O elemento principal deste artigo é a entrevista dada a respeito do tema em título por Paulo Henrique de Figueiredo, à TV Mundo Maior, cuja transcrição integral se encontra mais abaixo.
Como elemento bibliográfico de muito interesse é anexado um PDF que foi feito a partir de um artigo da Drª Maria das Graças Cabral de 9 de Outubro de 2011, devidamente referenciado, sobre o mesmo tema, com consultas efectuadas nas obras de Alan Kardec e considerandos da autora.>

Uma das ferramentas das doutrinas dogmáticas para amedrontarem as pessoas, mantendo-as prisioneiras do medo do futuro e obrigando-as a obedecer inflexivelmente aos seus mandamentos sacramentais, foi terem inventado o Inferno, ideia completamente inclassificável numa base minimamente racional.
Como poderia uma entidade criadora de seres naturalmente vulneráveis e tantas vezes desprovidos de recursos para enfrentarem as dificuldades naturais do mundo e da vida, estabelecer regras tão cruéis e que conduzissem tais seres aos sofrimentos eternos?
Uns ricos e poderosos, outros pobres e desvalidos, uns saudáveis e corajosos outros fracos e doentes, todos ameaçados desde o nascimento ao risco eminente (sobretudo para aqueles que morrem com poucos anos, ou meses, ou dias de vida!…) todos, sem apelo nem agravo, sujeitos obrigatoriamente à obediência sacramental de permanentes imposições incompreensíveis e de rigores implacáveis das condenações aos sofrimentos mais horríveis, por todos os séculos dos séculos!…
Quem domina os mecanismos dessas obrigações litúrgicas e sacramentais, em proveito próprio, mantendo os cidadãos mais humildes durante toda a vida, à beira do precipício de julgamentos tão infernalmente intolerantes?
Todos sabemos do que estou a falar, a cultura de milhares de milhões de pessoas em todo o mundo permanece prisioneira desse género de perspetivas, seja qual for a denominação religiosa que continua a alimentar e explorar – repito, em proveito próprio – tais abominações sem nome!…
E então o espiritismo que diferença faz se também nos ameaça com o UMBRAL?
O dia a dia de grande quantidade de frequentadores de centros espíritas está habituado ao elevado nível de teorias penalizadoras, da ideias do “carma”, que não pertence de todo ao vocabulário espírita e cuja lógica é absolutamente alheia à cultura respetiva, já para não falarmos de cenas alucinantes de filmes e vídeos “espíritas” que “mostram” cenários alucinantes povoados por fantasmas andrajosos nos “umbralinos” vales dos suicidas!….
A COMPLETA DESMISTIFICAÇÃO da ideia do UMBRAL, pela palavra de Paulo Henrique de Figueiredo
O artigo de hoje de “espiritismo cultura” apresenta a transcrição (o mais fiel possível) de uma palestra já não muito recente de Paulo Henrique de Figueiredo que, coerentemente com pontos de vista plenamente fundamentados já abordados aqui (ver A Revolução Espírita – A teoria esquecida de Allan Kardec, de Paulo Henrique de Figueiredo), clarifica de forma resumida e inexistência no mundo espiritual de lugares reservados para coletivos de Espíritos, seja qual for o seu nível de evolução e, muito menos, a prevalência de sistemas punitivos sistematizados e muito menos dogmaticamente fechados.
A responsabilidade espiritual das pessoas tem carácter individual, e depende unicamente da sua autodeterminação em liberdade e do nível de afirmação da sua consciência moral.
De resto, está ao alcance de todos a adoção de atitudes construtivas e de evoluções positivas.
A todos é acessível o auxílio, através do conselho e da solidariedade dos bons Espíritos que, libertos do orgulho, podemos e devemos solicitar a todo o momento e seja qual for a nossa circunstância específica.
UMBRAL VISÃO ESPÍRITA/ TV mundo maior
Olá amigos da TVMUNDO MAIOR!
