, tendo utilizado Allan Kardec o adjetivo “Cristo”, o que nos obriga a esclarecer qual foi o motivo que nos levou, ao longo de toda esta obra, a usar exclusivamente o seu verdadeiro nome para designá-lo.

Há dois mil anos, no Próximo Oriente como em muitas outras partes do mundo, as pessoas não tinham nomes tão organizados como agora, com sobrenomes e apelidos. Tinham apenas um nome pessoal ao qual se juntava um designativo para diferençar homónimos: o seu local de origem, a profissão ou uma caraterística muito própria do indivíduo. Jesus (derivado do nome judaico Joshua ou Jeshua) era conhecido no local onde vivia como filho de José, o carpinteiro, e mais genericamente como “o nazareno”. É muito comum, em meio espírita, usar-se esta designação: Jesus de Nazaré.

No tempo de Allan Kardec, numa sociedade profundamente influenciada pelo pesadíssimo predomínio católico, “Jesus Cristo” era designação usual, tanto que uma imensa maioria de católicos julgava que “Cristo” seria parte integrante do nome de Jesus, o que não é verdade.

Sendo o espiritismo uma cultura que é orientada pela ordenação racional de factos comprováveis pela experiência, isto é, uma filosofia não dogmática que parte de uma ciência de observação, não pode correr o risco de se deixar embalar por ideias que não são apenas diferentes, são antagónicas.

Ou seja, o espiritismo não aceita dogmas como o da designada “santíssima trindade”, que sacralizou Jesus de Nazaré, afastando-o da sua natureza humana, escamoteando o seu papel fundamental de modelo de comportamento moral que nos propõe o ensino dos Espíritos.
Isto é muito claro ao lermos a pergunta 625 de O Livro dos Espíritos, que pedimos leiam com a melhor atenção, bem como o comentário de Allan Kardec que se lhe segue.
Sendo Jesus de Nazaré modelo de todos os seres humanos, é impossível conceber Jesus como entidade constituído de forma artificialmente diferente de qualquer um de nós, seus irmãos, também muito legitimamente honrados pela categoria inalienável de filhos de Deus.
“Cristo”, por seu turno, é um nome que deriva da palavra grega “christos”, que no contexto do cristianismo primitivo de influência greco-judaica inseria Jesus no elenco do messianismo judaico, que quer dizer exatamente “o messias”, “o enviado”, “o ungido”.
S. Paulo, que nunca conheceu pessoalmente Jesus, deu um primeiro passo nessa direção, quando criou “O Cristo da fé” que se afastava muito do Jesus histórico, cuja vida e mensagem lhe não interessavam, uma vez que centrava toda a sua doutrina na “morte e ressurreição” de Jesus.
Quando o cristianismo começou a helenizar-se e a expandir-se entre os gentios (os não judeus), o título de Cristo passou a ser uma espécie de sobrenome.
Depois do colapso do poder dos Césares de Roma, esvaziados da prerrogativa da sua divinização que lhes era conferida pelo paganismo, tiveram que lançar mão da popularidade crescente e progressiva do cristianismo.
Este tinha avançado de forma imparável, impulsionado pelos ensinamentos de Jesus de Nazaré, em coerência com as antigas sabedorias e com a vanguarda científico filosófica das escolas de pensamento Grego, nomeadamente Pitágoras, Sócrates e Platão (Ver capítulo III da Introdução de O Evangelho segundo o Espiritismo).
O Império romano, aliado ao poder de alguns altos dignitários do cristianismo nascente, apoderou-se do cristianismo para impor a universalidade da sua influência política e estratégica.
Cristo foi-se tornando uma expressão corrente, enquanto o Jesus ressuscitado recebia o sobrenome de “senhor” ou “kyrios”, fórmula que encaixa adequadamente nas determinações políticas que foram assumidas no Concílio de Niceia, no ano de 325, pelo Imperador Constantino, o grande, para obedecer exclusivamente a interesses de predomínio político e estratégico.
Allan Kardec usou indistintamente as palavras Jesus, Cristo, e até Jesus Cristo com o mesmo significado. Porém, quer na ordem das ideias de carácter doutrinário, quer na ordem da consideração histórica da pessoa de Jesus, cento e cinquenta anos depois da elaboração de O Livro dos Espíritos, entendemos que é forçoso fazer opções quanto à utilização desta diversidade de nomes, que pode carregar consigo o peso de graves contradições. A nossa decisão não é apenas linguística nem apenas doutrinária: respeita e faz a devida utilização da memória dos povos, leva em conta as trágicas consequências de mais de 1.700 anos de dogmatismos impiedosamente intolerantes e sangrentos.
Reforçando ideias, repetimos as esclarecidas palavras de Kardec (ver comentário pergunta nº 625 desta obra): “…Se alguns dos que pretenderam instruir os seres humanos na lei de Deus algumas vezes os desviaram para falsos princípios, foi por se deixarem dominar por sentimentos demasiado terrenos e por terem confundido as leis que regem as condições da vida da alma, com as que regem a vida do corpo. Muitos deles apresentaram como leis divinas o que eram apenas leis humanas, criadas para servir as paixões e dominar os homens.”jose (04/12/2021 13:23:30)

José da Costa Brites/Maria da Conceição Brites/
https://palavraluz.com/

Autor: Costa Brites

j.costabrites@gmail.com

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