Bibliografia geral e leituras

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Ilustração de: Wooli Chen, visto em This Works / WeTransfer

Temos andado a publicar aqui momentos especiais do trabalho de tradução de “O Livro dos Espíritos”. Esta notícia tem por tema a pequena bibliografia geral relativa às Notas Finais.

O Prefácio dos tradutores destina-se a preparar as pessoas que nunca tenham lido o livro antes;
As Notas Finais servem para informar o leitor do critério de tradução de certas palavras e para fornecer opiniões de contextualização cultural de textos com mais de 150 anos.
A pequena bibliografia geral também é destinada aos leitores que nunca encontraram antes “O Livro dos Espíritos”, obra que servirá – se atentamente o lerem – para esclarecer um segredo há muitos séculos desvendado por homens de ideias, com experiência de vidas vividas, mas persistentemente escondido pelas forças determinadas em conservá-lo oculto e secreto.

Esse segredo é o conhecimento fundamental e fundamentado da origem e do destino dos seres humanos. Saberem porque estão vivos e conhecerem bem as regras que orientam a sua vida presente, abrindo-lhes as portas para um mais claro futuro de progresso e de felicidade.
Mesmo para os que desconfiarem que é promessa exagerada, vale a pena começar já a ler, para que não percam mais tempo em desvendá-lo, já que facilita a marcha pela estrada, por vezes acidentada, que nos conduz ao  futuro.

A bibliografia geral que aparece depois das Notas Finais de todo o livro não manipula consciências nem condiciona as opções do leitor. Apenas revela as principais ajudas com que caminhámos ao encontro desta cultura que ensina a viver e, ao mesmo tempo que produz conhecimentos livres de compromissos de grupo ou fronteiras dogmáticas, também ajuda a construir a felicidade.

Bibliografia geral e leituras


ALLAN KARDEC:
‒ Todas as obras e publicações editadas em vida pelo autor, de 1857 a 1869;

GABRIEL DELANNE:
Todas as suas obras e publicações, em especial as seguintes:
‒ O Espiritismo perante a Ciência. Paris, 1885;
‒ O Fenómeno Espírita. Paris, 1893;
‒ A Evolução Anímica. Paris, 1895;
‒ A Alma é Imortal. Paris, 1897;
‒ A Reencarnação. Paris, 1927.

LÉON DENIS:
Todas as suas obras e publicações, em especial as seguintes:
1885 – O Porquê da Vida, 1885;
1898 – Cristianismo e Espiritismo, 1920 (última edição);
1889 – Depois da Morte, 1920 (idem);
1903 – No Invisível, 1924 (idem);
1905 – O Problema do Ser do Destino e da Dor, 1922 (idem);
1910 – Joana D’Arc Médium, 1926 (idem).

sobre JESUS HISTÓRICO:


o professor Antonio Piñero

ANTÓNIO PIÑERO,
Catedrático de Filologia Grega, com especialidade em Língua e Literatura do Cristianismo Primitivo da Universidade Complutense de Madrid, autor, entre outras, das seguintes obras:

– CIUDADANO JESÚS – Las respuestas a todas las perguntas; Atanor Ediciones, Madrid, várias edições desde 2012;
– GUIA PARA ENTENDER EL NUEVO TESTAMENTO; Editorial Trotta, múltiplas edições desde 2006, Madrid;
– ORIGENES DEL CRISTIANISMO – Antecedentes y primeiros passos; Ediciones El Almendro e Universidade Complutense de Madrid, 2004;
– JESÚS, LA VIDA OCULTA – Según los Evangelios rechazados por la Iglesia; Esquilo Ediciones, 1ª edição 2007, Badajoz;
– JESÚS DE NAZARET – El hombre de las cien caras” – textos canónicos y apócrifos; EDAF, Madrid, México, Buenos Aires, SanJuan, Santiago, Miami, 2012;
– EL OUTRO JESÚS – Vida de Jesús segun los evangelios apócrifos – Ediciones El Almendro, Córdoba; primeira edição: 2004.

Mosa JS

JACOB SLAVENBURG:
– (n. 1943 em Gorinchem, Holanda). Desde jovem percebeu que os acontecimentos históricos reais eram muito diferentes dos que tinha aprendido na escola ou nos círculos religiosos. Licenciado em História Cultural, dedicou-se à história das religiões depois da extraordinária descoberta dos manuscritos de Nag Hammadi, em especial a respeito do homem de Nazaré. Atualmente é professor em várias instituições e a sua obra é muito conhecida:
– A HERANÇA PERDIDA DE JESUS (De verloren erfenis) – A verdadeira história das origens do cristianismo, Marcador Editora, Queluz de Baixo, 2012

MEMÓRIA da HUMANIDADE:


“Aquellos que no recuerdan el pasado, están condenados a repetirlo.”
George Santayana.

As obras aqui indicadas, embora muito importantes, representam apenas um exemplo simbólico da atenção que é devida ao conhecimento da História Universal, sem a qual é impossível enquadrar os conceitos científicos, culturais e morais. Sem recursos minimamente estruturados desta disciplina cultural é impossível ter uma ideia válida da importância da obra de Allan Kardec e da cosmovisão espírita. Impossível será igualmente ultrapassar o contexto de um planeta de expiação e de provas, sujeito ainda à tutela dominante do pensamento dogmático e da predominância de espíritos ainda não muito evoluídos.

A Chegada das Trevas é a história largamente desconhecida – e profundamente chocante – de como uma religião militante pôs deliberadamente fim aos ensinamentos do mundo clássico, abrindo caminho a séculos de adesão inquestionável à “única e verdadeira fé”.

O Império Romano foi generoso na aceitação e assimilação de novas crenças. Mas com a chegada do Cristianismo tudo mudou. Esta nova fé, apesar de pregar a paz, era violenta e intolerante. Assim que se tornou a religião do império, os zelosos cristãos deram início ao extermínio dos deuses antigos – os altares foram destruídos, os templos demolidos, as estátuas despedaçadas e os sacerdotes assassinados. Os livros, incluindo grandes obras de Filosofia e de Ciência, foram queimados na pira. Foi a aniquilação.

Levando os leitores ao longo do Mediterrâneo – de Roma a Alexandria, da Bitínia, no norte da Turquia, a Alexandria, e pelos desertos da Síria até Atenas -, A Chegada das Trevas é um relato vívido e profundamente detalhado de séculos de destruição.

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ALEXANDRE HERCULANO dispensa apresentações para todos aqueles que têm conhecimento do seu imenso prestígio como historiador e cidadão que lutou com imensa bravura e se exprimiu como investigador e grande homem de pensamento, dos mais insígnes de toda a nação cultural portuguesa.