Muitas das histórias que ouvimos a respeito do UMBRAL relatam um local de dor e sofrimento. Para falar sobre este assunto e esclarecer alguns pontos nós vamos receber o pesquisador e escritor espírita Paulo Henrique de Figeiredo.
ELEN ARÇA
̶ Paulo seja bem vindo!
Paulo Henrique de Figueiredo:
̶ Eu é que agradeço o convite!
O que é o UMBRAL para o espiritismo?
̶ A grande maioria dos espíritas que participa no movimento espírita foram educados nas religiões cristãs, protestantes e, na maioria, católicos.
Há uma tradição do entendimento do que ocorre na espiritualidade, desde as religiões antigas, de uma semelhança entre o que se vive neste mundo e o que acontece no outro. Um exemplo disso é o que acontece após o julgamento final. A ideia é que os bons vão viver no paraíso e usufruir do prazer. E os maus vão viver no sofrimento. Mas o sofrimento que se imagina é um sofrimento físico.
Na Índia por exemplo, eram concebidos dois infernos, o inferno quente e o inferno gelado, da neve, do sofrimento do frio. O que se tornou clássico na Grécia e na tradição cristã foi o inferno quente.
O espiritismo traz uma inovação ao explicar o que é o mundo espiritual que não tem paralelo nas metafísicas anteriores a ele. E o espiritismo é muito recente, tem apenas 160 anos.
Então, compreender bem o que o espiritismo explica não é muito corrente.
As pessoas normalmente associam o entendimento das descrições, por exemplo, lendo em André Luís a descrição do “umbral”. Imaginam a vivência lá equivalente à que existe aqui no mundo material. Ou seja, um lugar onde se sente muito sofrimento. Seria um paralelo relativo ao inferno.
A questão é que os Espíritos, na obra de Kardec, demonstram que o mundo espiritual é muito diferente do que normalmente se imagina. No mundo material estamos determinados pelo ambiente em que nos encontramos. Se estivermos num ambiente muito quente, não importa quem seja, vai sofrer com o calor. Dos simples aos inteligentes, o bandido ou um santo, vão sentir muito calor, porque no mundo físico o organismo é igual para todos.
Quando formos para o mundo espiritual, as pessoas não percebem que o nosso corpo espiritual, num grau de evolução mediano, tem aparência equivalente à vivência que temos aqui. Muitas das pessoas que desencarnam, nem percebem que morreram, quando regressam ao mundo espiritual!…
A realidade do mundo espiritual é determinada pelo seguinte facto: O que se pensa e se sente altera as condições físicas do corpo espiritual, do perispírito.
Exemplificando: quando mais ligado às questões deste mundo, quanto mais ligado aos instintos, às paixões, às emoções, mais denso fica o perispírito, mais pesado.
E quanto menos apegado, mais desprendido, menos denso e mais leve ficará o seu perispírito.
A densidade do perispírito é que determina a localização do mundo espiritual a que vai estar associado, o nível de sintonia a que o seu perispírito está situado.
A associação que você fez do mundo espiritual com a ideia do inferno, corresponde à ideia de que quem comete erros, vai ser julgado e colocado num local de sofrimento.
O que o espiritismo veio ensinar-nos é de que o local onde estamos ambientados depende do que pensamos e sentimos.
Portanto, quando as pessoas morrem, vítimas de apegos, remorsos, desejos de vingança, sentimentos desses aproximam-nos da condição animal. No mundo espiritual a consequência disso é ter um corpo espiritual denso, pesado.
Esse corpo espiritual mais denso e pesado vai situar-se num ambiente com outras pessoas que se encontram nas mesmas condições.
Muito diferente da ideia do inferno, que é um lugar sem saída, o verdadeiro mundo espiritual como explica o espiritismo é formado por níveis diferenciados – onde se entra e de onde se sai – pela livre escolha de cada um.
Quem muda o seu padrão de pensamento, modifica o nível de sintonia com aquele lugar.