A sua obra a respeito da Inquisição em Portugal é de leitura fundamental.

Clicando na capa poderá descarregar uma versão brasileira do livro. Assim manifestamos homenagem à imensa generosidade de divulgação de valores e partilha do imenso povo brasileiro:.ALEXANDRE 

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– HISTÓRIA DA ORIGEM E ESTABELECIMENTO DA INQUISIÇÃO EM PORTUGAL- Alexandre Herculano (1810-1877).

 

 

 

07-trat– PEQUENA HISTÓRIA DAS CRUZADAS; Londres 2004 – Chistopher Tyerman; Edições Tinta da China, Lisboa 2008.

08-trat

RECURSOS LINGUÍSTICOS:


Entre outros:

– CNRTL/ORTOLANG: http://www.cnrtl.fr/definition/;
– LEXILOGOS: http://www.lexilogos.com/francais_langue_dictionnaires.htm

ortol.

“O Espiritismo na Arte” de Léon Denis, breve tratado sobre o destino sublime de todas as humanidades

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Wassily Kandinsky, Montanha (1909) óleo s/ tela, 109 x 109 cm, visto em WikiPaintings – Visual Art Encyclopedia – Städtische Galerie im Lenbachhaus, Munique, Alemanha

Os visitantes encontrarão um ficheiro PDF da obra referida ao fundo destes textos que pedem a vossa boa atenção de leitores.

O livro que aqui se apresenta, “O Espiritismo na Arte”, da autoria de Léon Denis, é muito difícil de sintetizar, pela abundância de qualidades e informações que nos oferece.
O entendimento da arte é uma área especializada de conhecimentos e, certamente, uma daquelas que mais genuinamente acompanha e sinaliza a evolução dos espíritos.

São incessantes as indicações de parte dos autores da obra que nos dão a conhecer a impossibilidade de compreendermos certas ideias expressas devido ao condicionamento evolutivo das almas. Com efeito, muitas das coisas que são ditas chocam na barreira intransponível de uma linguagem incapaz de ir além da troca das ideias de sentido sempre muito relativo; o das nossas palavras, cujo significado se restringe ao que os dicionários pobremente nos oferecem para defini-las, infinitamente longe das linguagens do pensamento dos altos céus inundado de luz e música.

Falei atrás em autores e quem lê deverá ficar um pouco surpreendido por esse facto, pois que a autoria designada da obra é de uma só pessoa, Léon Denis. O seu conhecimento das coisas, nesta como ao longo de toda a sua monumental e excelente tarefa de estudioso, escritor e divulgador do espiritismo, também se configura como um “ensinamento comunicado pelos espíritos” dada a interpenetração de noções elaboradas pela sua própria sensibilidade. Incluo portanto na autoria da obra a pluralidade das entidades que “comunicam”, isto é – que escrevem (espíritos um e os outros!…).
A vasta percepção dos ensinamentos adquiridos pela leitura das obras de Léon Denis constitui sempre um eco genuíno do “diálogo entre humanidades”, isto é – entre a nossa vivente no corpo material – e a sua fraterna e tão íntima contraparte vivente no mundo do Além.
Não vou muito para além disto nesta apresentação para não tornar longas as razões que a leitura do livro pode fornecer melhor que a sua mesmo que entusiástica apresentação. A minha apresentação é, ou deseja ardentemente ser, entusiástica, não somente pelo que o livro nos diz mas sobretudo pela janela aberta de ansiedade esperançosa que desenha na mente de quem o leia; Janela aberta que dá para as altitudes que nos esperam depois da grande jornada de revisitação das vidas.
Muitas e muitas das coisas ditas no livro deixam-nos perplexos, com mais dúvidas que certezas, mas tão luminosamente ansiosos de espaço e de emoções que vale a pena correr o risco de lê-lo, para que disso tenhamos consciência, ou para que disso recolhamos um certamente vigoroso impulso nessa direcção.
Entusiasmado com esse facto fiz os possíveis, ao “tratar” o livro para uma leitura ao meu gosto, de prepará-lo para terceiros com a intenção honesta de entendimento o mais fácil possível.
Não vou expandir-me em razões que justifiquem esse trabalho. Aceito, por isso, todas as críticas que queiram fazer-me e prometo corrigi-las, se fizerem o favor de me escrever, fornecendo as respectivas razões.

Um dos reparos que foi feito a Léon Denis a respeito de certos momentos desta obra, refere a tendência, muito francesa, de se deixar entusiasmar pela bondade das tradições culturais gaulesas. A adjectivação de alguns críticos é pesada e não vou elaborar muito a esse respeito.
A já muito provecta idade do autor quando escreveu este trabalho, os vários sofrimentos importantes que o seu corpo físico lhe impôs – entre eles, o da cegueira – obrigam-me a aceitar como uma dádiva excepcionalmente generosa da sua abnegação, o trabalho que fez com toda a habitual lucidez nos últimos anos da sua existência.
Atendendo que os escritos não foram por ele colocados em livro e que apenas os publicou numa revista do seu próprio país para uma minoria sócio cultural com características muito próprias, deram-me coragem para omitir no texto as referidas ideias de algum “chauvinismo francófilo”. Coloquei nesses pontos o símbolo seguinte: (…)
Quem quiser dar-se ao trabalho pode ir lê-las nos textos originais, dado que os dou a conhecer com toda a clareza.

Ilustrações de Wassily Kandinsky

Tenho uma enorme admiração pela obra deste artista e as imagens que incluo são todas anteriores a 1922, ano em que foram publicados os artigos mensais de Léon Denis. Não tenho dúvidas que um artista da craveira de Wassily Kandinsky, que residiu muito tempo em Paris na fase derradeira da sua vida, deve perfeitamente ter sido do conhecimento do cultíssimo Léon Denis. Foi aliás não apenas um artista criador de enorme talento mas também um pensador do mais elevado valor intelectual e, impossível seria omiti-lo, profundamente espiritualista.
É mundialmente famosa a sua notável obra “Do espiritual na Arte”, que gostaria de vir a abordar nestas páginas com o devido cuidado e aprofundamento.
Sem ser uma obra espírita, seria uma forma excelente de reforçar tantas das empolgantes afirmações que nos oferece “O Espiritismo na Arte”, obra raríssima pelo tema e pelos seus admiráveis conteúdos.
Nela, pela mão e com os comentários de Léon Denis, outros insignes autores sem explicarem o que não é possível explicar, estimulam a convicção profunda da elevação sem limites que o nosso destino nos reserva, na longa estrada que merece ser percorrida com plena coragem, com vontade inabalável e a mais segura certeza de vamos alcançá-la.

espiritismo.cultura@gmail.com

Comentário final a “O Espiritismo e a Arte” da autoria de Léon Denis:

O estudo do Espiritismo nas suas relações com a arte incide nos mais vastos problemas do pensamento e da vida. Mostra-nos a ascensão do ser, na escala das existências e dos mundos, em direção a uma concepção sempre mais ampla e mais precisa das regras da harmonia e da beleza, segundo as quais todas as coisas são estabelecidas no Universo.
Nessa ascensão magnífica, a inteligência cresce pouco a pouco; os germes do bem e do belo, nela depositados, desenvolvem-se ao mesmo tempo que a sua compreensão da lei de eterna beleza se amplia.
A alma chega a executar a sua melodia pessoal, sobre as mil oitavas do imenso teclado do Universo; É penetrada pela harmonia sublime que sintetiza a ação de viver e interpreta-a segundo seu próprio talento, desfruta cada vez mais as felicidades que a posse do belo e do verdadeiro proporciona; felicidades que, desde este mundo, os verdadeiros artistas podem entrever.
Assim, o caminho da vida celeste está aberto a todos, e todos podem percorrê-lo, por seus esforços e seus méritos, e conseguir a posse desses bens imperecíveis que a bondade de Deus nos reserva.
A lei soberana, o supremo objetivo do Universo é, por conseguinte, o belo.
Todos os problemas do ser e do destino se resumem em poucas palavras. Cada vida deve ser a realização do belo, o cumprimento da lei. O ser que alcança uma concepção elevada dessa lei e das suas aplicações, deve ajudar todos aqueles que, abaixo dele, persistem no esforço por se elevarem .
Por sua vez, os seres inferiores devem trabalhar para assegurar a vida material e, em seguida, tornar possível a liberdade de espírito necessária aos pensadores e aos pesquisadores. Assim se consolida a imensa solidariedade dos seres, unidos numa ação comum.
Toda a ascensão da vida em direção aos cumes eternos, todo o esplendor das leis universais se resumem em três palavras: beleza, sabedoria e amor!.

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Léon Denis – O Espiritismo na Arte

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O estado das almas após a morte – JOHANN CASPAR LAVATER – seis cartas de um sábio suíço 59 anos antes de “O Livro dos Espíritos”

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Sophie Marie Dorothea Auguste Louise de Württemberg (1759-1828)
Sophie Marie Dorothea Auguste Louise de Württemberg (1759-1828)

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Apresentação do trabalho que ao fundo se encontra em ficheiro PDF

– Correspondência que Johann Caspar Lavater, sábio suíço, endereçou a Maria Feodorovna, de seu nome de família Sophie Marie Dorothea Auguste Louise de Württemberg (1759-1828) segunda esposa de Paulo Petrovich Romanov (1754-1801), herdeiro de Catarina II e que viria a ser Paulo I imperador da Rússia; Seis cartas de um sábio suíço escritas 59 anos antes de “O Livro dos Espíritos” publicadas na REVISTA ESPÍRITA de ALLAN KARDEC em Março, Abril e Maio de 1868

É de crer que os dotes de mediunidade e a elevação espiritual de Maria Feodorovna e o manifesto interesse do seu marido no tema em questão possa ter levado o casal, que visitara Lavater na Suiça antes de Paulo Petrovitch ter ascendido ao trono, a solicitar-lhe os esclarecimentos que sabiam que ele poderia fornecer-lhes.
Aqui se publica, em documento PDF, a correspondência acima referida, cuja excepcional qualidade literária e o surpreendente nível dos conhecimentos e sensibilidade espírita surpreendem qualquer leitor por terem surgido muito tempo antes de ter sido codificada a doutrina em questão.

Já conhecia estes trabalhos de há muito por inclusão dos mesmos numa obra muito conhecida de Léon Denis, “O Porquê da Vida”.

A versão publicada que eu conhecia dessa obra, editada pela FEB, não refere a Revista dos Espíritos  de Março, Abril e Maio de 1868 como fonte dos textos e talvez por isso não publica os comentários de Allan Kardec e mais uma importante comunicação do próprio Lavater sobre o espiritismo, feita a 13 de Março de 1868 na Sociedade de Paris, pelo Senhor Morin, em sonambulismo espontâneo.

A versão em língua portuguesa a que recorri, foi colhida num importante instituto para o estudo da obra de Allan Kardec, há muito recomendado nas páginas de “espiritismo cultura” e de “espiritismo estudo”: o IPEAK, Instituto de Pesquisas Espíritas Allan Kardec.

Para que não haja equívocos, a primeira coisa de que faço anteceder esta publicação é a opinião de Allan Kardec a respeito dessas cartas.

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Johann Caspar Lavater, pintura de Alexander Speisegger, 1785, Gleimhaus Halberstadt

Johann Caspar Lavater (1741-1801), foi poeta, dramaturgo, teólogo e conselheiro espiritual da área do protestantismo, tendo estabelecido relações de amizade com muitos dos mais notáveis intelectuais e pensadores do seu tempo.
Uma das tarefas a que se dedicou – que nesse tempo suscitou vivo interesse – foi a criação dos estudos de fisiognomia, sobre a análise do carácter das pessoas com base nos seus traços fisionómicos. Foi um intelectual de vastos recursos, escritor dotado e homem de causas, sensível quanto à moralidade e à justiça, sendo notável a correspondência que trocou com individualidades culturais de elevada craveira da época em que viveu. A sua vida, riquíssima de empenhamentos de valor, acabou dolorosamente ao ter participado na resistência oferecida aos invasores franceses de Zurique.

O teor exacto da sua participação no exercício da mediunidade, a forma como adquiriu os vastos conhecimentos sobre o mundo espiritual e as suas regras antes de ter sido fundado o espiritismo, julgo serem um mistério oculto pelo tempo, podendo estar algures detalhes que não conheço.
Com efeito, a sistemática aversão da cultura oficial e académica perante os fenómenos da vida do Além, levaram a que o interesse de Lavater por essa temática fosse, mais do que falsificada e posta a ridículo, inteiramente escamoteada.
As árvores, sabemo-lo de boa fonte, conhecem-se pelos frutos. A árvore de Johann Kaspar Lavater produziu frutos cujo aroma perdurou pelos séculos e nós somos apenas um exemplo dos muitos espíritos que com eles se sentiram felizes e ilustrados.