Muitas pessoas que desencarnam, regressando ao mundo espiritual, não têm uma noção do mundo em que se encontram, passam a viver do mesmo modo que viviam no mundo material. Procuram as mesmas coisas e mantêm os mesmos hábitos, as mesmas emoções e o mesmo medo, procurando satisfazer as mesmas necessidades.
Quanto mais medo tiver, mais denso e pesado se torna. Sem modificar essas tendências essas características as entidades espirituais não percebem que estar ali é uma decisão deles mesmo.
Conclusão: no mundo espiritual não existem lugares determinados por Deus para alojar este ou aquele Espírito. Não há nenhum castigo pré-determinado ou condição de sofrimento que seja imposta. Tudo é fundamentado no conceito de liberdade. Cada um vai para onde quer e fica onde quer. E essa decisão é tomada em função do seu padrão de pensamento e sentimento.
E nós encarnados, em sonhos ou desdobramentos, podemos entrar nessas zonas mais densas?
̶ Veja bem: o que significa estar encarnado? Significa que antes de nascermos, estávamos no mundo espiritual. E ligámo-nos à primeira célula que representou o surgimento do nosso corpo físico. Quando as células se vão multiplicando o ser vai-se ligando a cada uma delas, até ao momento que está ligado ao embrião, e depois, quando a criança nasce, a sua consciência como espírito passa a ser determinada pelo cérebro. Passa a pensar pelo cérebro. No momento, os que estamos a conversar aqui e os que nos estão escutando, encontramo-nos na condição de pessoas que pensam pelo corpo. Isso não significa, porém, que não estejamos presentes no mundo espiritual.
Como a nossa consciência está no corpo é como se o nosso perispírito ficasse ligado a ele, mais ou menos na mesma localização. Se vamos dormir, ou no caso do desdobramento como na pergunta que me fez, o corpo dorme, a consciência desliga-se do nosso cérebro e passamos a pensar com o corpo espiritual, com perispírito.
Estando de posse desse perispírito, onde estaremos? Estaremos num ambiente com o qual estivermos em sintonia.
Enquanto encarnados, nós já temos um ambiente espiritual determinado pelos nossos padrões de pensamento.
Há pessoas que ficam preocupadas e que me perguntam:
Para onde vamos depois da morte?
̶ Eu respondo-lhes que a pergunta que me fazem não devia ser essa. Deveriam perguntar-me onde é que estão nesse mesmo momento, agora. Porque onde estamos agora é exatamente aí onde vamos estar depois da morte.
Como espírita, a melhor maneira de entender o espiritismo é reconhecermos que somos espíritos, nós somos espíritos!…
As consequências dos nossos atos, portanto, não são futuras, são imediatas. Todas as decisões que tomamos no nosso quotidiano, elas devem estar voltadas para termos controle das nossas emoções, não é não termos emoções, porque o nosso corpo necessita delas. Necessitamos de medo, de raiva, precisamos de ter fome, necessitamos dos prazeres, tudo isso está ligado à sobrevivência do organismo.
A nossa capacidade, como espíritos conscientes é fazer uso de todas essas emoções e sentimentos e paixões nos limites do necessário.
Se morreu alguém, ficamos tristes com esse facto, e experimentar essa tristeza é extremamente natural, mas isso tem de ir-se extinguindo e recuperarmos esses factos como lembranças do passado.
Ficar a viver essas penas permanentemente no futuro, é uma coisa que não devemos fazer.
Em paralelo podemos observar o comportamento dos animais, que vivem as emoções nas circunstâncias, mas não guardam a lembrança das circunstâncias passadas, nem ficam projetando um futuro ruim.
O Homem, nessas condições, ganha a liberdade e tem que aprender que fazer uso dela, mantendo o equilíbrio, é a grande saída para a saúde, para o bem estar e para a felicidade.
E quanto aos espíritos desencarnados que se encontram num estado mais evoluído, conseguem transitar para essas regiões, passam por alguma orientação? Como se passa isso?