Johann Caspar Lavater
O ESTADO DAS ALMAS APÓS A MORTE

 Para ter acesso ao trabalho completo em PDF é favor clicar

Em “espiritismo estudo” está publicada uma outra versão deste artigo mais fácil de descarregar para documento WORD, ou até para imprimir. Visitar por favor:

VERSÃO PARA COPIAR TEXTO WORD E IMPRIMIR

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Camila ou a mediunidade do povo não-espírita no tempo da penumbra

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  • A mediunidade de Camila
  • Outras manifestações dos espíritos
  • Comentários e anexos à narrativa acerca de Camila
  • Espíritos bons e espíritos maus
  • A Dupla Vista
  • Qualidades dos médiuns/Allan Kardec
  • Qualidade dos espíritos/Allan Kardec
  • “O martirológio dos médiuns”/Léon Denis

Os adeptos convictos da doutrina espírita dizem que, conduzindo a evolução completa dos espíritos à máxima sabedoria, isso equivale por certo à conquista da máxima felicidade.
Todo o tempo que tivermos de passar distantes desse objectivo ideal, será um tempo de penumbra e desconhecimento, por isso, de infelicidade.
Pobres dos mártires da mediunidade, durante séculos tão duramente incompreendidos na posse de uma faculdade que ninguém, nem eles mesmos, sabiam explicar.
Terá sempre o povo de expiar a culpa dos iluminados ausentes, distraídos ou simplesmente inexistentes?
É favor lerem até ao fim.

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NOTA:

Esta narrativa é feita por uma testemunha directa que viveu os factos e que residia muito perto de casa de Camila. Os nomes das pessoas e da localidade onde ocorreram são fictícios, mas podem ser largamente testemunhados (acrescentados até de muitos pormenores) por todos os habitantes da localidade onde tiveram lugar.
Note-se tudo se passava no período em que a doutrina espírita era proíbida pelo regime fascista vigente muito favorável à igreja católica.
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132-C-EA mediunidade da Senhora Camila, uma figura conhecida a nível nacional

No Olival da minha infância havia uma personalidade conhecida em todo o país que nem o Padre Queirós conseguiu destronar: a Senhora Camila ou simplesmente a Camila, também conhecida como “a bruxa do Olival”.
Ela ficava ofendida quando lhe chamavam bruxa, dizia simplesmente que era “médium”. Segundo a cultura espírita um “médium” é uma pessoa que, por faculdades inatas, tem a capacidade de efetuar comunicações com os espíritos, ou seja, com as almas das pessoas que viveram neste mundo e já morreram, e ser veículo dessas comunicações.
A Camila afirmava que punha as suas capacidades mediúnicas ao serviço dos outros. O problema é que fazia disso profissão e, embora não levasse propriamente dinheiro a ninguém, quem lá ia pagava-lhe como queria ou podia. E parece que ganhava o suficiente para viver pois dava para sustentar o marido e um rol de sobrinhos (ela não tinha filhos), embora num nível de vida baixinho, de acordo com a média do Olival.
Atendendo ao nível de vida da altura, à evidente humildade de Camila e de todos os seus familiares, à sua acessibilidade e aos serviços que prestava, o conceito em que era tida não era de pessoa exploradora, dado que – dos seus parcos meios – ainda repartia do que tinha.

No Olival quase toda a gente era religiosa, acreditava em Deus, na existência da alma, na vida para além da morte, no Céu, no Inferno, enfim, em tudo o que dizia a doutrina católica. A questão era saber se as almas do outro mundo podem manifestar-se através de outras pessoas, os “médiuns”, e se podem ter influência na vida dos que cá estão. Ninguém tinha resposta para isso.
O Padre Queirós, pároco ao tempo todo poderoso na localidade que em tudo interferia, era contra a Camila, é claro, apesar de no Novo Testamento, nos três Evangelhos sinópticos – S. Mateus, S. Marcos e S. Lucas – serem referidas diversas situações em que Jesus de Nazaré encontrou pessoas atormentadas por espíritos malignos e ele próprio expulsava os “demónios” ficando as pessoas completamente bem e aliviadas.

NOTA: É provável que naquela época, como ainda acontece nos nossos dias, se atribuíssem à influência dos “demónios” todas as enfermidades cuja causa era desconhecida, principalmente a mudez, a epilepsia e a catalepsia. Portanto, muitas vezes, aquilo que se chamou “expulsão dos demónios” era, de facto, mais uma “cura” que Jesus efectuava.

Por exemplo, S. Mateus, cap. 8, 16 conta-nos:

“À tarde levaram a Jesus muitas pessoas que estavam possuídas pelo demónio. Jesus, com a sua palavra, expulsou os espíritos e curou todos os doentes”.

E sobre a missão dos discípulos, de que os padres devem ser sucessores, diz-nos S. Lucas, cap. 9, 1-2:

“ Jesus convocou os Doze e deu-lhes autoridade sobre demónios e para curar doenças. E enviou-os a pregar o reino de Deus e a curar.”

 

NOTA: A palavra possesso, na sua aceção vulgar, supõe a existência de demónios, ou seja, de uma categoria de seres de natureza má, e a coabitação de um desses seres com a alma, no corpo de um indivíduo. Mas, como não há demónios nesse sentido, e como dois Espíritos não podem habitar simultaneamente o mesmo corpo, também não há possessos, segundo as ideias ligadas a essa palavra. Pela expressão possesso não se deve entender senão a dependência absoluta da alma em relação a Espíritos imperfeitos que a subjuguem.

Os padres da igreja católica, ao serem “ordenados” recebem entre outros poderes o de “expulsar os espíritos malignos que andam no mundo para atormentar as almas”, ou seja, de fazerem exorcismos. São contudo muito raros os padres que exercem esse poder.
Vi na televisão uma reportagem sobre um padre já idoso, que era exorcista, dizia-se como tal e tratava pessoas atormentadas (a reportagem mostrava um caso concreto).
Explicou que além de padre tinha capacidades mediúnicas, que conseguia comunicar com os espíritos que atormentavam as pessoas, e afastá-los, de modo a libertá-las do seu sofrimento.
Dizia-se no Olival que os padres não queriam exorcizar os espíritos que atormentavam as pessoas porque corriam o risco de eles próprios ficarem atormentados, risco que não queriam correr, além de que nem todos tinham capacidades mediúnicas.
Explicava ainda o padre exorcista que havia outros em várias dioceses, escolhidos pelos bispos, que reconheciam as suas capacidades. Tudo dentro da Igreja Católica.
Mas o Padre Queirós negava todos os poderes da Camila, ameaçava quem lá fosse com o Inferno. Contudo as pessoas, mesmo as que não acreditavam, estavam como o espanhol que afirmava:“Yo no me creo en brujas, pero que las hay, las hay”.
Toda a gente tinha medo de ser apoquentado pelas almas do outro mundo e ninguém a incomodava.
A Camila era uma boa pessoa e de boas contas. Era a pessoa mais gorda que nós conhecíamos e ainda parecia maior ao lado do marido, pequeno e franzino. Andava vestida à moda da aldeia daquele tempo, humildemente, com uma saia mais ou menos justa pelo joelho, um avental, sem meias e descalça todo o ano, em casa ou na rua. Dizia que por ser forte não aguentava os sapatos.
Vivia numa casa muito humilde onde tinha construído uma divisão à parte, a que chamava a “casa dos trabalhos”, onde recebia os seus clientes e tinha a ajuda de vários colaboradores seus familiares.
Às vezes na rua ouviam-se vozes estranhas e contava-se que, quando recebia os espíritos, estes falavam com a sua própria voz, pela boca da Camila.
Também ela, por vezes , era atormentada por “Espíritos maus” que não conseguia afastar.
Os familiares procuravam ajudá-la a libertar-se como podiam e, nesse caso, ouvíamos na rua choros e gritos e às vezes até insultos, mas tudo acabava por se resolver.

NOTA: Sabemos que não é este o processo que o Espiritismo aconselha, mas era o que eles, por desconhecimento, faziam. “As práticas do exorcismo, até hoje vigentes no Judaísmo e no Catolicismo, destinam-se a afastar o espírito inferior, a que chamam “demónio”, de maneira agressiva e violenta.
No espiritismo o método empregado é o da persuasão progressiva do obsessor e do obsidiado (o possesso, como se dizia). É o que se chama “doutrinação”, ou seja, esclarecimento de ambos à luz do espiritismo.
Não se usa nenhum ingrediente especial. Emprega-se apenas a prece e a conversação persuasiva. Esclarecido o obsidiado, atinge-se o obsessor, que ficam, por assim dizer, vacinados contra novas ocorrências obsessivas.” (J. H. P.)

As pessoas que frequentavam a casa da Camila eram de vários níveis: se era gente pobre ou da classe média sempre passavam pela venda próxima a comer e a beber qualquer coisa e também a descansar. Vinham de camioneta até à localidade à beira da estrada e depois a pé até ao Olival. Outras vinham em carros de praça. Mas às vezes apareciam grandes carros de luxo de pessoas ditas importantes que não queriam ser vistas e muito menos reconhecidas. A Camila tinha, por isso, alguma influência mesmo fora do Olival.

Num ano em que estivemos nas Termas, ela também lá estava. Logo no primeiro dia, sem nada lhe pedirmos e porque éramos conhecidos e vizinhos, arranjou-nos uma consulta rapidíssima no médico da Termas. Também verificámos que tratava o dono das Termas, do Hotel e das Pensões com o maior à vontade e ia à cozinha buscar comida e petiscos que distribuía pelos seus conhecidos.
Lembro-me de um dia nos ter trazido um pratinho de moelas como grande petisco e de que eu, por ser ainda criança, não gostei nada. O dono das termas e todos os funcionários a tratavam com o maior respeito e cordialidade como se de pessoa íntima se tratasse.
A Camila era conhecida por todo o lado e pôs o Olival no mapa de Portugal. As tais pessoas que lá iam contavam as suas histórias, a razão porque lá iam, os resultados que tinham alcançado, etc. Às vezes contavam coisas mirabolantes.

Lembro-me de uma conversa de um homem dos seus quarenta anos, que vinha sozinho, a quem um tio meu se atreveu a perguntar se ele acreditava mesmo que a Camila tinha o poder de curar. A resposta foi pronta:
– Absolutamente, disse o homem. Absolutamente. De tal modo que farei tudo o que ela me mandar fazer.
O meu tio ficou perplexo. Porquê tanta convicção? Então o homem contou a história.
Disse que a primeira vez que fora à consulta fê-lo como último recurso, num grande desespero. Tinha uma filhinha de seis anos muito doente e já tinha recorrido a vários médicos que não conseguiram curá-la. Mandaram-na para casa “desenganada”, como se dizia, inconsciente, à espera do fim.
Tinha-a deixado nesse estado quando partiu para o Olival. Foi à Camila, ela comunicou com os espíritos, ele contou tudo o que pôde e pediu ajuda. Então o Espírito, através dela, respondeu:
– Não chores mais, a tua menina vai melhorar.
O homem mostrou-se incrédulo e o Espírito continuou:
– Já começou a melhorar. Neste momento está sentada na cama a comer uma tigela de sopas de leite.
O Espírito deu-lhe alguns conselhos de procedimentos a seguir, a consulta acabou e o homem saiu desanimado. Não acreditava no que tinha ouvido e pensava que a filha ia morrer.
Nessa altura não havia telemóveis nem sequer telefone para confirmar os factos. Foi para casa e ao chegar esperava-o a esposa sorridente, com a menina ao colo, que confirmou a história das sopas de leite e até a hora em que tinha acontecido.
Desde então o homem ia com frequência à Camila quando tinha qualquer problema ou precisava de algum conselho, ou mesmo só para agradecer e dizia-o a toda a gente.

Outras manifestações de espíritos

203-O-ExorLá em casa nunca fomos à bruxa ou a um “médium”, nem à Camila nem a qualquer outro lado. Mas a verdade é que tínhamos razões de sobra para acreditar “que havia coisas difíceis de explicar”, como diziam. Só que não queríamos envolver-nos num domínio desconhecido em que havia pessoas sérias e conhecedoras mas também muitos oportunismos e aldrabices, e de que na realidade tínhamos medo.
Lembremo-nos de que quando os meus pais foram morar para a casa pequena e pobre da Rua onde eu nasci, ela foi ainda mais barata por ter fama de ser “assombrada”. E eles bastante se assustaram com essa assombração.
Contavam os meus pais (os dois ouviam e sentiam a mesma coisa ao mesmo tempo) que durante a noite, muitas vezes, começavam a ouvir umas pancadas, como se fossem uns passos, a caminhar pela casa e a dirigirem-se à porta do quarto.
A partir do momento em que as começavam a ouvir ficavam completamente paralisados, incapazes de se mexer e de falar, fosse por medo ou por qualquer outra razão. Os passos entravam no quarto, saltavam para cima da cama e começavam a calcá-los, lentamente, caminhando desde os pés até ao pescoço (nos dois ao mesmo tempo).
Paravam um pedacinho calcando na garganta e, quando eles já estavam cheiinhos de medo de ficar asfixiados, os passos começavam a retirar-se e iam-se embora da mesma forma que tinham chegado. Só quando já não se ouviam, os meus pais voltavam a ser capazes de conversar um com o outro. Ouvi-os contar esta história inúmeras vezes.
Eles tinham muito medo mas nem pensavam em sair daquela casa pois não tinham dinheiro nem alternativa. Limitavam-se a rezar. Passados uns tempos largos os passos deixaram de aparecer.