̶ Imagine o seguinte: se você tiver um objetivo determinado, vai onde for necessário para alcançá-lo! Imaginemos que está a fazer certa prova, de corrida de bicicleta, ou de esforço extremo em que tem que rastejar na lama, atravessar o mato. Se esse for um objetivo determinado e que vai terminar em breve, mas que é necessário para conquistar algo, isso deixa de ser um sofrimento.
Os bons espíritos, contrariamente ao que certas pessoas imaginam, não ficam como se fosse num céu, muito contentes por estarem num lugar bom.
Os bons espíritos vão onde podem ser úteis!
Têm por isso a capacidade de alterar a densidade do seu organismo, e essa alteração de densidade não representa de forma nenhuma uma situação de mal estar. Fazem isso com a intenção de estarem próximos daqueles que vão ajudar.
Se estiverem invisíveis podem inspirar alguém, mas se forem surgir a um outro espírito em estado de igualdade, conseguem ser muito mais tocantes na sua mensagem e no seu conselho.
Os bons espíritos, portanto, em muitos momentos das suas missões, passeiam pelo mundo espiritual do mais denso para menos denso, sempre tentando levar a sua mensagem, o seu entendimento. Fazendo com que os espíritos que estão ali despertem.
O que eles não podem é agir pelo outro. Se alguém estiver, portanto, no mundo espiritual, passando por uma situação de dificuldade, o espírito bom pode aproximar-se e sugerir que o outro mude o seu modo de pensar, que seja otimista, que peça ajuda.
Porque o que mais dificulta um Espírito no mundo espiritual é o orgulho. É o não pedir ajuda, é o não reconhecer que precisa de recomeçar, e esse é o primeiro passo para a mudança.
É recomendável vibrar ou fazer preces pelos espíritos que se encontram nessas regiões?
̶ Não há a mínima dúvida!
Todos os espíritos vivem num ambiente que se estabelece de tal forma que o que se pensa e sente determina o seu corpo e o ambiente em que ele está. Se tiver alguma ligação afetiva com alguém, seja qual for a condição em que se encontre, o espírito que procura ajudar pode ter acesso à sua mente.
Se pensar em alguém que se foi deste mundo, com tristeza, com pesar excessivo, estaremos a transmitir-lhe angústia.
Se a energia transmitida for otimista, vai dar tudo certo, vai superar, esse é o pensamento que temos que transmitir-lhe. Porque ao receber esse pensamento, ele vai sentir um impulso, uma força, uma luz que o motivam. A soma dessas motivações mais a vontade dele vai possibilitar-lhe ultrapassar a condição em que se encontra.
Portanto, é sempre útil, estabelecer esses pensamentos, para aqueles que nós conhecemos e também para os que não conhecemos.
Mas sempre numa atitude de otimismo, boa vontade.
Se formos espectadores de uma corrida, e estimularmos com entusiasmo, aplausos e frases de encorajamento aqueles que começam a fraquejar, ajudamo-los a prosseguir. Passa-se o mesmo com os espíritos, sobretudo os que estiverem com dificuldades. Os sentimentos otimistas e estimulantes vão chegar-lhes como um impulso.
A pessoa que transmite essa ajuda é realmente como alguém que também se encontra a competir enfrentando-se a si mesmo naquela prova, tentando superar os seus limites. De resto, todos os bons espíritos já passaram por situações semelhantes!
Enfrentaram as dificuldades e superaram-nas pelo seu próprio esforço. Os que estimulam terceiros têm sempre o argumento principal que é o de poderem dizer que já estiveram numa situação semelhante e conseguiram superá-la.
Muito obrigada Paulo!
̶ Eu é que agradeço!

PDF de um artigo da Drª Maria das Graças Cabral de 9 de Outubro de 2011, devidamente referenciado, sobre o mesmo tema, com consultas efectuadas nas obras de Alan Kardec e considerandos da autora:
+ UMBRAL E NOSSO LAR
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