Segundo Allan Kardec, “as pancadas e os movimentos são para os Espíritos os meios de atestarem a sua presença e chamarem sobre eles a atenção, exatamente como quando uma pessoa bate para advertir que há alguém”. Eles estarão a precisar de ajuda e a solução não é fugir-lhes mas sim ajudá-los, se não houver outro processo, através de um “médium”, por exemplo, para tentar saber o que se passa; se não for possível, pelo menos pela oração, para que encontrem o seu caminho junto dos espíritos de luz.
Como se torna absolutamente claro por esta narrativa, estes factos não foram inventados, lidos num suplemento de fim de semana ou vistos na televisão. Foram vividos pelos meus pais e são diretamente conhecidos por mim, por meus irmãos, por todos os outros membros da família e poderão ser largamente acrescentados por um inquérito local feito junto das pessoa de certa geração.

224-SomosEspíritos bons e Espíritos maus
In “O Espiritismo na sua expressão mais simples”, de Allan Kardec

Acreditou-se que os Espíritos, pelo único fato de serem Espíritos, deviam ter a soberana ciência e a soberana sabedoria: foi um erro que a experiência não tardou a demonstrar.
Entre as comunicações dadas pelos Espíritos, há as que são sublimes de profundeza, de eloquência, de sabedoria, de moral, e não respiram senão a bondade e a benevolência; mas, ao lado disso, há as muito vulgares, levianas, triviais, grosseiras mesmo, e pelas quais o Espírito revela os instintos mais perversos.
É, pois, evidente que elas não podem emanar da mesma fonte e que, se há bons Espíritos, há também Espíritos maus.
Os Espíritos, não sendo senão a alma dos homens, não podem naturalmente tornar-se perfeitos deixando o seu corpo; até que hajam progredido, conservam as imperfeições da vida corpórea; por isso, existem em todos os graus de bondade e de maldade, de saber e de ignorância.
Os Espíritos comunicam, geralmente, com prazer e para eles é uma satisfação ver que não foram esquecidos; descrevem voluntariamente as suas impressões ao deixar a Terra, a nova situação, a natureza das suas alegrias e sofrimentos no mundo dos Espíritos onde se encontram; uns são muito felizes, outros infelizes, alguns mesmo suportam tormentos horríveis, segundo a maneira pela qual viveram e o emprego bom ou mau, útil ou inútil que fizeram da vida.
Ao observá-los em todas as fases da sua nova existência, segundo a posição que ocuparam na Terra, seu género de morte, o seu carácter e seus hábitos como homens, chega-se a um conhecimento senão completo, pelo menos bastante preciso, do mundo invisível, para nos darmos conta do nosso estado futuro e pressentir a sorte feliz ou infeliz que ali nos espera.

205 avulso pp

A Dupla Vista

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  • Explicação de alguns factos considerados sobrenaturais
  • Como é que a Senhora Camila sabia que a menina estava melhor e a tomar as suas sopas de leite?
  • Foi de facto assim e isso prova que estava assistida por um Espírito bondoso. Uma das qualidades dos Espíritos desencarnados é ver à distância e através dos corpos opacos. Também há Espíritos encarnados que têm essa capacidade a que se chama dupla vista. Vejamos do que se trata:

“A Génese, capítulo XIV (Os Fluidos)

22. O perispírito é o traço de união entre a vida corporal e a espiritual: é por ele que o espírito encarnado está em contínuo contacto com os desencarnados; é por ele, enfim, que ocorrem, com o homem, fenómenos especiais que não têm a sua origem na matéria tangível, e que, por essa razão, parecem sobrenaturais.
É nas propriedades e nas irradiações do fluido perispiritual que se deve procurar a causa da dupla vista, ou vista espiritual, que também se pode chamar de vista psíquica, da qual muitas pessoas são dotadas, muitas vezes a contragosto (…).

O perispírito é o órgão sensitivo do espírito, é por seu intermédio que o espírito encarnado tem a percepção das coisas espirituais que escapam aos sentidos carnais.
Pelos órgãos do corpo, a visão, a audição e as diversas sensações são localizadas e limitadas à percepção das coisas materiais; pelo sentido espiritual, elas são generalizadas; o espírito vê, ouve e sente por todo o seu ser o que se encontra na esfera de irradiação do seu fluido perispiritual.

No homem, esses fenómenos são a manifestação da vida espiritual; é a alma que actua fora do organismo e pode ver para além das coisas materiais.

Na dupla vista, ou percepção pelo sentido espiritual, ele não vê pelos olhos do corpo, embora muitas vezes, por hábito, ele os dirija em direção ao ponto que chama a sua atenção. Ele vê pelos olhos da alma, e a prova disso é que vê tudo também com os olhos fechados, e além do alcance da sua visão.
(…)

27. A visão espiritual é necessariamente incompleta e imperfeita nos espíritos encarnados, e, por consequência, sujeita a aberrações. Tendo sua sede na própria alma, o estado da alma deve influenciar as percepções que a visão espiritual dá. De acordo com o seu grau de desenvolvimento, as circunstâncias e o estado moral do indivíduo, ela pode proporcionar, seja durante o sono, seja no estado de vigília:
− A percepção de certos factos materiais reais, como, por exemplo, o conhecimento de casos que se passam a grandes distâncias, os detalhes descritivos de uma localidade, as causas de uma enfermidade e os remédios convenientes.
− A percepção de coisas também reais do mundo espiritual, como, por exemplo, a visão dos espíritos (…).

209 Le Corbu pp

QUALIDADES DOS MÉDIUNS
In: “O que é o Espiritismo” de Allan Kardec

79. A faculdade mediúnica é uma propriedade do organismo e não depende das qualidades morais do médium; ela se nos mostra desenvolvida, tanto nos mais dignos, como nos mais indignos. Não se dá, porém, o mesmo com a preferência que os Espíritos bons dão ao médium.

80. Os Espíritos bons comunicam mais ou menos de boa-vontade por esse ou aquele médium, segundo a simpatia que lhe votam. A boa ou má qualidade de um médium não deve ser julgada pela facilidade com que ele obtém comunicações, mas pela sua aptidão em recebê-las boas e em não ser ludibriado pelos Espíritos levianos e enganadores.

81. Os médiuns menos moralizados recebem também, algumas vezes, excelentes comunicações, que não podem vir senão de bons Espíritos, o que não deve ser motivo de espanto: é muitas vezes no interesse dos médiuns e com o fim de dar-lhes sábios conselhos. Se eles os desprezam, maior será a sua culpa, porque são eles que lavram a sua própria condenação. Deus, cuja bondade é infinita, não pode recusar assistência àqueles que mais necessitam dela. O virtuoso missionário que vai moralizar os criminosos, não faz mais que os bons Espíritos com os médiuns imperfeitos.
De outra sorte, os bons Espíritos, querendo dar um ensino útil a todos, servem-se do instrumento que têm à mão; porém, deixam-no logo que encontram outro que lhes seja mais afim e melhor se aproveite de suas lições.
Retirando-se os bons Espíritos, os inferiores, que pouco se importam com as más qualidades morais do médium, acham então o campo livre. Resulta daí que os médiuns imperfeitos, moralmente falando, os que não procuram emendar-se, tarde ou cedo são presas dos maus Espíritos que, muitas vezes, os conduzem à ruína e às maiores desgraças, mesmo na vida terrena.
Quanto à sua faculdade, tão bela no começo e que assim devia ter sido conservada, perverte-se pelo abandono dos bons Espíritos e, afinal, desaparece.

82. Os médiuns de mais mérito não estão ao abrigo das mistificações dos Espíritos embusteiros; primeiro, porque não há ainda, entre nós, pessoa assaz perfeita, para não ter algum lado fraco, pelo qual dê acesso aos maus Espíritos; segundo, porque os bons Espíritos permitem mesmo, as vezes, que os maus venham, a fim de exercitarmos a nossa razão, aprendermos a distinguir a verdade do erro e ficarmos de prevenção, não aceitando cegamente e sem exame tudo quanto nos venha dos Espíritos; nunca, porém, um Espírito bom nos virá enganar; o erro, qualquer que seja o nome que o apadrinhe, vem de uma fonte má.
Essas mistificações ainda podem ser uma prova para a paciência e perseverança do espírita, médium ou não; e aqueles que desanimam, com algumas decepções, dão prova aos bons Espíritos de que não são instrumentos com que eles possam contar.

83. Não nos deve admirar ver maus Espíritos obsidiarem pessoas de mérito, quando vemos na Terra homens de bem perseguidos por aqueles que o não são.
É digno de nota que, depois da publicação de “O Livro dos Médiuns”, o número de médiuns obsidiados diminuiu muito; os médiuns, prevenidos, tornam-se vigilantes e espreitam os menores indícios que lhes podem denunciar a presença de mistificadores.
A maioria dos que se mostram ainda nesse estado não fizeram o estudo prévio recomendado, ou não deram importância aos conselhos que receberam.

84. O que constitui o médium, propriamente dito, é a faculdade; sob este ponto de vista, pode ser mais ou menos formado, mais ou menos desenvolvido.
O médium seguro, aquele que pode ser realmente qualificado de bom médium, é o que aplica a sua faculdade, buscando tornar-se apto a servir de intérprete aos bons Espíritos.
O poder que tem o médium de atrair os bons e repelir os maus Espíritos, está na razão da sua superioridade moral, da posse do maior número de qualidades que constituem o homem de bem; é por esses dotes que se concilia a simpatia dos bons e se adquire ascendência sobre os maus Espíritos.

85. Pelo mesmo motivo, as imperfeições morais do médium, aproximando-o da natureza dos maus Espíritos, tiram-lhe a influência necessária para afastá-los de si; em vez de se impor, sofre a imposição destes.
Isto não só se aplica aos médiuns, como também a todos indistintamente, visto que ninguém há que não esteja sujeito à influência dos Espíritos.

86. Para impor-se ao médium, os maus Espíritos sabem explorar habilmente todas as suas fraquezas e, entre os nossos defeitos, o que lhes dá margem maior é o orgulho, sentimento que se encontra mais dominante na maioria dos médiuns obsidiados e, principalmente, nos fascinados. É o orgulho que faz se julguem infalíveis e repilam todos os conselhos.
Esse sentimento é infelizmente excitado pelos elogios de que são objecto; basta que um médium apresente faculdade um pouco transcendente, para que o busquem, o adulem, dando lugar a que ele exagere sua importância e se julgue como indispensável, o que vem a perdê-lo.

87. Enquanto o médium imperfeito se orgulha pelos nomes ilustres, frequentemente apócrifos, que assinam as comunicações por ele recebidas e se considera intérprete privilegiado das potências celestes, o bom médium nunca se crê assaz digno de tal favor; ele tem sempre uma salutar desconfiança do merecimento do que recebe e não se fia no seu próprio juízo; não sendo senão instrumento passivo, compreende que o bom resultado não lhe confere mérito pessoal, como nenhuma responsabilidade lhe cabe pelo mau; e que seria ridículo crer na identidade absoluta dos Espíritos que se lhe manifestam. Deixa que terceiros, desinteressados, julguem do seu trabalho, sem que o seu amor-próprio se ofenda por qualquer decisão contrária, do mesmo modo que um actor não se pode dar por ofendido com as censuras feitas à peça de que é intérprete.
O seu carácter distintivo é a simplicidade e a modéstia; julga-se feliz com a faculdade que possui, não por vanglória, mas por lhe ser um meio de tornar-se útil, o que faz de boamente quando se lhe oferece ocasião, sem jamais incomodar-se por não o preferirem aos outros.
Os médiuns são os intermediários, os intérpretes dos Espíritos; ao evocador e, mesmo, ao simples observador, cabe apreciar o mérito do instrumento.

88. Como todas as outras faculdades, a mediunidade é um dom de Deus, que se pode empregar tanto para o bem quanto para o mal, e da qual se pode abusar. Seu fim é pôr-nos em relação directa com as almas daqueles que viveram, a fim de recebermos ensinamentos e iniciações da vida futura.
Assim como a vista nos põe em relação com o mundo visível, a mediunidade liga-nos ao invisível.
Aquele que dela se utiliza para o seu adiantamento e o de seus irmãos, desempenha uma verdadeira missão e será recompensado. O que abusa e a emprega em coisas fúteis ou para satisfazer interesses materiais, desvia-a do seu fim providencial e, tarde ou cedo, será punido como todo homem que faça mau uso de uma faculdade qualquer.

220 arqu p

IDENTIDADE DOS ESPÍRITOS
In: “O que é o Espiritismo” de Allan Kardec

93. Uma vez que no meio dos Espíritos se encontram todos os caprichos da humanidade, não podem deixar de existir entre eles os ardilosos e os mentirosos; alguns não têm o menor escrúpulo de se apresentar sob os mais respeitáveis nomes, com o fim de inspirarem mais confiança. Devemos, pois, abster-nos de crer de um modo absoluto na autenticidade de todas as assinaturas de Espíritos.

94. A identidade dos espíritos é uma das grandes dificuldades do Espiritismo prático, sendo muitas vezes impossível verificá-la, sobretudo quando se trata de Espíritos superiores, antigos relativamente à nossa época.
Entre os que se manifestam, muitos não têm nomes para nós; mas, então, para fixar as nossas ideias, podem tomar o nome de um Espírito conhecido, da mesma categoria da sua; de modo que, se um Espírito comunicar com nome de S. Pedro, por exemplo, nada nos prova que seja precisamente o apóstolo desse nome; tanto pode ser ele como outro da mesma ordem, como ainda um enviado seu.
A questão da identidade é, neste caso, inteiramente secundária e seria pueril atribuir-lhe importância; o que importa é a natureza do ensino, se é bom ou mau, digno ou indigno da personagem que o assina; se esta o subscreveria ou repeliria: eis a questão.

95. A identidade é de mais fácil verificação quando se trata de Espíritos contemporâneos, cujo carácter e hábitos sejam conhecidos, porque é por esses mesmos hábitos e particularidades da vida privada que a identidade se revela mais seguramente e, muitas vezes, de modo incontestável.
Quando se evoca um parente ou um amigo, é a personalidade que interessa, e então é muito natural buscar-se reconhecer a identidade; os meios, porém, que geralmente emprega para isso quem não conhece o Espiritismo, senão imperfeitamente, são insuficientes e podem induzir a erro.

96. O Espírito revela sua identidade por grande número de circunstâncias, patenteadas nas comunicações nas quais se reflectem seus hábitos, carácter, linguagem e até locuções familiares.
Revela-se ainda nos detalhes íntimos em que entra espontaneamente, com as pessoas a quem ama: são as melhores provas; é muito raro, porém, que satisfaça às perguntas directas que lhe são feitas a esse respeito, sobretudo se elas partirem de pessoas que lhe são indiferentes, com intuito de curiosidade ou de prova.
O Espírito demonstra a sua identidade como quer e pode, segundo o género de faculdade do seu intérprete e, às vezes, essas provas são superabundantes; o erro está em querer que ele as dê, como deseja o evocador; é então que recusa sujeitar-se às exigências.
 “O Livro dos Médiuns”, cap. XXIV; Identidade dos Espíritos.
− “Revue Spirite”, 1862, pág. 82: Fait d’identité.)

107-Ch-t

“O martirológio dos médiuns” / Léon Denis
Léon Denis, no capítulo XXV da sua notável obra “No Invisível” disse-nos o seguinte:

O médium é muitas vezes uma vítima e, quase sempre, essa vítima é uma mulher. Na Idade Média qualificavam-na de feiticeira e queimavam-na.
A Ciência actual, menos bárbara, contenta-se em deprimi-la, aplicando-lhe o epíteto de histérica ou de charlatã.
(…)

Quando são necessárias grandes dedicações para reconduzir a Humanidade ao caminho de seus destinos, é muitas vezes na mulher que elas se encontram. O que dissemos das irmãs Fox, poder-se-ia dizer dos médiuns mais notáveis.
Joana d’Arc foi queimada viva, por não ter querido renegar as aparições e vozes que percebia. E não termina com ela o martirológio da mulher médium. Em contraposição a algumas que se têm deixado seduzir pelas vantagens materiais e recorrido à fraude, quantas outras não têm sacrificado a própria saúde e comprometido a existência pela causa da verdade!
Se a mediunidade psíquica é isenta de perigos, como veremos adiante, quando utilizada por Espíritos adiantados, o mesmo se não dá com as manifestações físicas, sobretudo com as manifestações que, repetidas e frequentes, vêm a ocasionar ao sensitivo uma considerável perda de força e de vitalidade. As irmãs Fox esgotaram-se com experiências e extinguiram-se na miséria.
A REVUE SPIRITE, de Abril de 1902, noticiou que os derradeiros membros da família Fox haviam sucumbido, em Janeiro, de frio e de privações.
A Sra. Hauffe, a célebre vidente de Prévorst, foi tratada com o máximo rigor por seus próprios pais e expirou aos 28 anos, ao fim de inúmeras tribulações.
A Sra. d’Espérance perdeu a saúde.
Depois de Home, Slade e Eglinton, a Paladino foi acusada de fraudes voluntárias.

Certos médiuns têm sido submetidos a todas as torturas morais imagináveis, e isso sem exame prévio, sem investigação verdadeiramente séria.
(…)

Em tempos mais recentes, vimos uma médium alemã perseguida com uma sanha brutal e, apesar de respeitáveis testemunhos, sacrificada às exigências de mais tacanho espírito de casta. Pretendia-se o que nas mais altas rodas se apregoava, “pôr um freio a todas as manifestações de um espiritualismo rebelde aos dogmas oficiais”.
Ana Rothe foi detida e recolhida à prisão. A detenção durou oito meses. Durante esse tempo, morreram-lhe o marido e a filha, sem que ela pudesse assistir aos seus últimos momentos. Permitiram-lhe unicamente que fosse ajoelhar sobre seus túmulos, metida entre dois polícias.
Afinal, termina o inquérito; instaura-se o processo. Os depoimentos favoráveis afluem: o professor Koessinger, o filólogo Herman Eischacker e o Dr. Langsdorff presenciaram os fatos e nenhuma fraude conseguiram descobrir.
O Sr. George Sulzer, presidente da Corte de Apelação de Zurique, atesta sua convicção na inocência da Sra. Rothe.
O primeiro magistrado do cantão de Zurique, na ordem judiciária, não receia expor à publicidade suas crenças íntimas, para com elas beneficiar a acusada.
Outros magistrados afirmam a autenticidade dos transportes de flores, que ela obtinha em plena luz. Essas testemunhas viam flores ou frutos desmaterializados reconstituir-se na sua presença, condensar-se em matéria palpável, como um floco de vapor que, pouco a pouco, se transformava e solidificava, no estado de gelo. Esses objectos moviam-se horizontalmente e outras vezes desciam lentamente do forro da sala.

O director da Casa de Detenção em que ela passou os oito meses de prisão preventiva, declarou que o ensino moral dado aos seus detidos nunca se aproximou, como efeito produzido, da impressão causada pelas comovedoras práticas, do carácter mais edificante, feitas pela médium em transe a suas irmãs transviadas.
Ana Rothe não passava, entretanto, de uma simples mulher do povo, sem instrução, sem cultura de espírito.

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OLYMPUS DIGITAL CAMERA.

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